sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A salvação dos batistas: Dias Áureos X Dias Roxos e Entenebrecidos

Sou batista a quase vinte anos, desda minha conversão. Logo no início da minha carreira cristã apaixonei-me pela fé batista. Sua firmeza doutrinária fundamentada na Palavra, seu posicionamento perante o mundo e sua história construída com paixão por Deus, por sua Palavra e por Missões.
Hoje continuo com a mesma paixão, e lutarei para que seu combustível não se apague. Mas muito me preocupa a nossa história daqui para frente. Já não somos mais como a vinte, trinta anos atrás. A pouco se falava de crise de identidade entre os batistas, assim como fala pastor Jadai neste artigo, tempos "entenebrecidos". 
Será que nosso futuro caminha para o mesmo das denominações historicas da Europa? Será que perdemos o foco e a visão de igreja?
Penso, que quanto mais o tempo passa, mais nos parecemos com a igreja póspostólica, que  através do séculos que se tornou uma instituição de poder e prestígio, onde o ineteresse é voltado para si, num mundo cada vez mais carente de Deus.
Os dias áureos eu tento vivê-los e estendê-los para uma outra geração, mas será que a igreja deseja isso? Se a propria liderança prega o que condenou no passado, busca o que considerava mundana, fala ao povo o que eles desejam ouvir. Então como pensar num futuro difente, em que possamos ver gerações que amem sua história, suas convicções e herança? 
Ainda somos respeitados como uma denominação de tradição séria, que busca viver a verdade bíblica. Mas até quando? Não sei. Talvez um dia saberei.

Nelmo Monteiro.  


Segue o artigo escrito por Jadai Silva de Souza:



Dias Áureos x Dias Roxos e Entenebrecidos

1) Parece que os áureos dias do triunfalismo batista que herdamos de nossos colonizadores (com todo o respeito aos diversos grupos missionários que aqui semearam o evangelho é inegável que trouxeram
também suas culturas e subculturas travestidas de doutrina) estão ficando roxos e entenebrecidos por uma realidade não tão grande, nem melhor e nem maior como se dizia (um tio que trabalhou no parque
gráfico da finada JUERP e dizia com orgulho trabalho no maior parque gráfico da América Latina).

2) Parece que os aúreos dias do behavorismo também presente na prática, ensino e conduta das igrejas batistas onde as pessoas eram medidas por seus comportamentos e esteriótipos estão ficando roxos e
entenebrecidos pelos encantos do hedonismo com todas às suas matizes do culto ao corpo à busca desenfreada pela prosperidade econômica. O pior foi a adoção do jeitinho brasileiro para administrar os recursos e instituições e a famigerada opção de fazer caixa vendendo propriedades!

3) Parece que os dias áureos de uma estrutura denominacional monolítica estão ficando roxos e entenebrecidos pela descentralização do poder, o esvaziamento dos plenários, o desinteresse dos mais jovens tendo em vista outras formas mais rápidas, dinâmicas e atraentes da vida não denominacional(falo com um desses que está fora do circuito oficial da CBB e CBESP). E digo aos irmãos depois de algum tempo em Niterói já não agüentava mais o calor, a desorganização, e a falta de objetividade.

4) Parece que os dias áureos da CBB vividos por aqueles que tinham mais sede pelo poder do que pelo serviço e celebrados ainda pelos mais saudosistas que testemunharam obreiros sendo alijados, tendo suas
vozes cassadas, seu nomes esquecidos nas juntas e comissões, seus artigos rejeitados nas publicações oficiais estão ficando roxos e entenebrecidos pela apatia, pelo desinteresse, pela omissão e pelo abandono dos que poderiam carregar o bastão para uma próxima geração.
Para minha surpresa ao chegar ao Caio Martins nesse ano havia sido nomeado para a comissão de assessoria jurídico parlamentar, mas tive pedir ao presidente que me substituísse por tinha que retornar a São Paulo. Fiquei ali em meu posto até o fim da sessão da tarde de sexta-feira!

5) Parece que os dias áureos das igrejas bem doutrinadas e dos crentes comprometidos com sua igreja local também já estão roxos e entenebrecidos com um fenômeno já bem pesquisado pelas universidades
que possuem cursos de ciências da religião que é o trânsito religioso onde se observa uma migração de crentes para diferentes igrejas e algumas se especializaram em pescar ou atrair membros inclusive das
nossas igrejas que por sua vez enfraqueceram as classes de preparação para o batismo e a já quase extinta EBD.

6) Parece que os dias áureos da classificação das igrejas batistas como tradicionais, históricas ou da CBB também já estão roxos e entenebrecidos porque não podemos mais ser definidos desta maneira.
Falar em ordoxia batista ou ortopraxia é conversa para poucos. Pensar num modelo de culto ou pelo menos numa forma litúrgica parece blasfêmia. Em que pese sabermos das diferenças culturais e regionais
sabemos que a coisa anda feia. Preguei algum tempo atrás numa das igrejas fundadas por Salomão Ginsburg onde alguém tocou um Shofar antes do período dos cânticos. Não me segurei e quando em deram a palavra disse: Espero que o irmão ao tocar o chifre não estava chamando a presença de Deus, porque ele já estava aqui em nosso meio desde dois ou três de nós nos reunimos em seu nome.

7) Parece que os dias áureos da modernidade estão ficando roxos e entenebrecidos pela forte pancada da pós-modernidade. Eu sei que existem controvérsias a respeito de estarmos ou não vivendo uma era de
transição, mas estamos sentindo cada vez mais a influência da ausência de valores absolutos, desrespeito as autoridades, descrédito das instituições, e nessa relativização da verdade também se constrói essa
pecha de não importa a placa de igreja. Daí muitos de nosso povo estão sucumbindo ora por nossa incompetência ora pela curiosidade mórbida e a atração do novo e do milagreiro.

8) Parece que os dias áureos das denominações estão ficando roxos e entenebrecidos pela forte realidade sugerida já alguns anos nas famosas obras literárias denominadas mega trends. Algumas igrejas locais com seus modelos e marketing conseguindo arrebanhar por objetivos ou resultados mais parceiros ou franquias do que as denominações. Alguns dos que não foram bem acolhidos ou compreendidos
fizeram seus vôos ou carreiras solos e não querem mais retornar ao ninho. Outros estão a caminho disso e podem nem estarem apercebidos disso.

9) Parece que os dias áureos de uma igreja batista que se contentava com dois cultos dominicais e um culto no meio de semana já estão roxos e entenebrecidos por novas agendas. Há uma tendência muito forte de realização de apenas 1 culto por domingo. Orar e estudar a Bíblia no meio da semana como diz um amigo é só para os heróis. Enquanto isso a concorrência faz culto ou show todos os dias em diversos horários. Uma pequena igreja no RJ onde fui batizado trocou seu culto de quarta-feira por luta de judô e um dos meus irmãos é membro lá.
Perguntei a ele como a igreja reagiu a essa mudança e ele pragmaticamente me respondeu nossa igreja nunca teve conversões no culto de quarta feira e agora com o judô batizamos 3 pessoas.

10) Parece que os dias áureos de obreiros batistas vocacionados e abnegados estão ficando roxos e entenebrecidos com a visão cada vez mais secular e profissional do ministério pastoral. As tensões entre
criar a família com dignidade(para os casados) e pastorear as igrejas com dedicação de tempo integral estão mais presentes hoje do que há alguns anos passados. Eu sei que os obreiros são dignos de seu
sustento, mas são preocupantes as estimativas que em cada 10 pastores batistas no Brasil 7 dividem seu tempo entre a igreja e outra atividade secular. Até porque em nossas casas de ensino teológico
pouco se fala em pastor bivocacionado e nem todos têm formação que poderá lhe permitir atuar em duas frentes com competência e dedicação.

Salvar a denominação batista é uma tarefa de Deus e das pessoas que a compõe. Creio que Deus tem todo interesse que isso aconteça, mas a pergunta é estamos conscientes de que ela precisa ser salva? Salvar do que? Salvar de quem? Este processo de resgate ou de restauração passará por mudanças e já temos sentido e visto como as mudanças são lentas e difíceis em nosso meio. Criamos GTs e eles se perpetuam por anos a fio fazendo estudos, trazendo relatórios e quando a coisa bate em algum tabu ou paradigma mais polêmico nada muda. Esse processo leva muito tempo e não pode ser feito apenas por uma geração. As bases que são as igrejas locais estão muito distantes do processo à medida que
não podem enviar seus líderes ou representantes. Tomamos decisões com numero tão pequeno de pessoas que não poderiam jamais representar a vontade da maioria.

Jadai Silva de Souza