sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Pecados via Internet

Isaltino Gomes Coelho Filho

Apresentado aos casais da Igreja Batista do Cambuí, em 11 de fevereiro de 2006


Há uma idéia corrente na sociedade de que tudo que é moderno é bom. O conceito de muita gente é que a ciência é a grande libertadora, a grande redentora, e assim, tudo o que ela nos traz é bom. A cultura brasileira recebeu forte influxo do positivismo, que via a ciência como a libertadora da humanidade. Entre nós este conceito, então, é mais forte. Está no nosso imaginário.

Entre as modernidades contemporâneas está a Internet. Ela nos facilita muito a vida, tanto em pesquisas, como em comunicação. Mas há a face oculta dos perigos e da podridão. Podridão mesmo. Este é o termo. Este tema brotou de uma reportagem da revista “Veja” sobre traição virtual. Não li na revista, mas li trechos no site. Não sei se li a reportagem toda, portanto. Mas li as cartas na edição seguinte da revista. Uma mulher se sentiu muito ofendida, e um homem teve problemas sérios para consertar o relacionamento conjugal, depois do envolvimento virtual. A grande ofensa para a mulher é que ela foi trocada por nada. Não foi por uma figura de carne e osso, outra mulher que competisse com ela. Ela poderia se comparar com outra mulher, mas como se comparar com uma figura abstrata? A irritação é compreensível. Quando uma pessoa é comparada com outra ou é trocada por outra, isto é injusto, mas tem base. Mas quando se é trocado por nada, como a pessoa se sente?
O fato de que não há envolvimento físico pode aplacar a consciência da pessoa e lhe dar a idéia de que não está fazendo nada de errado. Mas será que é assim?


1. A QUESTÃO BÁSICA: O QUE É UM RELACIONAMENTO VIRTUAL?

Sucintamente: é um relacionamento entre duas pessoas que não se conhecem, que por vezes estão em cidades e até em estados diferentes, mas que desfrutam de certo grau de intimidade em confidências, palavras, sentimentos e expressões de anseio. Algumas vezes as pessoas usam um nick, um pseudônimo, o que aumenta a sensação de distanciamento pessoal. O que, obviamente, é um equívoco. Há o distanciamento físico, mas não o pessoal, no sentido de ser emocional. Li sobre uma pessoa que estava fazendo terapia porque só conseguia se relacionar virtualmente. Um caso de pessoa bloqueada para relacionamentos reais, com gente de carne e osso, face a face. Só isto é suficiente para se saber que os relacionamentos virtuais são campo propício à expressão de patologias. Os relacionamentos reais também o são, mas os virtuais têm um agravante: o ocultamento da pessoa e o falseamento de sua personalidade real. Quem se relaciona virtualmente, nem sempre sabe quem é a pessoa com quem se envolve. Sabe apenas quem a pessoa tenta aparentar. E nem sempre se apresenta como realmente é, mas como gostaria que a outra pessoa o visse. Lembro de uma charge em que dois cães apareciam teclando em um computador e um dizia ao outro: “O bom da Internet é que ninguém que somos cães”. Na realidade, não se sabe nada de real da pessoa. Muito cão moral se comunica pela Internet.

O relacionamento virtual, do ponto de vista psicológico, pode evidenciar uma dificuldade de adaptação ao mundo real e pode ser uma fuga para um mundo imaginário. Manifesta certa imaturidade e medo de relacionamentos reais, se a pessoa depende exclusivamente deles ou depende muito deles.
No caso da busca de relacionamentos virtuais, daquela pessoa que entra em chats com desconhecidos, o que está em foco não é a Internet em si. É a busca de envolvimento emocional sem comprometimento. Para a pessoa, o que vier é lucro. No fundo, reside em tudo isto a busca de aventura no desconhecido. Aqui, além de aventura no desconhecido, com uma pessoa desconhecida. Um mundo de ilusão.


2. COMO OS PECADOS VIRTUAIS APARECEM

A pessoa entra em um portal, como IG, UOL, Terra, e é convidada para as salas de bate papos. Ela pode escolher o tipo de assunto e a faixa etária. Aí, é aquela pasmaceira de generalidade e abstrações. Mas há salas sobre sexo, e nas quais se podem trocar até fotos e marcar encontros. Qualquer pessoa medianamente informada sabe que é perigoso se abrir com desconhecidos e marcar encontros com tais pessoas. Vez por outra lemos de casos de violência até mesmo com morte, de encontros assim marcados.

Há os chamados torpedos. Não são Internet, mas seguem a mesma linha. Um dia desses recebi mensagem da empresa da qual tenho celular dizendo que tiraria meu nome de não sei exatamente o quê, acho que de uma lista para namoros, pois havia seis meses que eu não mandava torpedos. Num país com regras mais definidas e leis obedecidas, eu poderia abrir um processo contra a empresa. Nunca me inscrevi para conversar com desconhecidos nem pedi que alguém fizesse isso por mim. No meu cadastro consta que sou casado. Não seria difícil encontrar um advogado que me orientasse. Ou querem me obrigar a ter um caso ou querem me forçar a relacionar-me com pessoas estranhas. E é uma violação de minha privacidade, dar meu número para desconhecidos me ligarem.

Os torpedos são mensagens que se enviam para desconhecidos. Há os que se enviam para conhecidos, sem que estes queiram, com propostas que eles não querem. Uma jovem se queixava das insinuações que um homem casado lhe fazia, enviando-lhe torpedos. Alguns em linguagem que ninguém poderia dizer coisa alguma, mas que ela sabia ter duplo sentido. Havia alguns bem claros, como declarações de amor. A pessoa não tem coragem de falar frente a frente e fala eletronicamente. Ou se insinua e recua, caso não obtenha sucesso, ou vai em frente, caso veja o sinal verde. Mas em qualquer caso, age com má fé e dolo. É, desculpando o termo grosseiro, uma “cantada”, algo que um homem casado não deveria passar em uma outra mulher, principalmente sendo os dois crentes em Jesus.
Temos um caso de desonestidade, e até mesmo de violência. Porque a pessoa entra no espaço particular de outra, sua caixa de correspondência eletrônica, ou seu celular, com uma mensagem que a pessoa não quer. Isto é pior que um spam. É uma agressão ao direito da pessoa em não querer se envolver com outra. Isto também é um relacionamento virtual.

O pecado virtual já começa com boa dose de mentira. Ninguém diz: “Sou baixinho, careca, pernas tortas”. Apresenta-se como sarado, tipo Rambo. Ninguém diz: “Sou tão feio que até minha mãe relutou em aceitar”, mas procura apresentar-se como um Brad Pitt ou como uma Luiza Brunet. Vai-se para um relacionamento em que a verdade sobre si é omitida e só partes fantasiosas que se deseja exaltar para impressionar são apresentadas. Um mundo irreal. Pessoas sadias aceitam-se como são e não precisam mentir a seu próprio respeito. Pessoas sadias têm relacionamentos reais com pessoas reais.


3. A QUESTÃO DA PORNOGRAFIA

Há um outro aspecto, no mundo da Internet: a busca de pornografia. Os sites pornográficos são os mais acessados e rendem uma fortuna aos seus donos. Junto com a pornografia vem a pedofilia. A pedofilia floresce por causa da liberdade da pornografia. A Internet, neste sentido, é fonte de lixo. Reportagem do Estadão, 7 de fevereiro de 2006, traz uma reportagem sobre o Orkut e como a pedofilia é explorada em seu ambiente. Um pedófilo, inclusive, se orgulhava de que nunca seria descoberto. Também lemos, nesta semana, sobre uma quadrilha desbaratada, que traficava cocaína pela Internet. Bem, deixemos isto de lado. Traficar se faz em qualquer meio. Mas é para mostrar que há certa ingenuidade de presumir que todo avanço tecnológico é bom. Por trás do avanço tecnológico está um usuário humano. Havendo um usuário humano haverá a presença do pecado. “De fato, tenho sido mau desde que nasci; tenho sido pecador desde o dia em que fui concebido” (Sl 51.5). O homem é um rei Midas às avessas. Tudo que Midas tocava virava ouro. Tudo que o homem toca é estragado pelo pecado. A Internet é um desses casos. E a pornografia é o exemplo mais forte.

A pornografia é um caso sério e complexo. É uma doença moral e psicológica. É perversão de um sentimento divino, o amor sexual. Ela se torna um vício muito forte por mexer com instintos primários. Quando uma pessoa busca pornografia, já decidiu que vai se prostituir ou prevaricar ou adulterar. Ainda não decidiu com quem e não lhe veio a oportunidade. Mas já desceu ao nível instintual.

A pornografia tomou grande impulso com a coisificação do homem e da mulher, com o rebaixamento do sexo do nível do amor para o nível do instinto, e para o aviltamento das relações humanas. Numa sociedade em que o homem foi reduzido a animal, não é de se estranhar que isto aconteça. Vivendo sob instintos, a pessoa procura o sexo por instinto, não por afeto e ternura. Há casais que buscam a pornografia, juntos, na rede. Outros há que alugam filmes pornográficos. Um homem argumentou, certa vez, que fazia isto para apimentar seu casamento. Ele devia estar se tornando impotente, ou a mulher tornando-se desinteressada, ou o casamento ia muito mal. Se um casal precisa de pornografia para se desejar, o casamento está mal. Não há amor e os dois precisam de estímulos. Como sexo e amor não são a mesma coisa, quem precisa de estímulo sexual, se não tem um problema fisiológico ou orgânico, está com problemas emocionais ou morais. Ou, mais facilmente, não ama. Onde há amor genuíno não haverá pornografia. Ela avilta a pessoa e a torna inapreciável. Uma vez vi num caminhão: “Não existe mulher feia. É você que não bebeu bastante”. “Não existe parceiro desinteressante ou estimulante. É você que não se drogou pornograficamente o suficiente”, pode-se dizer, na mesma toada.

A busca de sexo na Internet é problemática. Mostra uma dificuldade psicológica séria: o desejo sexual foi esvaziado de amor. Quem busca erotismo na Internet desperta os seus instintos, mas adoece psicologicamente. E maltrata o casamento. Se a única maneira de desejar o cônjuge é através da pornografia, a coisa vai mal. O melhor estímulo é a manutenção do romance, da continuidade do relacionamento amoroso, gentil e respeitoso. Quem é desejado por causa de pornografia, não é amado. É coisificado.

Não use a Internet em busca de aventuras ou em busca de pornografia. Se você usa, está com problemas. Alguém me disse que isto é normal, tão normal como a fome. Ora, se uma pessoa está com fome, e a única maneira de fazê-la comer é cobrindo os pratos com véus, tocando música sensual, descobrindo os pratos devagarinho, com luzes sobre eles, a pessoa tem problemas sérios. Se a única maneira de despertar interesse sexual é desta maneira, algo está errado.


4. POR QUE ISTO ACONTECE?

Por que acontece isto, de pessoas buscarem pornografia e aventuras sexuais pela rede?

Primeiro, porque é pecador, perverte as boas coisas. Li que a energia nuclear poderia fazer com que se plantasse num dia e se colhesse em outro. Mas a energia nuclear nos trouxe o fantasma da destruição final. O álcool é medicinal e carburante, mas pode ser usado para embriaguez. A pessoa perverte os bons dons divinos e as boas descobertas humanas. Não é a coisa em si, mas o uso que fazemos dela. Lembre-se que você é um pecador, mas é um pecador salvo, regenerado pelo sangue de Cristo. Evite rebaixar-se. Evite aprisionar-se. “Cristo nos libertou para que nós sejamos realmente livres. Por isso, continuem firmes como pessoas livres e não se tornem escravos novamente.” (Gl 5.1, BLH) pode se aplicar aqui, sem violentar o texto.

Segundo, porque a pessoa perdeu noção de balizas. Quem é cristão não o será apenas nos cultos nem somente em público, mas em todas as áreas da vida. Devemos lembrar do Salmo 101.3: “Não porei coisa torpe diante dos meus olhos” (VR). Cabe aqui o cântico infantil: “Cuidado, olhinho, com o que olha”. Se Davi tivesse se portado com classe, com educação, e desviasse os olhos quando viu Bate-Seba se banhando, teria evitado muitos problemas. Uma mulher se banhar não é torpe, mas olhá-la ocultamente é. Cuidado com o olhar indevido.

Terceiro, por uma limitação teológica. “Ninguém está vendo”, pensa a pessoa. Deus está vendo. Nossa conduta deve ser por causa dele.
Quarto, por imaturidade. A pessoa idealiza um cenário, para se estimular. Mas isto exige muita dose de devaneio, de imaginação, de fuga do real. Fantasias podem ajudar, mas se a pessoa se refugia sempre na fantasia, é imatura.

Mais questões poderiam ser aventadas aqui, mas corremos o risco de repetição, pois muitas delas se tangenciam. No entanto, uma pode ser levantada: falta a mente cristã. Falta pensar como um cristão. E como um cristão pensa, perguntaria alguém? Há um cérebro diferente, quando a pessoa se converte? Não, o cérebro é o mesmo, mas o universo de valores deve mudar. Lembremos do texto de Paulo aos colossenses: “Vocês foram ressuscitados com Cristo. Portanto, ponham o seu interesse nas coisas que são do céu, onde Cristo está sentado ao lado direito de Deus. Pensem nas coisas lá do alto e não nas que são aqui da terra. Porque vocês já morreram, e a vida de vocês está escondida com Cristo, que está unido com Deus. Cristo é a verdadeira vida de vocês, e, quando ele aparecer, vocês aparecerão com ele e tomarão parte na sua glória. Portanto, matem os desejos deste mundo que agem em vocês, isto é, a imoralidade sexual, a indecência, as paixões más, os maus desejos e a cobiça, porque a cobiça é um tipo de idolatria. Pois é por causa dessas coisas que o castigo de Deus cairá sobre os que não lhe obedecem. Antigamente a vida de vocês era dominada por esses desejos, e vocês viviam de acordo com eles. Mas agora livrem-se de tudo isto: da raiva, da paixão e dos sentimentos de ódio. E que não saia da boca de vocês nenhum insulto e nenhuma conversa indecente. Não mintam uns para os outros, pois vocês já deixaram de lado a natureza velha com os seus costumes e se vestiram com uma nova natureza. Essa natureza é a nova pessoa que Deus, o seu criador, está sempre renovando para que ela se torne parecida com ele, a fim de fazer com que vocês o conheçam completamente.” (Cl 3.1-10, BLH).

CONCLUSÃO

Evite usar a Internet para defraudar os outros, mentindo, insinuando-se, forjando situações que você sabe que não são corretas. Evite despir-se da condição de cristão e deixar-se dominar pelos instintos. Lembre-se que a pornografia é uma droga emocional e psíquica, e que livrar-se dela exigirá muito. Lembre-se, acima de tudo, que ao sentar-se diante de um computador você continua sendo um cristão.
O computador é moderno. A Internet é moderna. A cruz é antiga. Mas a cruz deve balizar o uso do computador. Não tenha a mente do mundo. Tenha a mente da cruz.

http://www.isaltinogomes.com/2010/01/pecados-via-internet-2/

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Você Tem Somente uma Vida Preciosa

John Piper


A Televisão é uma Parte Imensa Dessa Vida?
Se todas as variáveis são iguais, a sua capacidade de conhecer a Deus talvez diminuirá profundamente em proporção a quanto tempo você assiste à televisão. Há várias razões para isto. Uma das razões é que a televisão reflete nossa cultura em sua maior trivialidade. E uma dieta permanente de trivialidade arruína a alma. Você se acostuma com ela. Começa parecendo normal. Aquilo que é tolo se torna divertido. E o divertido se torna agradável. E o agradável se torna satisfatório à alma. E, no final, a alma que é criada para Deus, desceu ao ponto de satisfazer-se comodamente em trivialidades.

Talvez isto não seja percebido, porque, se tudo o que você conhece é a nossa cultura, não pode perceber que há alguma coisa errada. Quando se lê apenas revistas em quadrinhos, não é de se estranhar que não haja qualquer boa literaturaem casa. Quem vive onde não há estações, não sente saudades das cores do outono. Quem assiste a cinqüenta comerciais de televisão, todas as noites, talvez esqueça que existe uma coisa chamada sabedoria. Na maior parte de sua programação, a televisão é trivial. Raramente ela inspira grandes pensamentos ou fortes sentimentos com vislumbres de grandes verdades. Deus é a Realidade absoluta e suprema, que modela todas as coisas. Se Ele obtém algum tempo de transmissão, é tratado como uma opinião. Não há reverência. Não há tremor. Deus e tudo que Ele pensa a respeito do mundo está ausente da televisão. Alienadas de Deus, todas as coisas se encaminham a ruína.

Pense em quão nova é a televisão. Nestes 2.000 anos de história desde a vinda de Cristo, a televisão tem moldado apenas os últimos 2,5% dessa história. Nos outros 97,5% do tempo desde a vinda de Jesus, não havia televisão. E, durante 95% desse tempo, não havia rádio. O rádio entrou em cena no início dos anos 1900. Portanto, durante 1.900 anos de história cristã, as pessoas gastaram seu tempo livre fazendo outras coisas. Perguntamos a nós mesmos: o que elas fizeram? Talvez liam mais. Ou conversavam mais sobre as coisas. Com certeza, elas não foram bombardeadas com trivialidades prejudiciais à alma, transmitidas durante todo o dia.

Você já perguntou: “O que poderíamos fazer que é realmente de valor, se não assistíssemos a televisão?” Observe: não estamos refletindo apenas sobre o que a televisão nos faz com seus rios de vacuidade, mas também sobre o que ela nos impede de fazer. Por que você não faz uma experiência? Faça uma lista do que você poderia realizar, se usasse o tempo que gasta assistindo a televisão e o dedicasse a outra coisa. Por exemplo:

1. Você poderia ser inspirado a uma grande realização por aprender sobre a vida de Amy Carmichael, uma mulher nobre e piedosa, e sobre a coragem dela ao servir sozinha às crianças da Índia. De onde vêm esses sonhos radicais? Não vêm de assistirmos à televisão. Abra sua alma para que ela seja dilatada por meio de uma indescritível vida de consagração a uma grande causa.

2. Você poderia ser inspirado pela biografia de um homem de negócios, ou de um médico, ou de uma enfermeira, para obter a habilidade de abençoar outros com a excelência de uma profissão dedicada a um alvo mais elevado do que qualquer coisa que a televisão recomenda sem jamais incluir a Jesus.

3. Poderia memorizar o oitavo capítulo da Carta aos Romanos e penetrar nas profundezas da percepção de Paulo quanto à pessoa de Deus. E, ainda, descobrir o precioso poder da memorização das Escrituras em sua vida e seu ministério. Ninguém pode avaliar o poder que viria a uma igreja, se todos os seus membros desligassem a televisão por um mês e dedicassem o mesmo tempo à memorização das Escrituras.

4. Poderia escrever uma poesia simples ou uma carta para um parente, um filho, um amigo ou um colega, expressando profunda gratidão pela vida deles ou anelos em relação a alma deles.

5. Poderia fazer um bolo ou um prato especial para os vizinhos e entregá-lo com um sorriso e um convite de virem à sua casa, para se conhecerem mutuamente.


Portanto, existem muitas razões para se tentar um jejum de televisão ou simplesmente afastarmo-nos dela por completo. Não temos possuído um aparelho de televisão por trinta e quatro anos, exceto por três anos, quando estivemos na Alemanha e o usamos para aprender o idioma. Não existe virtude inerente nisto. Menciono-o apenas para provar que podemos criar cinco filhos sensíveis à cultura e informados biblicamente sem a televisão. Eles nunca se queixaram disso.

Na verdade, freqüentemente se admiram com o fato de que pessoas conseguem encontrar tanto tempo para assistirem a televisão.

Extraído do Livro: Penetrado pela Palavra, editora FIEL.

Fonte: http://www.editorafiel.com.br/det_dev.php?id_dev=19

Ó Deus, preciso de ti!

“Como sou infeliz! Quem me livrará deste corpo que me leva para a morte?” (Romanos 7.24)


Eu sou muito fraco. Não consigo, sozinho, vencer as tentações que me cercam. A minha carne não pode ser domesticada. Ela precisa ser crucificada. A cruz de Cristo precisa lavrar a sua morte, pois toda a sua inclinação é contra a vontade de Deus. Os seus impulsos são inimizade contra Deus. Os meus desejos, muitas vezes, me arrastam para aquilo que é mal. Desejo fazer o bem, mas não tenho poder para efetuá-lo.

Tenho tristeza em pecar contra Deus, mas acabo entristecendo o Espírito, fazendo, muitas vezes, concessão ao pecado. Não há nenhum bem em mim. Meu coração é enganoso. Meus pensamentos, muitas vezes, não estão cativos à obediência de Cristo. Minhas mãos, nem sempre, estão puras para fazer a obra de Deus. Meus pés, nem sempre, andam por veredas retas. Meus lábios, às vezes, são fontes amargas. Meus olhos, não poucas vezes, são um laço para a minha alma. Ó miserável homem que eu sou. Se Deus tirar a sua mão de sobre mim um minuto, pereço. Se Ele me entregar aos meus caprichos, naufrago. Por isso, com todas as forças da minha alma, elevo aos céus o meu clamor: Ó Deus, eu preciso de ti.

Sim, eu sei que esta é também a sua confissão. Foi a confissão de Davi, de Isaías, do apóstolo Paulo, de Agostinho e de tantos outros, que ao olharem para a santidade de Deus e para a sujeira de seus pecados reconheceram que precisavam desesperadamente do perdão divino. Não podemos, portanto, diante deste fato, endurecer o nosso coração. Não podemos viver do modo digno de Deus sem sermos lavados pelo sangue do Cordeiro imaculado. Se nos afastarmos de Deus, que é luz, as trevas inundarão a nossa vida. Se perdermos a intimidade com Deus o pecado prevalecerá em nós e contra nós e nos destruirá. O pecado é maligníssimo. Ele é o pior de todos os males que pode nos atingir, pois o pecado nos afasta de Deus e longe de Deus só há trevas, vergonha e opróbrio. Deus é o autor da vida, Ele dá vida, Ele restaura a vida, mas longe Dele só reina a morte.

A maior necessidade da nossa vida é estar perto de Deus. É quando vivemos na luz que percebemos a sujeira do pecado. Quando experimentamos a alegria do conhecimento de Cristo, vemos que os prazeres do mundo são lixo. Quando contemplamos a face do Pai é que conhecemos a doçura do Seu amor e a alegria indizível de ser santo como Ele é santo.

O segredo de uma vida vitoriosa, pura, santa e feliz é viver na constante e total dependência de Deus. Sem Jesus nada podemos fazer. Não temos forças em nós mesmos para vencer a batalha contra o pecado. Se tirarmos os olhos de Jesus afundaremos num pântano lodacento.

É tempo de nos arrependermos dos nossos pecados. É tempo de chorarmos pelos nossos pecados. É tempo de abandonarmos os nossos pecados.
É tempo de nos voltarmos para Deus de todo o nosso coração, com pranto, com jejuns, com o coração rasgado, clamando:
Ó Deus, precisamos de ti!

Rev. Hernandes Dias Lopes

A Cabana - Abrigo para a Alma ou Barraco Teológico?

(Publicado originalmente no site www.sbpv.org.br)

Resenha de A Cabana, de William Paul Young.
Publicado em 2008 pela Editora Sextante, tradução de The Shack, publicado por Windblown Media em 2007.

Esta resenha incorpora elementos do original inglês e da tradução em português, visando destacar elementos positivos e negativos do livro. Seu título ficará evidente ao longo da leitura. Um subtítulo poderia ser Jó contra Mackenzie Allen Phillips.

A Cabana já vendeu mais de dois milhões de cópias mundo afora, está em listas de mais vendidos no Brasil, e foi um sucesso surpreendente, inclusive para seu autor, que em entrevistas declarou que seu propósito original era instruir seus próprios filhos (6). É, assim, um fenômeno literário sem paralelo nos dias atuais e deu ao seu autor uma projeção mundial que poucos autores conseguem no seu primeiro livro. Também em suas entrevistas Paul Young (ele prefere ser chamado pelo segundo nome) indica que há um quê de auto-biográfico no livro (“Eu sou Mack e Mack é eu”). Presumo que, como ele não perdeu nenhum de seus filhos, apenas suas lutas espirituais estejam refletidas na difícil peregrinação de Mack (cf. a contra-capa da EI). Apesar da informação constante em seu site sobre uma série de tragédias experimentadas por sua família maior, o leitor, e particularmente o resenhista, se pergunta se e como um filho de missionários poderia identificar-se com o filho de um bêbado e espancador doméstico. Talvez essas informações surjam quando Young escrever de novo ou algum biógrafo descubra e relate sua vida emocional (as cartas enviadas ao seu site www.windrumors.com).

Para não estragar a leitura dos que ainda pretendem ler o livro, farei um mini-resumo. Mack, o personagem central, é casado com Nan e eles têm cinco filhos. Durante um passeio, a filha mais nova, Missy, é raptada e, depois de investigações, dada por morta, ainda que seu corpo jamais tenha sido encontrado. Esse evento precipita em Mack uma violenta crise que ele chama de A Grande Tristeza. Depois de algum tempo, recebe um bilhete convidando-o a voltar à cabana onde vestígios de sangue de sua filha tinham sido achados. Relutante, resolve ir ao local onde tem um encontro com ninguém menos do que o Deus trino. O restante do livro narra os diálogos entre Mack e as três pessoas da Trindade, bem como a transformação interior desse homem. O final, relativamente previsível, relata o retorno de Mack à sua família e as mudanças experimentadas como resultado de seu encontro com Deus.

Pontos Positivos

É uma leitura agradável e, em vários pontos, comovente. Como pai de três filhas pude sentir, vicariamente, a dor de Mack (o personagem central da narrativa). Embora ocasionalmente previsível, a narrativa flui bem e os diálogos são verossímeis, apesar da situação em que ocorrem ser fictícia. Fazer teologia em forma de diálogo é uma aventura, mas Mack lida com perguntas que professores de teologia têm que responder diariamente na sala de aula e em conversas informais em torno de uma pizza ou churrasqueira. Talvez por isso o livro me agradou (e desafiou) tanto.

O livro lida com uma questão universal, a do sofrimento inexplicado, e das reações emocionais e espirituais a ele. Na verdade, o livro tem o mérito de lutar para restabelecer o lugar adequado para Deus diante de situações inexplicadas e, para a maioria dos leitores, inexplicáveis.

Nos diálogos entre o Deus trino e Mack, Young procura basear no caráter de Deus tanto a compreensão do problema do sofrimento quanto uma eventual solução para as angústias que ele nos causa. Young se esforça para desfazer uma dicotomia muito comum, mesmo entre cristãos, que apresenta Jesus como um super-herói bonzinho e o Pai como um velho zangado e violento (cf. p. 174, EP). O mérito dessa tentativa será discutido abaixo.

Um outro ponto positivo é a afirmação de que Jesus está conosco no sofrimento e por isso não é necessário que nos entreguemos à sensação de abandono por Deus que o sofrimento normalmente traz. Infelizmente, a tradução em português omitiu uma frase importantíssima na p. 104 (p. 114 da EI). Mack diz a Jesus: Jesus? − sussurrou com a voz embargada. − Eu me sinto muito perdido. Uma mão se estendeu e ficou apertando a sua. − Eu sei, Mack. Mas não é verdade. (Eu estou com você e eu não estou perdido.) Lamento se a sensação é essa, mas ouça com clareza: você não está perdido. A frase entre parênteses não consta do texto português e isso é lamentável, pois é ela que dá sentido às palavras de Jesus a Mack.

Ainda que não possa endossar todo o capítulo 11, o diálogo ente Mack e Sofia, foi um dos melhores pontos do livro. Foi uma paráfrase intrigante da metáfora bíblica do barro criticando o oleiro pela forma que recebeu.

Pontos Negativos

Revelação - Creio que a primeira crítica a ser feita ao livro é que, veladamente, o livro menospreza a Bíblia como revelação e a teologia como um engessamento das maneiras criativas em que Deus Se revela e Se relaciona com as pessoas. Nesse aspecto, A Cabana se alinha com as ênfases da chamada igreja emergente contra a natureza proposicional da revelação de Deus e contra a teologia cristã histórica como um obstáculo ao conhecimento de Deus. (Curiosamente, tal como outros autores “emergentes”, ele se vale de proposições para atingir seu intento).

Trindade - A maneira pouco convencional em que o autor representa Deus dá lugar a uma imprecisão teológica com respeito às relações entre as pessoas da Trindade e sobre as funções de cada um na obra da redenção. Outro problema é a excessiva centralização do mundo na pessoa que sofre, como se a função maior de Deus fosse prover o consolo e a solução dos problemas causados pelo sofrimento.

Não me parece que Young seja culpado de modalismo (a crença de que Deus não existe simultaneamente em três pessoas, mas é uma só pessoa divina que se manifesta em três modos. Na verdade, Young deixa bem claro que não crê isso, quando, na p. 91, Papai afirma: “Não somos três deuses e não estamos falando de um deus com três atitudes . . . Sou um só Deus e sou três pessoas, e cada uma das três é total e inteiramente o um."

Um problema relacionado a isso é que, apesar de esforçar-se por preservar a doutrina da Trindade, Young foi longe demais na identificação entre as três pessoas, afirmando que a Trindade encarnou (p. 89, EP) e chega extremamente perto do patripassianismo (a idéia de que o Pai sofreu na cruz) quando, nas pp. 95 e 96 (EP), Mack vê e toca as cicatrizes nas mãos de Papai.

Ficção ou Teologia? – Apesar de dizer que não está preocupado em comunicar doutrina, Young vende sua doutrina sobre Deus como se fosse verdade, a despeito de contrariar claramente a Palavra revelada de Deus. Por mais que os leitores sejam “abençoados” com a leitura, e as cartas enviadas ao site de Young deixam isso bem claro, precisamos entender que o próprio Deus não aprova que se fale o que não é verdadeiro a respeito dEle (cf. Jó 42.7). Falar coisas erradas sobre Deus vai, eventualmente, minar o consolo que os leitores recebem ao ler o livro, uma vez que Deus não está obrigado a fazer com todos os sofredores o que fez nesta ficção sobre Mack e seu sofrimento.

Salvação - Traços de inclusivismo permeiam o livro (cf. a história da princesa índia e a implicação de que a confiança no Grande Espírito seria suficiente para resolver o problema da tribo com Deus). Há, aqui e ali, indícios da idéia de que o sofrimento de Missy foi redentivo para Mack, e que Deus só ministra perdão quando nós perdoamos quem nos ofende (p. 208, EP). Além disso, Young sugere que não há uma punição eterna ao dizer (p. 109, EP): Não sou quem você pensa, Mackenzie. Não preciso castigar as pessoas pelos pecados. O pecado é o próprio castigo, pois devora as pessoas por dentro (ênfase minha).

Igreja – O autor se apresenta, em seu site e em entrevistas, como uma pessoa desigrejada e feliz por isso. A sensação de Mack quanto à igreja como fria, maçante e desinteressada, sedenta de poder e sem real razão de existir, também se alinha com o movimento da igreja emergente. O desdém evidenciado no livro para com seminários apresenta uma caricatura de instituições que, em sua maioria, tem preocupações genuínas com o bem estar emocional e espiritual de seus alunos e das comunidades em que estão inseridas.

Aconselhamento – Young concentra a atenção no sofrimento causado pela morte de Missy, sem dar muita atenção à maneira negativa com que Mack lida com sua vida familiar como criança e adolescente. Seu ódio e desprezo pelo pai colorem (ou descolorem) toda sua vida, social e religiosa. Interessantemente, é por causa desse problema que Deus Se manifesta a Mack como uma mulher negra (quase dá para ouvir um sotaque da Louisiana no original inglês, exceto quando Papai conversa sobre teologia; aí as palavras simples dão lugar ao jargão teológico), seguindo a linha de que é preciso aceitar a situação do “aconselhado” do que confrontá-lo com ela. Parece-me que o que Mack mais precisava era de uma figura paterna para quebrar seu estereótipo, mas Young só lhe dá isso no final do livro, quando “Papai” aparece como um homem de meia idade, depois que o problema de Mack com seu pai foi “resolvido”.

Preocupa-me o fato de Papai dizer para Mack (p. 83): “Quero curar a ferida que cresceu dentro de você e entre nós”, referindo-se à angústia e à “depressão” causada pela morte de Missy, quando na realidade a ferida vinha desde os tempos da adolescência, em relação ao pai. No final do livro esta também é tratada, mas de um modo que vai comprometer a teologia total da obra (ver abaixo).

Frases Teologicamente Significativas (i.e., certas) em A Cabana

Dentre as afirmações teológicas dignas de elogio, na p. 88 Young descreve a tentativa humana de entender Deus. “O problema é que muitas pessoas tentam entender um pouco o que eu sou pensando no melhor que elas podem ser, projetando isso ao enésimo grau, multiplicando por toda a bondade que são capazes de perceber . . . e depois chamam o resultado de Deus.”

No diálogo entre Deus e Mack, Papai diz: “O importante é o seguinte: se eu fosse simplesmente. Um Deus e Uma Pessoa, você iria se encontrar nesta criação sem algo maravilhoso, sem algo que é essencial. E eu seria absolutamente diferente do que sou” (Cap. 6, p. 91, EP). Ao que Mack retruca: “E nós estaríamos sem . . .? ” Ao que Papai responde: “Amor e relacionamento. Todo amor e relacionamento só são possíveis para vocês porque já existem dentro de Mim, dentro do próprio Deus . . . Eu sou o amor.” Ponto para Young por destacar esta importantíssima percepção quanto à necessidade da Trindade para que 1 Jo 4.8 e 16 sejam verdadeiros.

Na p. 84 (EP) há uma boa frase. Papai afirma: A verdadeira paternidade faria muito mais falta que a maternidade. Isso reflete a situação atual em nosso mundo, quando a figura do pai é notável pela sua ausência em tantos lares (às vezes por escolhas das próprias mães).


Outra frase que merece citação aparece na p. 173 (EP) − A graça não depende da existência do sofrimento, mas onde há sofrimento você encontrará a graça de inúmeras maneiras.
Frases Teologicamente Imprecisas (i.e., erradas) em A Cabana

Nós estávamos lá, juntos(p. 86 EP), indica mais claramente a questão do patripassianismo no livro. Young efetivamente afirma a presença física no Pai na cruz, que ele confirma na p. 151 (EP).


Outra frase imprecisa é: Quando nós três penetramos na existência humana . . . (p. 89, EP). Embora eu queira dar a Young o benefício da dúvida, é difícil fugir da idéia de que ele entende que a Trindade encarnou, quando as Escrituras deixam claro que foi somente o Verbo, a eterna segunda pessoa da Trindade, que adentrou em carne a história humana.

Na p. 90 (EP; p. 100 EI), Papai afirma: Ele (Jesus) foi simplesmente o primeiro a levar isso até as últimas instâncias; o primeiro a colocar minha vida dentro dele, o primeiro a acreditar no meu amor e na minha bondade, sem considerar aparências ou consequências. Ainda que o contexto imediato tenha o mérito de apontar para a dependência de Jesus em relação a Deus durante Sua encarnação, a frase pode (e talvez tenha sido escrita com o propósito de) indicar que outros chegaram ou chegarão ao mesmo status de Jesus.

O livro propõe muito claramente a malignidade da hierarquia e a rejeição de todo o conceito de autoridade, inclusive na igreja e na família. Na p. 145 (EI), Jesus afirma a Mack que Seu relacionamento com o Pai é de mútua submissão. Ao falar isso, Young está questionando abertamente a doutrina da hierarquia funcional dentro da Trindade, expressa especialmente no que tange à obra terrena do Filho (cf. 1 Co 11.3). Ao afirmar essa submissão recíproca (pois Sarayu também é incluída), Young pretende afirmar, no mínimo, algo que as Escrituras jamais afirmam; na verdade, ele parece partir do seu conceito de relacionamentos humanos e exaltar essa submissão recíproca da família (marido, esposa e filhos) a uma dimensão celestial. Nesta observação citei a EI porque, para complicar essa questão ainda mais um pouco, a EP (p. 132) traz: Os relacionamentos verdadeiros são marcados pela aceitação, mesmo quando suas escolhas não são úteis nem saudáveis. A palavra submission, usada na EI, foi trocada por aceitação, que tornou a frase teologicamente mais certa, mas acabou por disfarçar o perigo teológico, pois o contexto fala do relacionamento entre Jesus e cada um de nós. No inglês fica a sugestão que Jesus se submete a nós para manter a autenticidade do relacionamento.

Sarayu afirma que na Trindade não existe uma cadeia de comando, apenas um círculo de relacionamento (p. 111, EP). De novo, Young parece jogar pela janela o conceito de uma hierarquia funcional proposto por Jesus no Discurso do Cenáculo, Jo 14 − 16) ao especular sobre um relacionamento essencial na Trindade. Young faz uma associação da hierarquia com a matriz (cf. The Matrix, p. 113; EP) e sugere que hierarquia é um produto da Queda. Isso não é novo, mas agora está sendo dito de maneira ainda mais sutil do que, por exemplo, o movimento feminista vem dizendo por várias décadas.

Criamos vocês, os humanos, para estarem num relacionamento de igual para igual conosco (palavras de Sarayu, p. 114, EP). A não ser que eu tenha lido de maneira muito errada a minha Bíblia, jamais estaremos no mesmo plano que Deus. Ele será eternamente adorado e eu eternamente adorador. Somos salvos para viver para louvor da Sua glória (Ef 1.12), não para partilhá-la de igual para igual.

Submissão não tem a ver com autoridade, e não é obediência (palavras de Jesus, p. 133 EP). Uma vez mais, o conceito bíblico da perfeita obediência do Verbo encarnado ao Pai que O enviou é varrido para baixo do tapete da igualdade ontológica. Parece que Young não gosta das tensões bíblicas, só daquelas que ele mesmo propõe.

Por amor. Ele escolheu o caminho da cruz, onde a misericórdia triunfa sobre a justiça por causa do amor (p. 151, EP). Esta frase é extremamente perigosa, pois toma o texto de Tiago 2.13 e faz com que ele diga que Deus optou por fazer Seu amor superar Sua justiça. Isso não é apenas uma distorção do sentido tencionado por Tiago − que a prática da misericórdia [como evidência da fé] impede que os cristãos sejam disciplinados por Deus − mas uma idéia muito errada sobre Deus, a de que haja conflitos entre Seus atributos ou entre as pessoas da Trindade. A imprecisão é suficiente para fazer a frase parecer bíblica e, por isso, seu efeito é duplamente nocivo.


p. 164 (EP). Jesus diz a Mack: “. . . nosso destino final não é a imagem do Céu que você tem na cabeça. Você sabe, a imagem de portões adornados e ruas de ouro. O Céu é uma nova purificação do universo, de modo que vai se parecer bastante com isso aqui.” Young sugere a mesma teoria escatológica de N. T. Wright, teólogo britânico que, ano passado, apareceu no Fantástico propondo uma escatologia minimalista em que o novo universo a ser criado por Deus é apenas uma Terra glorificada. No parágrafo seguinte Young coloca nos lábios de Jesus o que Robert Gundry sugeriu num artigo (“The New Jerusalem: people as place, not place for people”, Novum Testamentum 29: 3 [Julho 1987]: 254-264), que Ap 21 apenas apresenta a Igreja como se fosse um lugar. Esta resenha não é o lugar para discutir tais interpretações, mas fica aqui o registro de como elas me desagradam. A idéia de que o Céu não é um lugar, apenas um estado de espírito ou um relacionamento, limita seriamente o poder transformador da escatologia bíblica e vai diretamente contra o ensino dAquele que disse a Seus discípulos, “vou preparar-vos lugar” (Jo 14.2 – ênfase minha).

pp. 168-169 (EP) – Depois de dizer a Mack que ele, Jesus, não é cristão (acho que Young deve ler de novo o livro de Atos, para entender que Jesus define o que é ser cristão), Jesus continua: Os que me amam estão em todos os sistemas que existem. São budistas ou mórmons, batistas ou muçulmanos, democratas, republicanos . . . Tenho seguidores que foram assassinos e muitos que eram hipócritas. Há banqueiros, jogadores, americanos e iraquianos, judeus e palestinos. Não tenho desejo de torná-los cristãos, mas quero me juntar a eles em seu processo para se transformarem em filhos e filhas do Papai, em meus irmãos e irmãs, em meus amados. Não vou comentar sobre essa frase. Deixarei que ela seja comparada a uma frase da muito citada musa dos neo-evangélicos, Madre Teresa de Calcutá: “Minha missão não é transformar qualquer pessoa em cristão; quero ajudar o hindu a ser o melhor hindu que puder, o muçulmano a ser o melhor muçulmano que puder, o budista a ser o melhor budista que puder, e o cristão a ser o melhor cristão que puder”. Tire o leitor a sua conclusão.

Quando se trata da vida cristã, Young enfatiza corretamente que ela se trata de um relacionamento (cap. 14) e não de regras. Mas dizer isso é ser muito reducionista, pois Aquele que disse desejar nosso amor disse também “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”. A frase dos coríntios (não de Paulo) que Sarayu cita (p. 189, EP), Todas as coisas são legítimas, ganha o mesmo efeito errado que tinha na boca dos libertinos de Corinto e sugere um antinomianismo que parece latente em todo o capítulo.

Considerações Finais

Por que A Cabana está vendendo tão bem? Talvez porque a maioria dos cristãos atuais queira comida pré-processada e pasteurizada, e não queira se dar ao trabalho de (ou talvez simplesmente não saibam como) colher nas Escrituras e preparar, pelo estudo pessoal e a comparação com o pensamento cristão histórico, sua própria alimentação. Ou, para mudar a metáfora para algo mais semelhante ao livro, queiram apenas colocar um Band-Aid na ferida, ao invés de lidar com a infecção. Por outro lado, talvez porque descreva emoções e sensações espirituais de maneira poética e ocasionalmente bela, às vezes desenvolvendo metáforas bíblicas, às vezes usando de maneira criativa a imaginação (como no cap. 15).

Gostaria de estabelecer um contraste com outro livro de ficção que faz sucesso a muito tempo e fez muito sucesso recentemente, O Senhor dos Anéis. Ambos são obra de ficção, e ambos contêm idéias corretas, idéias erradas e idéias duvidosas. A diferença é que J. R. R. Tolkien não pretendia que seu livro mudasse os conceitos que as pessoas têm sobre Deus. Queria ilustrar o conflito histórico entre o bem e o mal e a esperança de que um Rei legítimo venha a dar fim a tal conflito. Pode comunicar (e em meu entender de fato o fez) um papel errôneo a figuras femininas (uma mariolatria velada) mas não afirma que devemos rejeitar a visão cristã sobre a volta do Rei em favor de uma devoção à Sua mãe terrena.

Paul Young quer divulgar essa “nova” visão de Deus (que envolve uma nova visão de vários outros conceitos cristãos) e seus leitores aceitaram, ingenuamente, essa proposta, que mistura verdade e erro de modo particularmente perigoso. Esses leitores que dizem ter obtido uma visão nova (e melhor) de Deus deveriam lembrar que ninguém, na história da Igreja, foi 100% herético ou teve intenções declaradas de destruir a fé cristã. Assim mesmo, suas idéias incorretas contaminaram e enfraqueceram a Igreja por séculos e séculos.

Assusta-me o fato de que ninguém menos que Eugene Peterson, professor de espiritualidade no Regents College, e talvez o pastor da maioria dos pastores evangélicos do Brasil, tenha feito um endosso tão entusiasmado de A Cabana.

Felizmente os editores em português não o colocaram na capa, como os editores norte-americanos, ou teríamos uma epidemia de má teologia em nossas mãos. Ler e entender A Cabana exige discernimento e coragem para nadar contra uma correnteza de imprecisão teológica que vai demorar algum tempo para ser percebida pela igreja em geral e, é pena dizer, por muitos daqueles que a conduzem.

Que fazer, então? Igrejas e escolas evangélicas deveriam banir esse livro? Queimá-lo em praça pública? Isso faria mais pela venda de A Cabana do que as centenas de entrevistas ao vivo e pela internet que seu autor tem dado nos últimos doze meses. Este livro precisa ser lido por pessoas maduras na fé e discutido com os leitores menos avisados. É preciso que professores e pastores leiam, releiam e analisem o livro. Nem tudo é lixo em A Cabana, o que o torna mais arriscado como leitura devocional (hábito que está se propagando da Austrália ao Zimbábue). Alguns dos que escrevem para o site de Paul Young parecem ter relegado a revelação de Deus nas Escrituras a um plano muito inferior, menos pessoal e atraente, e certamente muito menos prático e consolador que o livro do canadense.

Sem dúvida há aí o efeito lemingue, que deverá passar dentro de algum tempo. Eu não concordo com a afirmação de Eugene Peterson (capa da EI) de que A Cabana tenha o potencial de fazer por nossa geração o que O Peregrino de John Bunyan fez pela sua. Daqui a trezentos anos, quem sabe, os méritos desse endosso poderão ser discutidos.

Cautela, Bíblia aberta, e várias leituras são essenciais para entender este livro e para utilizá-lo mais do que como entretenimento pessoal. Ainda estamos nos estágios iniciais de A Cabana no mundo de fala portuguesa. É preciso que os que se importam com a verdadeira saúde espiritual da Igreja corram o risco de contestar (na maior parte) e concordar (em alguns momentos) com William Paul Young e sua cabana. Ela está sendo vendida como um abrigo para a alma, mas está mais para “barraco” teológico. Carlos Osvaldo Cardoso PintoReitor – Seminário Bíblico Palavra da Vida Young substitui a palavra juízo (krivsi~ no grego), usada por Tiago, pela palavra justiça (que seria a palavra grega dikaiosuvnh). É um exemplo perfeito de citação mal feita, quer por ignorância, quer por tendenciosidade.

Young substitui a palavra juízo (krivsi~ no grego), usada por Tiago, pela palavra justiça (que seria a palavra grega dikaiosuvnh). É um exemplo perfeito de citação mal feita, quer por ignorância, quer por tendenciosidade.

Articulista
Carlos Osvaldo C. Pinto
Pr. Carlos Osvaldo é Bacharel em Teologia, Mestre e Doutor em Teologia. Professor de Línguas Originais e Teologia. É reitor do SBPV e Coordenador do Mestrado em Teologia e Exposição Bíblica. Autor de diversos livros de Teologia e Línguas Originais.

Fonte: http://www.vidanova.com.br/teologiadet.asp?IDTEO=109

A Maldição do Homem Moderno

A.W. Tozer

Existe uma maldição antiga que permanece conosco até hoje — a disposição da sociedade humana de ser completamente absorvida por um mundo sem Deus.

Embora Jesus Cristo tenha vindo a este mundo, este é o pecado supremo dos incrédulos, o qual levou o homem a não sentir — nem sentirá — a presença dEle que permeia todas as coisas. O homem não pode ver a verdadeira Luz, tampouco pode ouvir a voz do Deus de amor e verdade.

Temos nos tornado uma sociedade “profana” — completamente envolvida em nada mais do que os aspectos físico e material desta vida terrena. Homens e mulheres se gloriam do fato de que são capazes de viver em casas luxuosas, vestir roupas de estilistas famosos e dirigir os melhores carros que o dinheiro pode comprar — coisas que as gerações anteriores nunca puderam ter.
Esta é a maldição que jaz sobre o homem moderno — ele é insensível, cego e surdo em sua prontidão de esquecer que existe um Deus. Aceitou a grande mentira e crença estranha de que o materialismo constitui a boa vida. Mas, querido amigo, você sabe que o seu grande pecado é este: a presença eterna de Deus, que alcança todas as coisas, está aqui, e você não pode senti-Lo de maneira alguma, nem O reconhece no menor grau? Você não está ciente de que existe uma grande e verdadeira Luz que resplandece intensamente e que você não pode vê-la? Você não tem ouvido, em sua consciência e mente, uma Voz amável sussurrando a respeito do valor e importância eterna de sua alma, mas, apesar disso, tem dito: “Não ouço nada?”
Muitos homens imprudentes e inclinados ao secularismo respondem: “Bem, estou disposto a agarrar minhas chances”. Que conversa tola de uma criatura frágil e mortal! Isto é tolice porque os homens não podem se dar ao luxo de agarrar as suas chances — quer sejam salvos e perdoados, quer sejam perdidos. Com certeza, esta é a grande maldição que jaz sobre a humanidade de nossos dias — os homens estão envolvidos de tal modo em seu mundo sem Deus, que recusam a Luz que agora brilha, a Voz que fala e a Presença que permeia e muda os corações.
Por isso, os homens buscam dinheiro, fama, lucro, fortuna, entretenimento permanente ou apego aos prazeres. Buscam qualquer coisa que lhes removam a seriedade do viver e que os impeça de sentir que há uma Presença, que é o caminho, a verdade e a vida.
Eu mesmo fui ignorante até aos 17 anos, quando ouvi, pela primeira vez, a pregação na rua e entrei numa igreja onde ouvi um homem citando uma passagem das Escrituras: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim... e achareis descanso para a vossa alma” (Mt 11. 28,29).
Eu era realmente pouco melhor do que um pagão, mas, de repente, fiquei muito perturbado, pois comecei a sentir e reconhecer a graciosa presença de Deus. Ouvi a voz dEle em meu coração falando indistintamente. Discerni que havia uma Luz resplandecendo em minhas trevas.
Novamente, andando pela rua, parei para ouvir um homem que pregava, em um cantinho, e dizia aos ouvintes: “Se vocês não sabem orar, vão para casa, ajoelhem-se e digam: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador”. Isso foi exatamente o que eu fiz. E Deus prometeu perdoar e satisfazer qualquer pessoa que estiver com bastante fome espiritual e muito interessado, a ponto de clamar: “Senhor, salva-me!”
Bem, Ele está aqui agora. A Palavra, o Senhor Jesus Cristo, se tornou carne e habitou entre nós; e ainda está entre nós, disposto e capaz de salvar. A única coisa que alguém precisa fazer é clamar com um coração humilde e necessitado: “ó Cordeiro de Deus, eu venho a Ti; eu venho a Ti!”

Fonte: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=203#

Unindo-se à Contra-Revolução Cristã

Albert Mohler Jr.

Dr. Albert Mohler é o presidente do Southern Baptist Theological Seminary, pertencente à Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos; é pastor, professor, teólogo, autor e conferencista internacional, reconhecido pela revista Times como um dos principais líderes entre o povo evangélico norte-americano. É casado com Mary e tem dois filhos, Katie e Christopher.


Através do séculos, os cristãos têm se deparado com esta pergunta inquietante: como devemos viver como cristãos em uma cultura secular? Essa pergunta atinge o âmago do discipulado cristão, do significado do evangelho e dos desafios da igreja neste século, assim como nos tempos anteriores.

Chamada do mundo como um “povo especial” e encarregada de ser sal e luz, em mundo rebelde, que está nas trevas, a igreja tem lutado perpetuamente com o mandamento de estar “no mundo” e não ser “do mundo”. Infelizmente, o mundo tem influenciado a igreja mais do que esta o tem influenciado.
A realidade de nossa vocação e o caráter revolucionário da fé cristã são mais evidentes no Sermão do Monte. Dirigindo-se aos seus discípulos, Jesus falou com franqueza e amabilidade, estabelecendo a norma do reino de Deus em meio a uma cultura rebelde e ímpia.

Os cristãos têm lutado com o significado do Sermão do Monte desde que aqueles primeiros discípulos ouviram o seu Senhor apresentar esses ensinos naquela colina pastoril. A dificuldade se resume nisso: há alguma maneira de escapar do significado evidente do sermão? Aqueles que cobiçam em seu coração cometem realmente adultério? Devemos mesmo arrancar os olhos que nos fazem tropeçar e cortar as mãos que pecam? Devemos sempre oferecer a outra face do rosto e andar a segunda milha, amar nossos inimigos e bendizer os que nos maldizem?

As palavras de Jesus penetram como o bisturi de um cirurgião até aos aspectos mais profundo do discipulado cristão. Vivemos dessa maneira?
Com toda a honestidade, a igreja não pode relegar o Sermão do Monte a uma época posterior, limitar sua aplicação aos primeiros discípulos e evadir-se de seus ensinos por meio de alegoria e de explicação infundada. À semelhança de litigantes à procura de brechas em um contrato, alguns cristãos têm se empenhado por achar uma maneira de abrandar o impacto do Sermão do Monte e estabelecer um modo de discipulado mais cômodo e fácil.

No entanto, por mais que o mudemos, não podemos escapar do Sermão do Monte, pois temos apenas um Senhor, e o sermão é a sua manifestação para a igreja, sua noiva e seu corpo.

O sermão deve ser entendido como um todo, e suas várias seções não devem ser removidas de seu contexto. Jesus começa com bênçãos — as Bem-Aventuranças —, passa aos imperativos morais e, depois, nos ensina a Oração do Pai Nosso e os aspectos do discipulado na igreja.

Jesus não estava transmitindo um novo legalismo. A salvação é sempre pela graça, e o Sermão do Monte não é um catálogo de qualidades morais que nos torna dignos da salvação. Jesus não substituiu o legalismo dos fariseus com outro legalismo. Em vez disso, ele estava estabelecendo a norma do reino de Deus e deixando clara a visão moral transformadora de cidadãos do reino dos redimidos.

Jesus não estava retratando um quadro vívido de uma realidade distante. Embora o reino não esteja em sua plenitude neste mundo, ele está em parte e em verdade por meio da pessoa e da obra de Jesus Cristo. Nosso cumprimento dos imperativos morais e do estilo de vida proposto no Sermão do Monte é, como a própria salvação, uma questão de graça e não de fidelidade humana. Contudo, somos todos chamados e recebemos nossas ordens de marcha. Conforme comentou R. T. France: “O ensino do Sermão do Monte não é para ser admirado, e sim para ser obedecido”.

A igreja é, como John Stott a descreveu, a “contra-cultura” cristã de Deus. O Sermão do Monte é a chamada de Cristo a uma contra-revolução cristã. Nenhuma força da terra pode enfrentar a influência de discípulos cristãos que dão testemunho da salvação em Jesus Cristo e exibem um estilo de vida conveniente aos cidadãos do Reino.

É assim que os cristãos travam a guerra cultural. Não com armamentos, não com artilharia, não com espada, mas com o Espírito. As batalhas têm de ser travadas nos tribunais, nas escolas e no mercado de idéias. Todavia, elas são realizadas com o caráter, e não com coerção; com a verdade, e não com terrorismo. Os contra-revolucionários de Deus portam a marca do Cristo crucificado e ressurreto e guiam sua vida pelos preceitos do reino eterno.

O mundo nunca precisou tanto da contra-revolução cristã. Vivendo o Sermão do Monte, mostraremos ao mundo como viver de um modo diferente – um modo cuja única explicação é o senhorio incondicional de Jesus Cristo.

Traduzido por: Wellington Ferreira
Copyright: © R. Albert Mohler Jr.
Traduzido do original em inglês: Joining the Christian Counter-Revolution.
www.albertmohler.com

Fonte: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=296#

O mapa do fracasso

Ricardo Gondim:

Paul Krugman ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2008. Depois, passou a escrever para o jornal “The New York Times”. Em “A Desintegração Americana” (Editora Record), Krugman relata os caminhos que levaram uma economia próspera à bancarrota. A orelha do livro avisa que Krugman “examina como a exuberância cedeu lugar ao pessimismo, como a era dos heróis empreendedores foi substituída pela dos escândalos corporativos e como a responsabilidade fiscal entrou em colapso”. Publicado originalmente em 2003, parece um mapa para o fracasso que agora assombra o mundo inteiro.

O capítulo 1 começa com um texto de 29 de dezembro de 1997, que pergunta o que o mercado andava tramando. Busca saber como “homens e mulheres inteligentes -- e devem ser inteligentes, porque se não fossem, como ficariam ricos? -- podiam fazer tanta bobagem”. Krugman previu que o andar da carruagem da economia acabaria no barranco. E, ironicamente, sugeriu sete posturas para precipitar o mercado no despenhadeiro. Ei-las:

1. Pense a curto prazo. Não projete, não raciocine, para cinco anos. Descarte esse tipo de projeção como excessivamente acadêmica, portanto, desprezível no mundo dos negócios.

2. Seja ambicioso. Tenha como objetivo ganhar e ganhar. Não considere que existam limites para a subida de ações na bolsa. Tente abocanhar os mínimos percentuais das pequenas variações do mercado.]

3. Acredite que existe sempre alguém mais tolo do que você. Despreze os outros. Há pouco tempo o mundo corporativo trabalhava com a lógica de que suas estratégias eram seguras porque “sempre haverá alguém suficientemente estúpido para só perceber o que está acontecendo quando for tarde demais”.


4. Acompanhe a manada. Não ouça as vozes discordantes. Pelo contrário, “as poucas e tímidas vozes antagônicas” precisam ser ridicularizadas e silenciadas.

5. Generalize sem limites. Crie preconceitos. Gere reputações. Condene ou louve instituições e pessoas por critérios difusos e subjetivos.

6. Siga a tendência. Procure ver o que está dando certo, copie acriticamente e espere que os resultados se repitam com você.


7. Jogue com o dinheiro dos outros. Preserve sua carreira e tente progredir com o capital alheio.

Os sete pontos de Krugman valem para qualquer outra atividade humana, inclusive a religiosa. Ao detalhar a rota do desastre, ele talvez não tenha atinado para sua pertinência entre os evangélicos. Nem todos os líderes são lobos predadores; muitos não passam de vítimas de um sistema perverso que conspira contra eles. Como cordeiros equivocados, caminham para um matadouro armado pelo sistema que a Bíblia chama de mundo.

Evangelismo a curto prazo compromete a próxima geração. Diversos pastores, ávidos por sucesso, agem como pescadores predatórios. Existem diversas maneiras de pescar: tarrafa, rede, anzol. Cada jeito produz diferentes resultados. Talvez o mais eficaz seja com dinamite: localiza-se o cardume, detona-se a bomba e logo boiarão milhares de peixes. O problema com esse tipo de pesca é que ela destrói o rio para a próxima geração. O barco fica cheio, mas o neto do pescador não conseguirá tirar seu sustento do rio. A sede de lotar o auditório pode transformar o pastor em um pragmático irresponsável, que repetirá: “Não é possível que esteja errado, crescemos como nenhuma outra igreja”. As patacoadas milagreiras, a repetição enfadonha de chavões, as bizarrices sobrenaturais que se observam em muitas igrejas não passam de dinamite que garante o barco repleto no próximo domingo, mas o rio religioso estará vazio no futuro.

Ambição não se restringe à esfera financeira. Alexandre, o Grande, Hitler e tantos outros falharam porque não souberam dizer “basta”. Cobiça existe inclusive entre os sacerdotes. A pretensão de alcançar o mundo, tornar-se o evangelista famoso que afeta uma geração é luciferiano na essência. Muitos pastores perderam a alma nesta busca.

Ao acreditar que só os ingênuos procuram os ambientes religiosos, eles desprezam os auditórios. Pastores repetem as mesmas ilustrações, narram histórias fantásticas inventadas como milagres e pregam sermões ralos. Porém, se permitem este desdém porque se acham mais espertos que os seus ouvintes. Mal sabem que, nas conversas em pizzarias, são ridicularizados pelos jovens.

Acompanhar a manada significa contentar-se com o “status quo”. A posição morna dos muristas que Deus vomitará de sua boca. O mimetismo religioso acontece porque muitos têm preguiça de perguntar a verdade que alicerça o que está sendo feito.Criam-se fronteiras para definir com precisão quem está dentro e quem está fora. Os que estão fora são tratados com desprezo. Preconceitos se formam para que não haja culpa quando for preciso apedrejar.

Ao seguir tendências, modismos passam a ser tratados como projetos que deram certo devido à aplicação de “princípios universais”. Indolentes, repetem o chavão: “Nada se perde, nada se cria, tudo se copia”. Da mesma maneira que os financistas que atolaram o mundo nesta crise, muitos sacerdotes não se dispõem a apostar seu capital nas muitas empreitadas em que se metem. Mobilizam o povo a pagar a conta de seu ufanismo desvairado.

O mundo corporativo e financeiro foi irresponsável por anos. Deflagrou uma crise econômica sem precedentes, queimou trilhões de dólares com socorro a bancos e colocou milhões de trabalhadores na rua, provocando mais miséria. Muitas igrejas seguem os mesmos passos, que talvez gerem um desastre igual ao do mercado financeiro.

Ricardo Gondim é pastor da Assembléia de Deus Betesda no Brasil e mora em São Paulo. É autor de, entre outros, O Que os Evangélicos (Não) Falam e Eu Creio, mas Tenho Dúvidas, lançamento da Editora Ultimato.

Artigo publicado no site www.ricardogondim.com.br
http://www.bomlider.com.br/artigos_ver.php?tp=8&cod=714

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

OS PERIGOS DOS RELACIONAMENTOS VIRTUAIS

Colossenses 3:17: “E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai”.

Um pai abatido pela dor, e de coração partido, aproximou-se de mim, após o culto na igreja onde eu havia pregado. Perguntou se podia compartilhar comigo um problema sobre o seu filho, de modo que eu pudesse usar sua história como advertência a outros pais e pessoas jovens.

Assim como tantos outros pais, ele e a esposa consideravam haver pouco ou nenhum perigo em ter um computador no quarto de dormir do seu filho, com a porta do quarto fechada durante horas, enquanto ele ficava “online”.

Somente quando [o garoto] chegou aos dezoito anos, foi que os pais descobriram que ele havia se envolvido drasticamente com sites de ocultismo e com pessoas de sites e blogs de relacionamentos, os quais haviam captado o seu interesse e, por fim, a sua lealdade. Esses desgostosos pais se achavam impossibilitados de evitar que o filho, criado num lar cristão, se ligasse aos novos “amigos” que ele havia feito na Internet.

Este jovem havia estudado numa escola cristã, fora criado numa família [que era] membro fiel e assídua de uma igreja batista independente fundamentalista. Mesmo assim, ele havia se tornado membro de um círculo de amigos “góticos”, agora se vestindo de preto e desdenhando de sua herança cristã. Seus ouvidos haviam ficado surdos aos apelos paternos, para que se arrependesse e voltasse às verdades que lhe foram ensinadas, durante os anos maleáveis de sua formação.

O Monstro Moderno

“O deus deste mundo” tem disponível, hoje em dia, uma miríade de tentações sedutoras e atraentes, às quais a juventude se torna facilmente vulnerável. Uma das tentações mais fortes e difundidas é a Internet. Algumas décadas atrás, a juventude era alertada contra as máquinas caça-níqueis, as boates, os filmes, os jogos de cartas, etc. Mesmo sendo moralmente perigosas, estas coisas se tornam inferiores em significação, quando comparadas aos insidiosos perigos que os adolescentes enfrentam agora, através do computador. O que antes estava disponível somente em lugares muito maus para a saúde espiritual, agora está disponível a qualquer garoto de 12 anos, dentro do seu quarto, bastando apenas que ele dê um click no mouse.

Pais Ausentes

As famílias modernas já não formam uma unidade coesa, conforme antigamente. O estresse e as pressões sobre um lar moderno são multifacetadas. As mães têm posto em inferior prioridade os seus lares, seus maridos e seus filhos em busca de uma carreira profissional. Com tão precioso tempo desperdiçado, a vida se torna inadequada para que ela seja uma esposa e mãe perfeita. (Marcos 3:25). Os pais se estressam ao limite, em suas carreiras profissionais. Obter sucesso e manter sua posição faz com que um pai fique estressado, deixando de ser um marido e pai protetor [da família]. Ficando muito tempo deixados sem supervisão, os jovens se tornam alvo de um fator perigoso, pois sua natureza decaída os tenta a buscarem relacionamentos, entretenimentos e atividades prejudiciais ao seu caráter e à sua alma. Os telefones celulares, as mensagens de texto e a Internet constituem, para uma juventude ingênua, um campo espiritual minado.

Dependência do Grupo

Um jovem cristão deveria querer ficar sozinho diante do Senhor, como o fazia Daniel, no Velho Testamento, em vez de buscar auto-afirmação e segurança nos companheiros do grupo. (Salmo 1:1). Os relacionamentos virtuais tratam do EGO, sempre que se ministra aos “outros”. Por causa de sua grande popularidade, o intercâmbio virtual tem-se tornado um ímã para os corações jovens. Não envolvido com o mesmo, um jovem pode achar que está por fora do que lhe parece que “todos estão fazendo”.

Tudo sobre o EGO

Narciso era um personagem da mitologia grega, conhecido pela sua beleza. Ele desdenhava os outros, pensando somente em si mesmo. Apaixonou-se pelo próprio reflexo numa lagoa e, não querendo deixar de se extasiar com a própria beleza, ele acabou perecendo ali, transformando-se na flor “narciso”. Seu nome tornou-se um sinônimo de auto-amor e auto-admiração. A fascinação pelo EGO parece ter-se tornado uma força motivadora no envolvimento de muitos jovens, nos relacionamentos virtuais - Tudo sobre o EGO - contrastando com o que a Escritura nos ensina em Marcos 8:34: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me”.

O sincretismo social está fazendo com um grupo o que ninguém desejaria para o seu filho. O relacionamento virtual tenta um jovem a agir, gratuitamente, no sentido de uma vítima ser atacada num e-mail, num blog ou num site de relacionamento. A vítima pode ser uma pessoa, um grupo, uma instituição, comunidade, etc. Os jovens são notórios por serem implacáveis com os que caem em desagrado com o seu grupo particular. Em um trágico exemplo, uma jovem de 13 anos suicidou-se por causa de graves comentários feitos sobre ela, num website. A autora desses comentários disparatados fora simplesmente uma mulher casada, que se fizera passar por uma adolescente.

O sincretismo social também pode ser chamado “mentalidade do rebanho”, um fenômeno no qual as pessoas abandonam a razão, e até mesmo a moral, para seguirem a multidão. Neste caso, a opinião da multidão mudou sua percepção. Em outras palavras, o rebanho altera a percepção da realidade de uma pessoa.

Muitos pais do tipo responsável não precisam ver este estudo, para saber que é perigoso para os seus filhos ficarem envolvidos com grupos [de pessoas] sem caráter, fúteis e irresponsáveis. Eles conhecem a 1 Coríntios 15:33: “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes”. Instintivamente, eles sabem que os amigos “insalubres” vão contaminar e corromper os seus filhos. Infelizmente, os jovens não enxergam este perigo contra o qual Paulo nos admoestou, como sendo um sinistro e insidioso perigo deste fenômeno social. “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes”...

Em Provérbios 27:19, lemos: “Como na água o rosto corresponde ao rosto, assim o coração do homem ao homem”. O Espírito Santo nos mostra que a personalidade maligna é tão contagiosa como letal na comunicação do mal.

“O grupo” pode alterar o escopo e a percepção moral de uma alma ingênua ainda não embasada na Escritura. [N.T. - Só existe um meio dos jovens e adultos se desviarem do mal: é conhecer bem a Palavra de Deus, a qual é a “lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho”, segundo Salmo 119:105].

Após um certo tempo de exposição e experiência com a turma, torna-se admissível enviar fotos de si mesmo, em vários estados de nudez e discutir assuntos íntimos, lascivos, com uma vulgaridade prazerosa, e aspirar a uma vida de descontração, livre de restrições morais, etc. Depois que a percepção moral é alterada, torna-se compreensível que pais amorosos e pastores preocupados passem a ser vistos pela juventude [transviada] como não razoáveis, obstrucionistas, incomunicáveis e desesperadamente obsoletos. Isso explica por que os jovens, antes felizes e contentes com a sua família, tornam-se desregrados, não cooperativos e descontentes, após terem-se envolvido com a turma. Isto explica porque uma pessoa que perde o favor do “rebanho” vai se tornar motivo de escárnio e até mesmo um “alvo” de vilipêndio, muito embora ela fosse vista favoravelmente, ou, pelo menos, com neutralidade, antes da opinião da turma se voltar contra ela.

Uma vez enviado, para sempre disponível

O chamado “anonimato” que a Web provê é ilusório. Tudo que for colocado num blog, chat ou website, ficará permanentemente disponível “a quem interessar possa”. Estes itens podem ser arquivados e voltar para embaraçar uma pessoa, muitos anos depois. Observações fúteis e provocativas, fotos, vídeos, etc., têm sido pesquisados pelo pessoal dos “Recursos Humanos” [das empresas empregadoras], anos após terem sido colocados na Internet, podendo se tornar em motivos não mencionados, pelos quais alguém deixou de conseguir um emprego ou promoção e por que alguns perderam suas posições.

Ninguém pensa nas consequências

Os jovens, em particular, são muito impressionáveis, vulneráveis e ingênuos. Suas mentes e emoções, ainda não totalmente desenvolvidas, tentam-os a se envolverem nas “excitações” do relacionamento virtual. Na privacidade do seu quarto de dormir, eles não pensam ou quase não pensam nas consequências em compartilhar informações pessoais sobre eles, suas famílias e seus amigos, os quais podem ser apanhados por predadores sexuais, criminosos ou ladrões de identidades. Algumas informações compartilhadas são escandalosas, tais como: “fazer sexo”, das quais, pelo celular ou pela Web, são enviadas imagens de jovens adolescentes, em vários estados de nudez. Outras imagens, mesmo não revelando partes do corpo, são altamente provocantes e sensuais, ficando disponíveis para serem vistas por todos, durante anos.

Dependência perigosa?

O relacionamento virtual provê uma saciedade para o que a chamada “vida normal” não oferece. Interessante é que ele causa dependência. Esta sutil dependência tem afastado muitos da responsabilidade, durante longos períodos de tempo. Em vez de “remir o tempo” (Efésios 5:6), o indivíduo terá gasto muitas horas, deleitando-se com imagens indecentes, chats espiritualmente prejudiciais, blogs, sensualidade e conversações torpes, as quais “não se conformam à imagem de Cristo” (Romanos 8:29), mas, ao contrário, embotam o espírito e a consciência. Muitos que foram levados a gastar incontáveis horas na Web, e por alguma razão já não podem acessar os sites favoritos, experimentam um sentimento de perda idêntico em intensidade ao dos que anseiam pelo fumo, quando tentam abandonar o vício. Esta dependência viola os princípios da 1 Coríntios 6:12: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma”. A compulsão obsessiva de quem está envolvido no relacionamento virtual deixa de ser temporária, para se transformar num hábito pecaminoso.

Prejuízo espiritual

No ambiente moral hodierno, o denominador comum de maior baixeza entre a juventude é o escândalo e a ira. Desse modo, não causa surpresa que suas conversas e interesses sejam espiritualmente nocivos. Deus quer que sejamos sábios: “quero que sejais sábios no bem, mas simples no mal” (Romanos 16:19). Tragicamente, após horas, dias, semanas e meses de uso dos chats, blogs e websites favoritos, um jovem vai se tornar um “sábio das ruas”, endurecido contra a ainda tênue voz Espírito Santo, tendo ficado exausto e cínico sobre a própria vida. Suas prioridades, interesses e valores morais não serão, certamente, os mesmos do seu pastor ou do seu professor na EBD. Isto poderia explicar por que há tantos adolescentes desligados e principalmente cansados e desdenhosos dos cultos da igreja e do altar familiar.

Calculei o custo?

Os pais precisam questionar seriamente a necessidade dos seus filhos serem supervisionados no acesso aos telefones celulares e aos computadores. As mensagens de texto, fotos impróprias e conversas fúteis são elementos de liberdade, para os quais os jovens não estão preparados. Alguns jovens ficam enviando textos na escola e durante os cultos, em vez de prestarem atenção às aulas ou permitir que o Senhor fale com eles. A privacidade e a liberdade oferecidas através do celular, do computador e do carro, devem ser para os adultos espiritualmente maduros e responsáveis; não para os filhos imaturos, hedonistas e irresponsáveis. É um enorme desafio conduzir o coração de um filho para Cristo, restringi-lo e conservá-lo na disciplina e admoestação do Senhor. Então, por que deveria um pai complicar tremendamente este desafio, permitindo ao filho um não supervisionado e descontrolado acesso aos telefones celulares e aos computadores? Fazer isso, neste mundo satanicamente controlado, será quase como ensinar o seu filho a nadar, enquanto ele está usando calçados de concreto.

Possíveis linhas de orientação

Permitam-me sugerir algumas maneiras pelas quais os pais possam ter o controle e supervisão nestas áreas:

1. - -O computador jamais deve ficar no quarto do filho, mas, de preferência, no lugar mais público da casa, como a cozinha ou outra área mais frequentada pelos membros da família. O computador e o laptop devem ficar numa posição em que os transeuntes possam ver, imediatamente, o que está sendo mostrado no monitor.

2. - A nenhum computador para os filhos ou algum outro membro da família deve ser permitida a falta de um software que possa ser regularmente examinado pelos pais, responsáveis ou esposa, o qual revele tudo que tenha sido visto nesse computador.

3. - Uma prestação de contas é crucial. Enviar textos tem se tornado a mania de muitos jovens. Esta obsessão, por causa dos mesmos perigos morais do computador, deveria tornar-se inacessível ou estritamente monitorada.

4. - O software é indispensável, a fim de que seja evitado que a maior parte da pornografia e outros sites questionáveis sejam acessados. Qualquer computador doméstico precisa ser assim equipado. Não existem “provas fúteis”, daí porque a vigilância e a intima supervisão dos computadores continuam sendo necessárias.

Bênçãos versus Maldições

Costumo comunicar-me com minha filha, no campo missionário, através do computador. Isto supera qualquer correio moroso, o qual exigia semanas e às vezes nem chegava. O acesso às notícias locais e mundiais, de uma variedade de fontes, que chegam quase instantaneamente, é uma bênção maravilhosa e agradável. A habilidade de se encontrar um produto desconhecido ou popular “online”, a um preço módico, economiza muito tempo e esforço. Posso pesquisar desde a supressão teológica da ética à mais venenosa aranha, sem me dar ao trabalho de chegar até uma biblioteca. Posso me manter informado sobre grupos, missionários, ministros e organizações cristãs através de suas “newsletters”. Estas são atuais, sem custo algum. Alguns estão a milhares de milhas de distância, nos países do terceiro mundo e, mesmo assim, posso orar por uma crise que aconteceu há 24 horas apenas. Os computadores provêem imediata acessibilidade a informações, produtos e serviços, de um modo sem paralelo, que a nós até hoje não havia sido disponível. Podemos nos comunicar com amigos, estranhos, sócios e membros da família, instantaneamente, e a milhares de milhas de distância, com um simples click no mouse. Os computadores são uma das maravilhas da nossa era moderna. Oceanos, lagos, rios e lagoas provêem transporte, comércio, belezas cênicas, alimentação e recreação. Contudo eles também nos mostram tsunamis, inundações, afundamento de navios, e almas ressequidas. Armas de fogo provêem alimento para a mesa, caçadas, esportes e armas aos nossos militares. Mas também usamos armas para a caça recreativa e proteção às nossas vidas e propriedade. Mesmo assim, nenhum pai inteligente ou responsável iria permitir um acesso sem controle de suas armas aos seus filhos. Do mesmo modo, devemos reconhecer que, embora a tecnologia do computador nos seja de tremenda ajuda, ela pode se tornar um desastre irremediável para os nossos filhos, e até mesmo para nós adultos. Restrições, controle, supervisão e prestação de contas não são apenas uma boa idéia, para os nossos computadores e telefones celulares, mas uma necessidade. Se um homem justo deve cuidar da vida dos seus animais (Provérbios 12;10), muito mais, zelosamente, não deveríamos cuidar de nós mesmos, de nossa esposa e de nossos filhos?

Ron Williams (hesed@kconline.org), reimpresso do Hephzibah Happenings,

http://www.hephzibahhouse.org.

Traduzido por Mary Schultze, em 16/01/2010.

ORIGENS TEOLÓGICAS DO PENSAMENTO BATISTA

Aula apresentada por Elisa Rodrigues, graduada em Educação Religiosa, no curso de Teologia Contemporânea, ministrado pelo professor Jorge Pinheiro na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, no segundo semestre de 1999.

Definição de ortodoxia: Qualidade de ortodoxo; Doutrina Religiosa considerada como verdadeira; Conformidade de uma opinião com uma doutrina verdadeira. MICHAELIS. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1998. p. 1510). Ortodoxia cristã

O cristianismo ortodoxo essencialmente descritivo, trata das bases comuns da fé cristã reveladas na Bíblia, a despeito das diferenças teológicas criadas a partir de reflexões humanas. Nesse sentido a ortodoxia na fé cristã, conta com elementos históricos necessários para a conservação de uma fé comum, que se caracteriza nos eventos máximos do cristianismo:
Encarnação
Morte
Ressurreição
Ascensão de Cristo
E, se Cristo não ressuscitou logo é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. I Cor 15.17.
A ressurreição de Jesus constituía-se em convicção tal que não se podia admitir que alguém se recusasse a aceitá-la e continuasse a considerar-se como pessoa cristã. A ressurreição de Jesus constituía-se a rocha da fé confessada por aqueles crentes. (HORDERN, William. Teologia Protestante ao alcance de todos. Rio de Janeiro: Junta Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira, 1982. p. 20-21)
A ortodoxia clássica relacionou-se com uma grande teologia. Poderíamos chamá-la de escolástica prostestante, com todos os refinamentos e métodos que a palavra escolástica inclui. Assim, quando eu falo de ortodoxia, refiro-me à maneira como a Reforma estabeleceu-se, enquanto forma eclesiástica de vida e pensamento(...). É a sistematização e a consolidação das idéias da Reforma, desenvolvidas em contraste com a Contra-Reforma. A teologia ortodoxa foi, e ainda é, a base sólida de onde emanaram todos os desenvolvimentos posteriores(...). A teologia liberal até hoje tem sido dependente da ortodoxia contra a qual constantemente se rebela. (TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. São Paulo: ASTE, 1988. p. 251.)
Cada grupo/divisão cristã apresenta sua própria doutrina, que exprime uma regulamentação do que seja um modus operandi da vida cristã segundo a cosmovisão desse grupo em relação a revelação de Deus para o homem.
A ortodoxia conforme o que se disse anteriormente, é o âmago da fé cristã que contém as bases do pensamento teológico e que, no segundo e terceiro séculos, expressou-se de modo mais sistemático nos Credos organizados em concílios, como por exemplo o Credo Apostólico uma refutação ao pensamento gnóstico que deturpava os ensinamentos a respeito da Revelação de Deus na Criação (matéria) e em Cristo.
Outros credos foram desenvolvidos em face da necessidade de estruturar e fundamentar a fé cristã, por isso, os conhecidos credos de Nicéia e Calcedônia.
O pensador, no Ocidente, mais respeitado por sua ortodoxia bem elaborada, também com caráter de refutação, foi Agostinho que opôs-se a Pelágio. Basicamente Pelágio defendia a tese que o pecado de Adão prejudicara ninguém mais do que ele mesmo e, todo homem é livre para escolher entre bem e mal a qualquer tempo durante sua vida. Contrário a esse conceito, Agostinho afirmou que o homem tem total propensão ao pecado e que só é livre mediante o ato de graça de Deus que conduz a libertação.
Essa teoria agostiniana levou à doutrina da predestinação que ganhou ainda mais força com o advento da Reforma.
Ao surgir da Reforma, a maioria de seus líderes deixou de por em dúvida qualquer das doutrinas consideradas ortodoxas até aqui delineadas. Lutero, por exemplo, retomou a doutrina da salvação pela graça, ressaltando-a de modo como não o fora desde os dias de Paulo. Sua atitude o colocou em conflito aberto com a doutrina católica concernente à natureza da Igreja e da autoridade de sua hierarquia. Recusando-se a submeter-se às pretensões de supremacia do Papa, Lutero entendia residir a autoridade última na Bíblia, interpretada pelo Espírito Santo operando dentro do coração do crente. Em lugar da hierarquia católica, ele passou a ensinar a doutrina do sacerdócio de todos os que crêem. Isto é, nenhum crente precisaria de sacerdote para servi-lhe de intermediário diante de Deus, com exceção de Cristo, que é o mediador perfeito(...) Calvino concordou com Lutero e nos legou a primeira Teologia Sistemática. (HORDERN, William. Teologia Protestante ao alcance de todos. Rio de Janeiro: Junta Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira, 1982. p. 38).
A Reforma Protestante e o Renascimento:
um contexto de mudanças
Por esse tempo, em que a Reforma fazia estremecer as bases do pensamento teológico e a igreja, eclodia, já a duzentos anos, o ilustre período histórico denominado Renascimento que, basicamente, evocava elementos da Roma e Grécia antiga, contrariando os padrões de conduta e valores da Idade Média. Nesse sentido, a igreja e a ordem vigente que lhe era outorgada, passava por um duplo risco: Reforma Protestante e Renascimento.
Em ambos movimentos a autoridade da igreja católica era contestada, sofrendo grandes críticas quanto a supremacia e a mediação, facilitada pela questão do latim que só compreendiam os clérigos e, portanto, monopolizavam o conhecimento de Deus. Com a expansão marítima e o advento dos descobrimentos e o desenvolvimento da imprensa, a informação tornou-se acessível a uma considerável gama de pessoas e, tendo sido traduzida a Bíblia em outras línguas e publicada, o clero já não se fazia imperativo para que a vontade de Deus fosse sabida e comunicada ao homem. Todos podiam ter acesso ao conhecimento de Deus por meio da leitura pessoal das Sagradas Escrituras.
Enquanto isso, o Renascimento originou o racionalismo, cosmovisão que compreende os problemas e situações humanas à luz da razão, dando ao homem status de auto-suficiência. O homem desse período deixa de pensar e ser teocêntrico para pensar e ser antropocêntrico. Por esse tempo, séculos XVI e XVII, a fé cristã ortodoxa é confrontada com os pensadores racionalistas que depositavam na razão, a confiança de que era a autoridade instiutída mais provável no processo de conhecimento da verdade.
Os racionalistas, também chamados iluministas por serem contemporâneos do século das luzes quando idéias brilhantes faiscavam a todo tempo nas mentes aguçadas dos pensadores não eram irreligiosos, ao contrário do que afirmam, entretanto, não sendo um movimento de oposição à religião, o Renascimento se insurgia, de fato, contra a ortodoxia. Desejava-se uma religião, como Kant teve oportunidade de ressaltar, dentro dos limites da razão. (HORDERN, p. 45).
Mas, como se não bastassem os constantes ataques à ortodoxia por parte dos iluministas, figura no cenário uma personagem não menos importante: a ciência.
A ciência foi representada inicialmente por dois grandes homens Copérnico e Darwin que, desfilaram suas teorias científicas impactando o meio religioso. Respectivamente, a Terra e o homem deixam de ocupar o centro do universo, tornando-se nada mais que um grão de poeira cósmica e, o homem, detentor de autoridade provinda de superioridade, foi relegado a posição de animal em processo evolutivo, nada mais que uma ameba.
A ortodoxia, portanto, defensora do homem enquanto ser criado a imagem de Deus para glorificá-lo e servi-lo, passa por uma difícil contestação, reforçada ainda, posteriormente, por Freud no domínio da psicanálise e Nietzche em filosofia.
Nesse contexto de efervescência intelectual, onde verdades absolutas eram contestadas e crenças ridicularizadas pela razão exaltada, é que o pensamento teológico protestante adquire força e começa a desenvolver-se com autoridade, caráter de resposta as questões levantadas e atitude de contestação.
Considera-se que existem três grupos religiosos originários dos reformadores do século XVI, são eles:
Os matrizes: luteranos, presbiterianos (calvinistas e zwinglianos), anglicanos e anabatistas.
Os herdeiros: congregacionais, batistas e metodistas.
Os vice-herdeiros: adventistas, pentecostais.
Dessa forma, podemos considerar fio condutor ou, conjunto de princípios que lhes são gerais o Solus Christus, Sola Fide e Sola Scriptura de Martinho Lutero (1483-1546).
As influências sobre o pensamento contemporâneo
Segundo Israel Belo de Azevedo, Denominação(...), é uma forma específica e histórica que uma igreja toma. No interior do cristianismo, as denominações podem ser vistas como conjuntos de tradições seguidas por igrejas. Os batistas integram uma denominação. (AZEVEDO, Israel Belo de. A celebração do indivíduo: A formação do pensamento batista brasileiro. Piracicaba: Editora Unimep; São Paulo: Exodus, 1996. p. 18).
As bases do pensamento teológico contemporâneo devem ser compreendidas à luz do liberalismo do século XVII que conta com elementos formativos diversos e por isso, considera-se um sistema de pensamento que prioriza a livre expressão do ser como exercício prático de uma existência validada nos níveis individual e social, a partir dos domínios sócio-político-cultural que favorecem por meio da liberdade, o estado de conscientização que gera o sentimento de realização. Basicamente, a plataforma teórica desse pensamento encontra-se nas teses do naturalismo, do racionalismo, do individualismo, do progressismo e do relativismo... (AZEVEDO, Israel Belo de. ob. cit. p. 19).
Esse pensamento bifurcou-se em várias vias: o liberalismo teológico, liberalismo político e econômico, diretamente influenciados pelas tendências daquele momento histórico tudo submetido a crítica da razão e experiência.
Essa nova cosmovisão, como dito anteriormente, legava ao homem não o centro do universo, mas, à razão, a supremacia capaz de compreender e desvendar todos os mistérios dos cosmos.
Portanto, os batistas organizaram-se como denominação plantados nos princípios liberais do século XVII. O resultado dessa reflexão, basicamente, caracteriza-se na estruturação de igrejas livres em sociedades livres (AZEVEDO, Israel Belo de. ob. cit. p. 20), que constitui também uma proposta política.


Os batistas ingleses e a busca pela liberdade religiosa

Quadro histórico:
1603
Uma nova era caracterizada pela troca de dinastias: Tudors por Stuarts.
Mudanças no pensamento contemporâneo: Renascimento (mentalidade desperta)
Ampla difusão das Escrituras Sagradas
Crescimento comercial
Ação puritana contra a igreja oficial. Atitude de repúdio as influências do clero na autoridade monárquica em nome de Deus ; oposição ao totalitarismo oligárquico da igreja.
Igreja Anglicana dividida.
1604
O rei James I persegue as igrejas protestantes
O rei exige a uniformidade religiosa para manter a ordem social
Afirma-se como autoridade máxima na igreja e estado.
1625
Sucessão imperial: Charles I nova esperança para puritanos e dissidentes
1633
William Laud assume como Arcebispo da Cantuária tornando-se a maior autoridade eclesiástica inglesa; é também nomeado um dos primeiros ministros e, apoia a supremacia do rei sobre a igreja e estado
São acirradas as perseguições aos puritanos


1640

Crescem as tensões entre o Parlamento e o rei


1642

A discórdia entre o rei e o Parlamento resultam em revolução armada Exército Modelo vrs. Partido Puritano (Presbiterianismo) vitória do último
As igrejas separatistas decepcionam-se; princípios de liberdade religiosa não são adotados


1648

Formação do Protetorado de Cromwell; propaganda das igrejas batistas dão início às mudanças a favor da liberdade religiosa.


A formação dos princípios da igreja batista

O princípio da liberdade religiosa foi parte integrante da vida e fé dos primeiros batistas.
(OLIVEIRA, Zaqueu Moreira de. Liberdade e Exclusivismo: Ensaios sobre os Batistas Ingleses. Rio de Janeiro: Horizonal; Recife: STBNB Edições, 1997. p. 78).
Uma das hipóteses em relação a citação anterior, é que a luta pela liberdade como um bem precioso para o ser humano, é conseqüência das cruéis perseguições e injustiças cometidas pelo rei para com as igrejas dissidentes; isso porque, conforme já visualizado no quadro histórico, o poder do estado centralizado na figura do rei e indiscutivelmente apoiado pela igreja oficial (católica), intentavam a uniformidade da religião objetivando a supremacia da autoridade.
As chamadas igrejas dissidentes opunham-se a esse intento, buscando exatamente o contrário: a liberdade religiosa. Por motivos político-econômicos óbvios detenção e monopolização dos meios de produção e organismos sociais tanto o rei quanto a igreja não desejam a alteração da ordem vigente.
Por essa época (1610-1612), John Smyth, primeiro pastor batista na Inglaterra, levantou a bandeira da liberdade de consciência absoluta (OLIVEIRA, Zaqueu Moreira de. ob. cit. p. 83), eis o início da trajetória batista de interesse e ação política engajada na busca pela liberdade religiosa.

Origens do pensamento batista

Com relação as origens do pensamento batista, não existem evidências históricas devidamente documentadas que especifiquem de onde nasceu a reflexão teológica batista. Na verdade, existem hipóteses divergentes a respeito de suas origens; conquanto, sabe-se que a Reforma se dera a partir da ação efetiva de Lutero, Calvino e Zwinglio, logo outros nomes e movimentos foram acrescidos o anabatismo, o puritanismo e o metodismo (AZEVEDO, Israel Belo de. ob. cit. p. 58) ao protestantismo. Tendo como base os três princípios Sola Fide, Solus Christus e Sola Scriptura, as teologias desenvolveram-se de acordo com as interpretações dos diferentes grupos, todavia, o eixo central (...) era praticamente o mesmo. Todos aceitaram o princípio básico da justificação pela fé, nada cabendo ao mérito humano, já que a fé é um Dom de Deus e não uma conquista humana. Mesmo os anabatistas, que tinham preocupações teológicas menos sistemáticas, concordavam que a salvação era pela fé, embora reinterpretassem o conceito para incluir nele a noção (um pouco mais mística) de uma nova vida habitada por Cristo. (AZEVEDO, Israel Belo de. ob. cit. p. 60).


Algumas ênfases teológicas:

Lutero: Teologia Cristológica; Predestinação dos eleitos; igreja como comunidade dos santos em Cristo; estado como ordenança.
Calvino: Bíblia suprema autoridade; Doutrina da predestinação dupla e incondicional; igreja como comunidade dos santos em Cristo; estado como ordenança, sendo dever do estado proteger a religião.
Zwinglio: Interpretação normativa da Bíblia; Predestinação simbólica; Pecado original como doença moral perdoável a qualquer tempo, salvação pela razão; igreja como comunidade dos santos em Cristo; aliança entre igreja e estado.
Anabatistas: A Palavra de Deus como fonte experimentada pela iluminação do Espírito Santo; Regeneração necessária para a vida nova; igreja associação voluntária de santos; completa separação entre a igreja e o estado. (Baseado em AZEVEDO, Israel Belo de. ob. cit. p.62).

Anexo 1

Declaração doutrinária (Convenção Batista Brasileira) sobre a Eleição:
Segundo Sua graça imerecida, Deus opera a salvação em/através de Cristo, de pessoas eleitas (desde a eternidade), chamadas, predestinadas, justificadas e glorificadas à luz de Sua presciência e de acordo com o livre arbítrio de cada um e de todos.

I Pe 1.2; Rm 9.22-24; I Ts 1.4; Rm 8.28-30; Ef. 1.3-14.


Todos são eleitos

Deus opera a salvação em/através de Cristo pela sua graça (favor imerecido)
Deus é pré-ciente
De acordo com o livre-arbítrio, desde a eternidade, Deus elege, chama, predestina, justifica e glorifica Anexo 2


GUILHERME DELL

Conhecido por suas fortes convicções teológicas a respeito da livre expressão do ser e defensor ferrenho dos princípios batistas, apesar de não ter ligação com nenhuma congregação, em 1646, destacou-se pela sua luta a favor da liberdade religiosa na Inglaterra.
Escreveu o livro entitulado Uniformidade Examinada (...) que postulava a tese de que a unidade deve existir sem uniformidade, uma vez a última era má e intolerável excluindo toda a liberdade concedida por Deus. Essa era uma nova argumentação favorável a liberdade religiosa.
Outra questão estava no fato de que a uniformidade contraria a própria mensagem de Cristo e forçava a igreja, que é o corpo de Cristo, a portar-se de maneira externa aos seus princípios, por meio de um poder estabelecido e, sem o aval de Deus, a religião configuraria-se num movimento anticristão, considerado por Dell, pior que o paganismo.
Dell usou cada oportunidade que teve para defender liberdade de consciência. Ele considerou o uso de coação uma invenção humana, algo deletério que não tinha lugar no reino de Cristo. (OLIVEIRA, Zaqueu Moreira de. Liberdade e Exclusivismo: Ensaios sobre os Batistas Ingleses. Rio de Janeiro: Horizonal; Recife: STBNB Edições, 1997. p. 104-106).
[Aula apresentada por Elisa Rodrigues, graduada em Educação Religiosa, no curso de Teologia Contemporânea, ministrado pelo professor Jorge Pinheiro na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, no segundo semestre de 1999].

Fonte: http://clickteologia.blogspot.com/2010/01/origens-teologicas-do-pensamento.html

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Quem mexe com a Indústria Religiosa, mexe num vespeiro!

Por que despertamos o ódio de tanta gente quando expomos a Verdade em contraposição dos métodos e estratégias usadas pela igreja atual?

Basta um artigo sobre assuntos polêmicos como o G12, a Teologia da Prosperidade, a Quebra de Maldições, e outros, para que o ânimo de alguns que se dizem irmãos se altere.

Quando comentam em nossos artigos, em vez de exporem seus pensamentos com base nas Escrituras, preferem os ataques pessoais, tentando minar nossa credibilidade e pôr em xeque nossas motivações.

Por incrível que pareça, este não é um fenômeno recente. A igreja primitiva teve que lidar com as mesmas reações, ora por parte dos judeus, ora por parte dos gentios.

Um episódio que pode atestar o que estamos afirmando é o que lemos em Atos 19, e que nos mostra o efeito causado pela atuação do ministério de Paulo em Éfeso.

À medida que as pessoas iam se convertendo à Fé, elas abandonavam suas superstições e crendices. O texto diz que “muitos dos que tinham praticado artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos” (v.19). Até aí, tudo bem. Cada um faz o que quer com o que é seu. Quer rasgar, queimar, quebrar, dar fim, o problema é dele. Mas alguém que assistia resolveu calcular o prejuízo. “Feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinqüenta mil moedas de prata”. Uau! Se Judas traiu Jesus por trinta moedas de prata, e isso já era uma quanta considerável, imagine o que representava uma quantia tão vultuosa: cinqüenta mil moedas de prata!

Pra se ter uma idéia do montante, as trinta moedas recebidas por Judas foram suficientes para adquirir um campo. Isso significa que as 50 mil moedas de prata daria pra comprar cerca de 1666 campos!

Tudo isso em livros. O mercado editorial de Éfeso entrou em colapso. Aquelas pessoas que dispuseram seus livros para a fogueira, jamais voltariam a consumir tal literatura.

Devemos estar cientes que a pregação do genuíno Evangelho sempre fere interesses. Alguém vai ter que arcar com o prejuízo.

Não bastasse a quebra do mercado editorial, sobrou também para a indústria religiosa.

O texto diz que “por esse tempo houve um não pequeno alvoroço acerca do Caminho. Certo ourives, por nome Demétrio, que fazia de prata miniaturas do templo de Diana, dava não pouco lucro aos artífices. Ele os ajuntou, bem como os oficiais de obras semelhantes, e disse: Senhores, vós bem sabeis que desta indústria vem a nossa prosperidade. E bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos. Não somente há perigo de que a nossa profissão caia em descrédito, mas também que o próprio templo da grande deusa Diana seja estimado em nada, vindo a ser destruída a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo veneram” (At.19:23-27).

Em outras palavras, a mensagem pregada por Paulo doía no bolso e ainda maculava a reputação deles, colocando-os em descrédito perante a opinião popular.

Portanto era uma questão que envolvia dinheiro e reputação, avareza e vaidade. Para disfarçar, eles alegavam que Diana, sua deusa, estava sendo ultrajada, dando assim um ar de piedade religiosa às suas reivindicações.

Foi o suficiente para que houvesse uma manifestação popular. – Grande é Diana dos Efésios! Bradava a turba.

No fundo, no fundo, o que os incomodava não era o culto à deusa. Se o templo de Diana fosse reputado em nada, o que fariam os que viviam da venda de miniaturas dele? Imagine se convencêssemos as pessoas que a Arca da Aliança (tão em voga no meio evangélico hoje em dia) não passava de uma figura de Cristo, e que já não serve pra nada. O que fariam os pastores que distribuem miniaturas da Arca por uma oferta módica de 100 reais?

O que seria daquela cidade se o culto a Diana foi exterminado? E os milhares de romeiros que vinham de todas as partes do mundo para ver de perto da imagem que, segundo o dogma, havia caído de Júpiter?

A pregação do Evangelho causou tamanho impacto que bagunçou o coreto daquela sociedade. Todos os esquemas foram desarmados. Era como se a correia dentada do motor que a mantinha em movimento se arrebentasse. De repente, todas as engrenagens pararam.

Alguma providência tinha que ser tomada!

Tomaram dois dos companheiros de Paulo e os levaram ao teatro para apresentá-los à turba enfurecida. Paulo quis se apresentar, mas foi dissuadido por algumas autoridades que lhe eram simpáticas.

No meio do tumulto, “uns clamavam de uma maneira, outros de outra, porque o ajuntamento era confuso. A maioria não sabia por que se tinha reunido”(v.32). Eis o retrato fiel de um povo“Maria-vai-com-as-outras”, que só serve de massa de manobra nas mãos dos poderosos.

A maioria sequer sabia o que estava acontecendo. Mas não hesitavam em unir suas vozes aos demais em protesto gratuito e desprovido de sentido.

Quando Alexandre se apresentou diante do povo, acenando com a mão como quem queria apresentar uma defesa, “todos unanimemente levantaram a voz, clamando por quase duas horas: Grande é a Diana dos Efésios!” (v.34). Repare nisso: Diana era considerada deusa em todo o império romano. Mas em Éfeso, seu culto tomou um vulto inédito. Ela não era apenas “Diana”, e sim “Diana dos Efésios”. Algo parecido com o apego que muita gente tem à sua denominação. Cristo deixa de ser Cristo, para ser o “Cristo dos Batistas”, o “Cristo dos Presbiterianos”, o “Cristo dos Pentecostais”, o "Cristo dos Católicos", e assim por diante.

Finalmente, o escrivão da cidade (provavelmente um figurão da sociedade efésia), conseguiu apaziguar a multidão, dizendo: “Efésios, quem é que não sabe que a cidade dos efésios é a guardadora do templo da grande deusa Diana, e da imagem que caiu de Júpiter? Ora, não podendo isto ser contraditado, convém que vos aquieteis e nada façais precipitadamente”(vv.35-36).

Para tentar controlar o manifesto, o tal escrivão apelou ao dogma religioso.

Dogma é aquilo que não se pode contestar. É tabu. Está acima do bem e do mal. Por isso, não se discute. É isso e tá acabado.

A igreja evangélica também tem seus dogmas. Ninguém se dá o trabalho bereiano de averiguar se o que está sendo pregado bate ou não com as Escrituras.

Se o líder falou, está dito. E se alguém se atreve a questionar, é logo taxado de herege, e acusado de estar tocando no ungido do Senhor.

Alguém viu quando a estátua caiu de Júpiter? De onde provinha tal certeza? Quem anunciou o fato? Provavelmente foram os sacerdotes do templo de Júpiter, que queriam atrair o público de volta ao templo a qualquer custo.

Há uma indústria religiosa que se alimenta de mentiras, de dogmas inquestionáveis, e de superstições baratas. É esta indústria que corre o risco de quebrar se a verdade do Evangelho for anunciada, e suas mentiras desmascaradas.

Os fiéis não passam de papagaios de pirata, repetindo o que ouvem sem ao menos refletir.

Se dissermos que não há mais maldição a ser quebrada, o que será daqueles cuja prosperidade advém desta mentira? Como poderão cobrar para que as pessoas participem de um Encontro num sítio, a fim de que vejam a Deus cara a cara, e assim, sejam libertas de suas maldições?

Veja: compromissos são feitos em cima desses argumentos chulos. A prestação da propriedade adquirida pela igreja. O programa de rádio. O material de propaganda. O salário do pastor. Tudo isso tem que ser garantido pelo esquema montado. É um ciclo retro-alimentado. Se alguém chega pregando algo que contrarie o esquema, é logo taxado de herege, falso profeta, etc., pois interrompe o ciclo, produzindo um colapso na estrutura.

É isto que o Evangelho faz! Todas as estruturas injustas entram em colapso, para que um novo sistema, com engrenagens justas, se erga, tendo como centro o Trono da Graça de Deus.

Acorde, povo de Deus! Voltemos para as Escrituras! Abandonemos a mentira, o argumento falso, o estelionato, e voltemos à prática do primeiro amor. Caso contrário, Deus nos julgará, e reduzirá nossa indústria religiosa (que chamamos carinhosamente de “igreja”) aos escombros.

Não ficará pedra sobre pedra!


Por Hermes Fernandes.

Fonte: Genizah/http://cristianismoconsciente.blogspot.com/2010/01/quem-mexe-com-industria-religiosa-mexe.html