terça-feira, 24 de agosto de 2010

CONFUSÃO NA ADORAÇÃO



Por Nelson Bomilcar

A falta de ensino bíblico marca a adoração confusa da nossa época

O que poderia ser motivo de unidade, hoje nos afasta. O que poderia ser um caminho de aliança, hoje faz romper; o que poderia ser motivo de edificação, faz ruir; o que poderia ser caminho de testemunho, impede incrédulos de enxergar e conhecer o cerne do evangelho! O que poderia exaltar a pessoa de Jesus, exalta pessoas, ministérios e “pequenos reinos”. Adoração confusa marca nossa época presente, refletindo a falta de ensino bíblico e interpretações estranhas das Escrituras!

Algumas décadas atrás, a igreja brasileira sofreu algumas divisões provocadas por entendimentos diferentes quanto à doutrina do Espírito Santo e a adoração. Na adoração e louvor, as divisões quase todas se deram por uma análise das “posturas externas”. Uns levantavam a mão, outros não, uns diziam aleluia, outros não, uns batiam palmas, outros não, uns dançavam, outros não, uns falavam em línguas, outros não, uns eram informais nos cultos públicos, outros não, etc.

Nossa adoração pública era influenciada por movimentos musicais que refletiam situações específicas vividas por algumas pessoas ou algumas igrejas em seus países de origem. Recebemos heranças e não há como negar, os missionários trouxeram para a igreja brasileira, e muito foi absorvido sem questionamento ou uma análise mais profunda. Por exemplo, dizia-se que não se podia usar música popular nos cânticos e hinos, e não nos dávamos conta que nossos hinários estavam repletos de músicas populares acrescidas com letras de temática bíblica ou cristã.

Tivemos a influência de Ralph Carmichael, Otis Schillings, Salomão Ginsburg, Kurt Kaiser, Beverly Shea (das cruzadas de Billy Graham), do ministério Maranatha Music, das cantatas de Peterson, etc. Em seu pano de fundo, refletiam momentos com ênfases doutrinárias vividas pela igreja na América do Norte. A igreja brasileira, ainda sem uma identidade na adoração, simplesmente absorvia estes modelos e produções, muitas delas de excelente qualidade musical e teológica, outras nem tanto.

Fomos nos tornando mais rebuscados na adoração e em nossas manifestações artísticas, ao mesmo tempo em que se confundia adoração somente com música. A igreja estava desmobilizada para a adoração pessoal e comunitária, vivia-se de apresentações musicais onde as pessoas “assistiam” os chamados “serviços de culto”. A tentação de copiar modelos era grande, a busca por novidades era intensa e não tínhamos muitos mentores que pudessem ajudar a igreja brasileira a crescer nesta compreensão da adoração.

Por isso que trabalhos como o do Pr. João Souza Filho, Gottfriedson, Asaph Borba (na época na Seara Latina Evangelística), Jairinho e Paulo César (na época na Palavra da Vida), Vencedores por Cristo, tornaram-se referenciais para muitos. E graças a Deus, bons referenciais. Fomos abençoados por eles.

A busca por modelos e novidades que vêm de fora continua como característica da igreja brasileira nestes diasA busca por modelos e novidades que vêm de fora continua como característica da igreja brasileira nestes dias. Uma geração mais enfraquecida em sua compreensão bíblica, pois quase desapareceram os mestres e pastores que pregam a Bíblia expositivamente, preocupados e cuidadosos em ensinar o que ela diz, considerando as línguas originais, contexto, regras básicas de interpretação bíblica, etc. Consequentemente, o povo está menos habilitado a discernir e avaliar o que estamos ouvindo e vendo, fazendo o filtro fundamental de “reter o que é bom”.

Infelizmente, em nossa geração consumista, instantânea e internética, que cultua a “imagem”, que “clama” novidades o tempo todo (Ron Kenoly e Graham Kendrick já são vistos como ultrapassados, imaginem só!), não buscamos os caminhos de simplicidade na adoração conforme ensinado por Jesus. Ele que nunca se iludiu ou se iludirá com manifestações e aparências externas na forma de religiosidade (Isaías 1) ou de eventos megalomaníacos para a mídia.

O lugar esquecido da adoração continua sendo o coração do homem, quebrantado, humilde e que reconhece a necessidade existencial e espiritual de conhecer, se entregar e andar com Cristo Jesus para de fato poder adorar a Deus (João 4:20-28). Enquanto isso, trabalhos musicais aportam numa velocidade incrível em nosso país, disseminando e despejando suas ideias e convicções sobre adoração, algumas bem pontuais, circunstanciais, e baseados na experiência ou revelações recebidas, de uma ou duas pessoas.

Tenho participado de um número enorme de encontros, retiros e congressos, onde, em nome de “contribuir” para a visão da igreja brasileira, colocam-se pessoas de todas as tendências, estilos e pensamentos diferentes, para que, como num grande supermercado, escolhamos a linha ou visão a seguir. A idéia é: “consuma o que desejar e for pertinente para a sua realidade”. Quase no slogan do comercial conhecido em nosso país “experimenta, experimenta, experimenta”…

O lugar esquecido da adoração continua sendo o coração do homemAo contrário de maturidade, abertura de mente e humildade, isto reflete nossa insegurança e imaturidade em não balizar caminhos saudáveis para a adoração através do que a Bíblia realmente ensina, isto é, numa exegese mínima aceitável.

Demonstra também uma grande fragilidade dos chamados líderes de adoração (termo que precisa também ser definido e explicado), que não ajudam as pessoas a discernir o que é bíblico e pertinente para a adoração. Falta-nos coragem de dizer o que cremos ou pensamos de fato e alertar sobre enganos que temos visto.

Em nome de uma “unidade cosmética”, refletida em muitos palcos, ficamos em nossos cantos, vendo proliferar ideias e manifestações perigosas; algumas altamente manipulativas e humanizadas, e não colocamos a cara para bater falando, exortando e alertando dos perigos que alienam as pessoas de uma adoração que deve estar presente na vida, no cotidiano, no dia a dia, no silêncio, nos relacionamentos, onde ninguém vê ou está olhando, sem rádio e TV .

Percebemos uma igreja que é altamente desmobilizada, por exemplo, na prática da ação social e ministério do socorro, adoração prática recomendada por Tiago (Tg 1.27). Onde estão as “reuniões poderosas de adoração” no serviço em favelas, hospitais, cuidando dos meninos e homens de rua, na evangelização e obra de missões, que transformam pessoas e realidades sociais? Onde está a adoração que abraça causas humanas e de justiça? Isto não passa nem de perto na compreensão de vários ministérios e líderes de adoração que caminham em nosso país.

Ouve-se sobre adoração profética, sem se definir o que significa adoração e o que se quer dizer com profético. Como se ouve tanta coisa sobre isto, e mal explicado, quase como um jargão, a confusão se instala. Usam-se de forma inadequada o termo profético e a palavra profecia.

O retorno ao louvor hebraico como pré-requisito na adoração “parece” o caminho mais seguro ou divino, mas é um engano; busca-se, então, um modelo de louvor chamado extravagante (precisamos buscar as bases bíblicas sobre o que é isto). Outro caminho trilhado tem sido a chamada adoração no e do “mover” (quem conseguiu mapear a ação do Espírito que sopra onde quer, ninguém sabe de onde ele vem e nem para onde vai?). Outras ênfases sobre “posturas” do adorador têm sido veiculadas, quase como mudança de hábitos ou comportamento, e não de transformação interna e pessoal, etc.

O Pai continua à procura dos que o adorem em espírito e em verdade. Como igreja, precisamos sempre do ensino e compreensão bíblica sobre adoração; o caminho está aberto para os mestres, pastores e os que ministram louvor em nosso país que têm seus ministérios reconhecidos. As pessoas estão olhando para estes referenciais, e, portanto, temos que ser mais prudentes.

Esclarecer e não confundir, ajudar as pessoas comuns a encontrar e adorar a Jesus na singeleza e simplicidade da vida, na meditação, na oração, na comunhão, na missão, na contemplação, e não em ritos mágicos, em oráculos e modelos decifrados por alguns especialistas e privilegiados dos “mistérios” da adoração.

Há uma grande responsabilidade sobre os que ensinam em ajudar a igreja brasileira a entender, expressar e viver a adoração em todas as suas dimensões. A capacitação, sem dúvida, é do Espírito Santo.Temos boas influências que vêm de fora de nosso país, cabe-nos orar, ouvir, discernir com sabedoria e mútuo conselho, e reter o que é bom, segundo a revelação da Palavra de Deus.

Fonte: Portal  creio.com.br

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O LADO DURO DA LIDERANÇA PASTORAL



Por: Vlademir Hernandes

Se examinarmos cuidadosamente a vida dos líderes da Bíblia, principalmente as dificuldades que tiveram e os obstáculos que enfrentaram ao longo do seu ministério, nós, pastores da atualidade, poderemos entender melhor muitos dos problemas pelos quais já passamos. E até prognosticar realisticamente os obstáculos que ainda poderão se manifestar.



Testes



A liderança pastoral tem um lado duro, que coloca à prova muitas virtudes da fé cristã, como a perseverança, a paciência, o domínio próprio, a cordialidade, a confiança no Senhor e o amor às pessoas. Esta constatação deveria também influenciar nas decisões que os aspirantes ao ministério precisam tomar quanto a manter ou não suas convicções quanto a se tornar pastores. Liderar a igreja de Cristo envolve a necessidade de superação constante de obstáculos, assim como a necessidade de suportar com longanimidade os constantes sofrimentos impostos nas mais variadas esferas dessa experiência. Esta realidade é inerente à grandiosidade da tarefa e à desesperada oposição do inimigo, já derrotado, mas temporariamente ativo e aplicado a infringir derrotas aos homens de Deus, chamados para pastorear sua igreja - que prevalecerá contra as portas do inferno. Para suportar esse lado duro, o pastor precisa desenvolver uma “pele grossa” que resiste às inúmeras fontes que podem ferir (até mortalmente) os mais sensíveis e melindrosos, que logo se perceberão inaptos para o ministério, tamanha a dor que sentem. Reflitamos em algumas experiências de líderes da Bíblia:



Ataques



Quando Paulo escreve aos Coríntios, notamos que se defende de críticas injustas que recebia ali. Em 1 Coríntios 9.1-2. se aplica a defender sua autoridade apostólica, não aceita por alguns crentes carnais daquela igreja. Em 2 Coríntios 10.8-11 se defende da acusação de ser duro por carta, mas frouxo pessoalmente. Críticas são como pedras lançadas contra o pastor, visando machucá-lo quando atiradas diretamente, ou visando machucar a sua imagem quando desferidas nas fofocas e maledicências das ovelhas menos maduras. Algumas críticas terão fundamento, outras não. Algumas serão feitas para ferir outras ferirão mesmo que esta não tenha sido a intenção de quem a fez. Precisamos aprender a lidar com elas. Algumas serão proveitosas e fomentarão crescimento, outras deverão ser tratadas como pecado. As medidas bíblicas contra elas deverão ser tomadas corajosamente, mas com o espírito de brandura típico dos maduros na fé (Gálatas 3.1). Já outras colocarão nosso ego à prova e desqualificarão rapidamente aqueles que não admitem, por orgulho próprio, que sejam atacados, contrariados ou mesmo rejeitados.



Reclamações



Igualmente tão desafiador quanto enfrentar críticas pessoais, quem desempenha a liderança pastoral também tem que tratar com as murmurações. Moisés experimentou essa dura realidade. Em Êxodo 15.24, 16.2, 17.3, Números 16.41 estão alguns relatos do povo murmurando contra Moisés e Arão. Em Números 21.5 vemos o povo murmurando contra o próprio Senhor, que os castiga com serpentes para que se arrependam de sua postura. O pastor sempre encontrará pessoas reclamando de alguma coisa, descontentes com alguma situação, preferindo que as coisas sejam diferentes do que são. A murmuração é uma manifestação de carnalidade, e muitas vezes vem de pessoas sobre as quais nutríamos uma expectativa de mais maturidade e tolerância. Isso causa em nós frustração e, eventualmente, dor por ter que tratar com elas.



Perseguições



E por mencionar manifestações de carnalidade, há de se lembrar que existem outras situações em que os mais carnais lançam comentários contundentes para machucar os pastores. Lamentavelmente, tem-se avolumado os casos de pastores injustamente perseguidos e até destituídos dos seus ministérios sem receber nenhum respaldo. Às vezes, porque (1) discordaram de algum membro ou líder influente, ou (2) ameaçaram a hegemonia ditatorial de alguma família que quer exercer primazia, ou porque (3) combateram alguma prática pecaminosa, fazendo com que alguns se sentissem ameaçados e vulneráveis.



Há muitos “Diótrefes” por aí perseguindo injustamente homens de Deus, tal como aquele de 3 João, que boicotava os missionários que vinham de longe para pregar o Evangelho, não lhes dando acolhida e proibindo o restante da igreja de os receberem. Ele “gostava de exercer a primazia” e não dividia sua posição de honra com ninguém.



Neemias foi caluniado, como vemos em Neemias 6.6. Pessoas queriam causar-lhe mal (Neemias 6.2). Até subornaram profetas para lhe falar mentiras em nome de Deus, para prejudicá-lo.(Neemias 6.10-14). Não é difícil entender que um pastor íntegro e comprometido com a Palavra de Deus torna-se facilmente uma ameaça em igrejas corrompidas pela carnalidade. Receber oposição covarde e agressiva nesse cenário não é um fato surpreendente. A Palavra de Deus nos avisa, em 2 Timóteo 3.12 que todos que quiserem viver piedosamente serão perseguidos. No caso dos pastores piedosos, às vezes a perseguição vem de dentro da sua própria igreja.


fonte: http://www.creio.com.br/2008/lideranca01.asp?noticia=274