quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Virtude ou veneno

Por Rodolfo Garcia Montosa

“Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda Satanás!”
Mateus 16.23

Minutos atrás desta grande repreensão, o apóstolo Pedro havia sido publicamente elogiado por sua espantosa declaração: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo” (v.16). De repente, o discernimento perde lugar para a estultice. O bom comunicador é requisitado a se calar. O sabedor revela ignorância. A boa iniciativa perde lugar para a precipitação. O amigo torna-se inimigo. Mas o que aconteceu?

Pessoas fracassam em sua carreira por fenômenos comportamentais. As falhas na caminhada decorrem de quem realmente as pessoas são e como agem em certas ocasiões. É curioso notar que a mesma virtude adotada em certo ambiente, torna-se defeito quando ultrapassa certos limites.

O remédio torna-se veneno quando aplicado em dosagem excessiva. Qualquer qualidade de personalidade pode ser a própria pedra de tropeço, e o risco é proporcional à amplitude do talento.

Assim é que o autoconfiante torna-se arrogante quando pensa que está sempre certo e os demais sempre errados. O carismático torna-se melodramático quando precisa ser o centro das atenções. O extrovertido torna-se temperamental quando as vulnerabilidades de sua alma dominam suas palavras. O discreto torna-se retraído quando se fecha para as difíceis interações relacionais. O racional torna-se cético quando “acredita” somente na objetividade de dados e fatos.

O perspicaz torna-se ardiloso quando invade os limites de normas e leis. O criativo torna-se excêntrico na busca insaciável de ser diferente. O crítico torna-se resistente quando contrariado em sua opinião. O detalhista torna-se perfeccionista quando se concentra demasiadamente no micro perdendo a visão do macro. O político torna-se bajulador quando teme perder sua popularidade.

Como evitar que nossa melhor virtude não se torne um veneno na caminhada? É fundamental a criação de um ambiente de discernimento e expressão quando se ultrapassa o limite. O melhor tempero é quando se equilibra firmeza com ternura, franqueza com brandura, transparência com respeito, verdade com afeto.

É necessário amigos maduros na caminhada, do tipo que Jesus foi para Pedro ao alertá-lo duramente que estava passando dos limites. Foi assertivo como expressão de amor. E Pedro sabia disso, por isso não ficou melindrado.

Pergunte sempre se sua virtude está virando veneno, se seus atributos tornaram-se defeitos. Perceba o que estão dizendo aqueles que estão interagindo com você, mesmo quando não utilizam palavras.

Aprenda o momento de acelerar, frear, ou dar um passo para trás seguindo a ordem “arreda Satanás”.

fonte: www.institutojetro.com

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Como Preparar Sermões Expositivos

Por John Stott


DESENVOLVENDO O TEMA

Havia um pastor episcopal que era muito preguiçoso e há muito tempo já havia desistido de preparar os seus sermões. Sua congregação era de pessoas de pouco cultura, Ele tinha o dom da oratória, de modo que era muito fácil para ele pregar sem qualquer preparação. Além de preguiçoso, ele também era muito piedoso, de modo que racionalizava sua preguiça como muitas vezes os piedosos fazem. Ele fez um voto muito solene: jamais voltaria a preparar os seus sermões, falaria de improviso e confiaria que o Espírito Santo lhe daria o que falar. Por alguns meses, tudo correu muito bem.

Certo dia, faltando 10 minutos para as 11 horas, na manhã de domingo, um pouco antes de o culto começar, quem entra pela porta da igreja? O bispo. Era uma visita de surpresa. Ele sentou-se num dos bancos. O pastor ficou imaginando o que deveria fazer. Não havia preparado o seu sermão. Pensou que podia enganar a congregação, mas sabia que não conseguiria enganar o visitante. Ele foi até ao bispo, cumprimentou-o e lhe disse: "Acho que devo explicar-lhe uma coisa. Alguns anos atrás eu fiz um voto de que nunca iria preparar os meus sermões, mas confiaria no Espírito Santo". "Está tudo bem", disse o bispo, compreendendo muito bem a situação. O culto começou, mas, no meio do sermão, o bispo levantou-se e saiu. Quando o culto terminou, o pastor foi para o vestíbulo da igreja. Encontrou sobre a mesa um bilhete com a letra do bispo e nele estava escrito o seguinte: "Eu te absolvo do teu voto".

Agora quero contar-lhes outra história, desta vez, de um pastor presbiteriano arrogante. Este pastor morava ao lado da igreja. Ele costumava vangloriar-se de que todo tempo que precisava para se preparar era o tempo que gastava para ir de casa à igreja. Você pode imaginar o que os presbíteros fizeram. Mudaram a casa para 8 km de distância. Assim, ele tinha mais tempo para preparar os sermões.

Agora, para os batistas eu queria citar o caso de Spurgeon ter como hábito vir ao púlpito despreparado. Dizer isso de Spurgeon seria um erro imperdoável!

Espero que concordem comigo que temos que preparar nossos sermões. Como fazer isto? É uma questão muito subjetiva. Não há maneira única de preparar sermões. Cada pastor tem que fabricar o seu próprio método. Seria um erro simplesmente copiar um do outro. No entanto, penso que a maioria passa por 5 estágios na preparação depois de ter escolhido o texto. É sobre esses que quero falar-lhes. Vamos partir do princípio de que você já tenha escolhido o texto.

1. estágio - Meditar sobre o texto

É necessário ler e reler o texto bíblico. Depois tem que lê-lo e relê-lo mais uma vez. É preciso fazê-lo girar em sua mente, vez após vez. É necessário ruminá-lo como o animal bovino rumina o capim. Sugá-lo como o beija-flor suga a flor. Chupá-lo como uma criança chupa uma laranja, até que não haja mais nada para tirar dela. É preciso preocupar-se com o texto como um cachorro preocupa-se com o seu osso. Essas são algumas metáforas que mostram como você pode envolver-se com o texto.

Talvez você esteja se perguntando: o que significa a palavra "meditar"? Acho que é uma combinação de estudo e oração. Gosto de passar o tempo de meditação ajoelhado, com a Bíblia aberta à minha frente, não porque eu adore a Bíblia, mas porque adoro o Deus da Bíblia. A posição de estar de joelhos é uma posição de humilde expectativa. À medida que eu estudo aquele texto, usando a mente que Deus me deu, estou clamando ao Espírito Santo por iluminação. Meditação é estudo regado com oração.

Conheço pastores que são grandes estudantes. Precisavam ver as suas bibliotecas. As paredes estão cobertas de livros. E sobre suas mesas há pilhas e pilhas de comentários, de dicionários e de chaves bíblicas. Parecem estar sempre afogados em livros. Eu admiro seu estudo, mas eles não oram muito.

Eu conheço pastores que cometem o erro oposto. São grandes homens de oração, mas não estudam muito. Vamos manter juntos estudo e oração. 2Timóteo 2.7 é um grande texto. Nele, Paulo escreve: "Considera o que digo, porque Deus te dará compreensão em todas as coisas". Nós fazemos a nossa parte, que é estudar ou considerar, e Deus dá o entendimento. Não devemos separar aquilo que Deus uniu.

Enquanto você medita, é bom fazer perguntas a si mesmo. Pergunte-se: "O que o texto quer dizer?", "O que o texto diz?". Primeiro, você estará tratando do significado do texto e, em segundo lugar, você estará tratando da mensagem do texto para o dia de hoje.

Precisamos perguntar-nos as duas coisas. Precisamos perguntá-las na hora certa. Muitos pastores estão tão ansiosos em conseguir uma mensagem para hoje, que não se disciplinam em descobrir o significado do texto, e não chegam a descobrir a sua mensagem para os dias de hoje. Precisamos manter os dois juntos, em equilíbrio.

Não posso falar agora sobre interpretação bíblica, mas quero dar-lhes um princípio básico. Foi enunciado por um homem chamado E.D. Hirsh. Seu livro é chamado "Validade na Interpretação". Nesse livro ele não trata apenas de intepretação bíblica.

Os princípios são os mesmos quando você interpreta qualquer documento. Pode ser um documento literário, um documento legal ou um documento bíblico. O grande princípio é o seguinte: O texto quer dizer aquilo que seu autor quis dizer. Portanto, a pergunta é: "O que o autor quis comunicar quando ele escreveu?".

Devemos pensar sobre as palavras e o que elas significaram quando ele as usou. Não podemos interpretar até ouvirmos o que o autor quis dizer com suas palavras. Eu lhes imploro que não omitam esse estágio da sua preparação. É uma disciplina essencial para cada um de nós. Mas também não podemos parar aí.

Uma vez entendido o significado do texto, vamos descobrir o que ele diz para nós hoje. Podemos pensar sobre as pessoas em nossa congregação e nos perguntar: "o que o texto tem a dizer para eles?". Nesses dois estágios não há qualquer substituto para o tempo.

Dê a si mesmo tempo para meditar. Não corra para pegar os comentários cedo demais. Faça a sua meditação própria, com a Bíblia aberta, de joelhos, usando
a iluminação do Espírito, usando a sua mente. Durante todo esse tempo vá escrevendo seus pensamentos. Não precisa haver uma ordem particular para isso. Qualquer pensamento que venha à sua mente é digno de ser escrito. Aqui chegamos, então, ao segundo estágio.

2. estágio - Isole o pensamento dominante

Todo texto tem um tema principal. Devemos meditar sobre ele até que esse princípio central surja. Qual é a ênfase principal da Palavra de Deus nesta passagem? O que Deus está dizendo neste texto? Nosso dever é meditar e orar para penetrarmos neste texto; até que nos submerjamos nele; até que ele passe a controlar a nossa mente e a colocar em fogo nosso coração; e até que nos tornemos servos do texto.

Alguns pregadores não são servos, mas senhores do texto. Eles torcem e manipulam o texto de modo a fazê-lo dizer o que eles querem. Temos que nos arrepender quando fazemos isso com a Palavra de Deus. Devemos permitir que a Palavra de Deus nos controle e não controlar a Palavra de Deus.

3.° estágio - Prepare o material para ajudar o pensamento dominante

Há duas coisas que vão ajudar nisto. A primeira é negativa e a segunda positiva. Em primeiro lugar, seja impiedoso em rejeitar o que é irrelevante. O que temos diante de nós até agora é uma porção de idéias que, sem pensar, nós escrevemos e aqueles pensamentos dominantes que já deixamos bem claros. Temos agora que colocar em ordem todo esse material de modo que ele se subordine e siga o pensamento dominante.

Muitos de nós achamos essa tarefa muito difícil. Talvez tenhamos idéias cintilantes, talvez tivemos pensamentos abençoados que anotamos no papel e queremos arrastá-los para o sermão de qualquer maneira. Não o faça! Tenha a coragem de deixá-los de lado. Eles se tornarão úteis em alguma outra ocasião. Mas se eles agora não servem ao pensamento dominante, deixe-os fora. Isso exige grande determinação mental. Em segundo lugar, devemos subordinar o material de modo que ele sirva ao tema.Isso me leva a dizer algo sobre estrutura, palavras e ilustrações.

Todo sermão tem que ter uma estrutura. Muitos pregadores, é claro, têm três pontos. É possível ter apenas dois, ou quatro, ou até mesmo 5, como acontece comigo agora. Mas é impressionante a frequência com que nós voltamos aos três pontos. Há uma condição que é essencial para uma boa estrutura: Ela deve ser natural e não artificial.

Alguns de vocês já devem ter ouvido falar de Alexander Maclaren. Foi um grande pastor batista na lnglaterra, no século passado. Algumas de suas exposições da Bíblia ainda são impressas hoje. Ele era especialista nesta estrutura natural. Os amigos costumavam dizer que ele guardava algo em seu bolso. Era um pequeno martelo dourado. Com esse martelo dourado ele batia sobre o texto. À medida que ele batia sobre o texto, esse se abria nas suas divisões naturais. É disto que todos nós precisamos: de um martelinho dourado.

Mudando a metáfora, as divisões do texto têm que se abrir como as pétalas de uma rosa abrindo-se ao sol. É importante que dividamos a Palavra de Deus naturalmente, não impondo uma estrutura artificial sobre o texto.

As palavras também são extremamente importantes. Todos percebemos isso quando temos que mandar um telegrama. Temos apenas 12 ou 15 palavras e passamos muito tempo preparando a nossa mensagem de modo que nossas palavras não sejam mal entendidas.

Cremos que Deus Se deu ao mesmo trabalho. Creio na inspiração verbal da Bíblia, ou seja, que a inspiração se estendeu às mesmas palavras que Deus escreveu. Se as palavras foram tão importantes para Deus, tem que ser importantes para nós.

Não estou sugerindo aqui que leiamos os nossos sermões. Creio, porém, que é uma boa disciplina na nossa preparação, que escolhamos bem as palavras que vamos usar para expressar os nossos pensamentos. Além de exatas, as palavras têm que ser simples. Não tem sentido falar como se tivéssemos engolido um dicionário.

Sejamos simples no nosso palavreado e também vívidos, de modo que as palavras transmitam uma imagem mental às pessoas que estão ouvindo. Quero particularmente exortar os pregadores mais jovens a levarem bastante tempo escrevendo e preparando o sermão. Só depois de termos feito isso durante 5 ou 10 anos é que vamos aprender a colocar os nossos pensamentos em palavras claras.

Agora, as ilustrações. Eu sei que uma das minhas fraquezas na área da pregação é que não uso ilustrações suficientes. A mesma coisa acontece com meus livros. Depois que um dos meus livros havia sido publicado, um amigo me escreveu profundamente crítico quanto àquela obra contendo tão poucas ilustrações: "Seu livro é como uma casa sem janelas; é como um bolo sem frutas".

Achei que as observações do meu amigo foram muito rudes, mas, infelizmente, elas eram bem exatas. Por isso todos nós precisamos de ilustrações. Qual o propósito de uma ilustração? É tornar concreto o que é abstrato.

Alguns minutos atrás eu escrevia sobre meditação. "Meditação" é uma palavra abstrata. Muitas pessoas nem sabem o que é meditação, de modo que eu tentei torná-la uma palavra concreta. Eu lhes dei quatro imagens sob forma de palavras. Devemos ruminar o texto, como uma vaca rumina o capim. Penetrá-lo, como um beija-flor penetra a flor. Preocuparmo-nos com ele como o cachorro se preocupa com seu osso.

Passamos da vaca para o beija-flor, do beija-flor para a criança, da criança para o cachorro. Cada uma dessas coisas era uma imagem em sua mente. Eu usei essas ilustrações deliberadamente, a fim de transformar o que era abstrato em algo concreto.

Há um provérbio oriental que explica isso: "eloqüente é aquele que consegue transformar o ouvido em olho, de modo que os seus ouvidos possam ver aquilo que ele fala". Portanto, temos que usar a nossa imaginação, para que as pessoas vejam o nosso pensamento.

Sinais de Igrejas que se desviam

Por Joel R. Beeke

Joel Beeke é pastor da igreja Heritage Reformed Congregation, em Grand Rapids, MI, EUA. É presidente, Deão acadêmico e catedrático de Teologia Sistemática e Homilética do Seminário Reformado Puritano. Possui Ph.D pelo seminário Westminster em Teologia Reformada e Pós-reforma. Pr. Beeke atua como preletor em diversas conferências em várias partes do mundo, inclusive o Brasil; é autor e co-autor de mais de 50 livros, alguns já em português, como o livro “Vencendo o Mundo” (Editora Fiel) e outros em processo de tradução. É casado com Mary Beeke com quem tem 3 filhos


A igreja contemporânea está seguindo a Palavra e os caminhos do Senhor, detestando todos os outros caminhos? O temor do Senhor, o amor à verdade e à glória de Deus e o desejo de andar de acordo com todos os mandamentos do Senhor prosperam na igreja de Deus? Diante de Deus e dos homens, temos de confessar, honestamente, que a resposta é não. Sim, ainda existe uma verdade exterior, um crescimento visível e privilégios espirituais públicos em um nível que a igreja das eras passadas dificilmente possuía. Israel podia reivindicar possuir estas coisas — verdade exterior, crescimento visível e privilégios espirituais públicos — enquanto, ao mesmo tempo, se desviava do Senhor...

Uma igreja tende a desviar-se de um fundamento seguro. Por isso, Deus convoca a sua igreja a conscientizar-se de como se inicia, floresce e termina o desvio. Temos de conhecer bem os ardis e os planos metódicos de Satanás que procuram levar a igreja a uma abominável condição de desvio. À luz da revelação do Espírito Santo, a história de Israel e da igreja mostram um padrão claro de desvio gradual, um padrão que consideraremos em detalhes.


1. Quando a igreja começa a desviar-se, o primeiro sinal visível é, comumente, um aumento do mundanismo. Na vida diária, na conversa e, inclusive, no vestir e na moda, o espírito do mundo começa a infestar a igreja. Aquilo que se introduziu com vergonha na igreja começa a andar com liberdade, sendo freqüentemente encoberto ou ignorado, em vez de exposto e admoestado. A linha nítida de separação entre a piedade e o mundanismo começa a se tornar obscura. Em vez de andarem em direções diferentes, o mundo e a igreja começam a ter mais coisas em comum, trazendo maior detrimento para a igreja. Alguns dos membros da igreja começam a ir a lugares mundanos, tomar parte nos entretenimentos do mundo e fazer amigos das pessoas do mundo.
Alguns crentes introduzem em seu lar todos os tipos de meios de comunicação sem avaliar que controle exercerão. Por conseqüência, logo se tornam habituados à mentalidade contemporânea do mundo. Pessoas mundanas, entretenimentos mundanos, costumes mundanos, lugares mundanos — não foi sobre essas coisas que Oséias advertiu, quando o Espírito Santo o guiou a escrever: “Efraim se mistura com os povos” (Os 7.8).
O pecado de mundanismo crescente é o primeiro passo da igreja em direção ao declínio e um passo trágico espiral do desvio.

2. O mundanismo inclina a igreja a desviar-se cada vez mais e a uma condição insensível de incredulidade. O próprio Senhor Jesus lamentou a respeito de sua geração: “Mas a quem hei de comparar esta geração? É semelhante a meninos que, sentados nas praças, gritam aos companheiros: Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não pranteastes” (Mt 11.16-17).
Isso não é um retrato da igreja de nossos dias? Se o tom fúnebre da lei é pregado, quantos pecadores choram? Se o tom nupcial do evangelho é proclamado, quantos pecadores infelizes são trazidos ao regozijo? Em geral, podemos dizer que a lei parece não causar tremor, e o evangelho parece não despertar anelo... Cada um de nós poderia confessar: “Tornei-me insensível à lei e ao evangelho — temo o próprio inferno”? Até a pregação sobre a condenação do inferno está causando menos e menos impressão.
E a pregação sobre o céu? Por natureza, não queremos nem uma, nem outra. Um ateísta disse certa vez: “Pode ficar com o seu céu e o seu inferno; dê-me apenas esta terra”. Não ousamos dizer tal coisa, mas será que vivemos com isso em nosso intimo? A incredulidade nos torna ateístas. O inferno não é mais inferno, o céu não é mais céu, a graça não é mais graça, Cristo não é mais Cristo, Deus não e mais Deus, e a Bíblia não é mais a eterna Palavra de Deus.
A incredulidade também nos torna insensíveis à verdade. Podemos saber a verdade em nosso intelecto, mas ela não nos mudará eternamente, se não for enxertada em nosso coração.

3. A incredulidade leva a igreja a desviar-se rumo a uma condição insensível de indiferença. A incredulidade nos leva a perder todo o interesse pela verdade. Quantas pessoas estão realmente interessadas em ouvir a verdadeira doutrina sendo proclamada do púlpito, a fim de aprenderem sobre a morte em Adão e a vida em Cristo? Estamos interessados em guardar as doutrinas fundamentais da soberania de Deus e da responsabilidade do homem? Sentimos deleite em ouvir ambas sendo pregadas por completo, à medida que fluem do texto bíblico que está sendo exposto? Devemos ter desejo de ouvir todas as ricas doutrinas das Escrituras sendo pregadas em sua plenitude, todas elas fundamentadas no âmago do evangelho — Jesus Cristo, e este crucificado —, assim como os raios estão firmados no cubo de uma roda.
Estamos interessados nas doutrinas do amor infinito de Deus e da redenção completa por meio do sangue de Cristo? Cuidamos em entender a necessidade do Espírito Santo, da justificação, da santificação, da perseverança? Precisamos estimar a doutrina experimental, em vez de nos tornarmos indiferentes para com ela.
Temos interesse em ouvir sobre a necessidade da graça salvadora, a plenitude dessa graça e os seus frutos? Finalmente, não podemos ser indiferentes em relação a ouvir sobre as marcas da graça — marcas que fazem distinção entre a obra de Deus e a obra do homem, a fé salvadora e a fé temporária, o verdadeiro tremor (Fp 2.12) e o tremor demoníaco (Tg 2.19), as convicções inalteráveis e as convicções comuns. Vivemos em uma época terrivelmente descuidada e indiferente.
O interesse pela verdade está desaparecendo, e muitas das distinções que acabamos de mencionar estão se tornando desconhecidas, cada vez mais, até mesmo para os membros de igrejas... Alguns não podem mais ver a diferença entre as marcas bíblicas da graça manifestadas na experiência diária e as marcas da graça demonstradas na história.
Não tomam tempo para ler as obras de nossos antepassados e estudar as diferenças; não ouvem sobre as distinções e se tornam apáticos. Por natureza, não nos preocupamos com nenhuma dessas coisas. Vivemos no mesmo nível das bestas. Nossa vida parece não ser mais do que trabalhar, comer e morrer. Somos inclinados a desviar-nos, por amor à nossa reputação e à nossa vida. Colocamos o “eu” acima da doutrina, e essa é a razão por que podemos continuar vivendo sem nos convertermos.
Os filhos de Deus amam a pregação perscrutadora, experimental e discriminatória, não importando quão difícil ou estressante ela seja. Por natureza, preferimos uma falsa segurança ou uma reivindicação presunçosa, mas os filhos de Deus preferem ser mortos a serem enganados. Por experiência, eles sabem que “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17.9). Sabem que é muito mais fácil alguém ser enganado do que conhecer a verdade. Portanto, nem choro intenso, nem noites de oração a sós com Deus, nem mensagem falsificada (embora pareça-se muito com a mensagem genuína), nada disso os satisfará. Eles precisam de mais do que lágrimas, orações, arrependimento, indignidade e humildade. Precisam de algo e alguém de fora deles mesmos. Precisam de Cristo. Necessitam de Cristo e da verdadeira doutrina ardendo em sua alma por meio do Espírito Santo. E nunca experimentarão isso de modo suficiente. Eles clamarão: “Senhor, confirma essa mensagem com o Teu selo divino de aprovação, para que eu saiba que é a Tua doutrina inscrita nos recessos de minha alma, e não a minha própria doutrina —a minha própria inscrição, lágrimas e obras”.
A vida dos filhos de Deus é caracterizada por buscarem, cada vez mais, a doutrina produzida pelo Espírito Santo, experimentada na alma e abençoada pelo céu. Eles anelam pela verdade que os libertará e banirá toda dúvida com seu poder dominador — a verdade que lhes enternecerá e abençoará a alma. Esse é também o seu desejo? Ou a sua religião não passa de tradição misturada com convicções comuns e ocasionais? Um cristianismo trivial e um conhecimento diminuto satisfazem a sua consciência? E, por isso, você coloca a sua alma em segundo plano? Você está contente com a estrutura da religião, sem o conhecimento no coração? Se você pode sinceramente responder “sim”, então está se desviando a cada dia, a cada sermão, a cada domingo. É uma verdade severa, mas autêntica: por natureza, estamos pedindo ao Senhor o caminho mais curto para a condenação. Somos inclinados a nos desviar, rumando diretamente ao inferno. Que o Senhor abra os nossos olhos, antes que seja tarde demais!

4. A indiferença produz seu companheiro mais próximo no percurso do desvio: a ignorância. Quando olhamos para trás, pensamos em Edwards, Whitefield, Owen, Bunyan e outros de nossos antepassados e consideramos que os sermões deles eram entendidos pelas pessoas comuns, precisamos temer que as palavras do Senhor ditas a Israel também são verdadeiras quanto à igreja de hoje: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento” (Os 4.6). 5. A ignorância intelectual e espiritual da verdade leva à praga da morte espiritual na igreja. O povo de Deus tem de começar consigo mesmo.
O que aconteceu com aquelas épocas em que as pessoas eram comovidas, abaladas e convencidas pelo Senhor semanalmente? Os filhos de Deus deveriam confessar hoje: “Oh! que isso acontecesse uma vez por mês ou uma vez por ano!” Onde estão os fervorosos exercícios da vida espiritual? “Oh!”, eles confessam, “estão mortos! E o que sobra é maná deteriorado!”

6. A morte espiritual tende a desviar-se para a centralidade no homem. Se o homem é o centro da igreja, ele se torna o objeto de toda conversa, quer seja idolatrado, quer seja criticado; e Deus e sua Palavra são colocados de lado. Multiplica-se a conversa centralizada nos oficiais e ministros da igreja, e julgamos uns aos outros. Um pastor é bom; o outro, razoável; e um terceiro, não é bom de maneira alguma. Vivemos em dias em que os pastores são avaliados de acordo com escalas criadas pelo homem, e não pela escala divina da Palavra e do testemunho de Deus... A centralidade no homem é uma maldição na igreja, uma blasfêmia contra o nome de Deus, o fruto de morte espiritual e a garantia de nenhuma bênção pessoal, a menos que o Senhor a destrua! Isso é ilustrado claramente pela história de uma mulher que recebeu uma bênção no primeiro sermão que ouviu de Ebenezer Erskine... ela viajou muitos quilômetros para ouvi-lo novamente, mas não recebeu nenhuma bênção. Erskine teve graça e sabedoria para responder: “Senhora, isso é fácil de explicar. Ontem, a senhora ouviu a Palavra de Jesus Cristo; hoje, a senhora veio para ouvir as palavras de Ebenezer Erskine”.

7. Isso nos leva ao último passo de uma igreja que se desvia da verdade: a centralidade no homem produz o fruto de uma expectativa secular em relação a Deus. A expectativa secular se baseia nas atividades de homens, criadas por se vincular a elas o nome e a bênção de Deus. Nisso, não compreendemos que temos falsificado toda a expectativa de nossa parte.
Nenhuma expectativa santa é fruto de uma indignidade piedosa centralizada no homem, que rebaixa a Deus ao nível do homem. Oh! que as igrejas transbordem de pessoas que estão cheias de expectativa santa em Deus e de uma compreensão adequada de sua própria indignidade! Somente o Espírito Santo opera essa expectativa, cujo olhar se fixa muito além do “eu” e do homem.
Embora nossos pecados se acumulem até aos céus, essa expectativa santa percebe que a justiça vicária e satisfatória de Cristo ascende até ao trono de Deus e recebe o selo de sua aprovação. Com base nisso, a expectativa santa recorre ao trono da graça e ali intercede — não diante de um deus insignificante, e sim diante do grande Deus trino, do céu e da terra!
A expectativa santa não pode se contentar com mundanismo, incredulidade, indiferença e ignorância. Ela abomina a apostasia e busca a honra de Deus, a conversão dos pecadores e o bem-estar da igreja! A única esperança da igreja é Deus, pois somente Ele pode reavivar sua igreja desviada. Peça-Lhe que se lembre de nós em Cristo Jesus, o único fundamento de apelo e expectativa! Que Ele envie seu Espírito e receba tanto a sua igreja como a nós mesmos... que o homem seja crucificado, Satanás, envergonhado, e multiplicados os intercessores perante o trono da graça.

Que Deus receba o seu lugar legítimo entre nós, por conquista divina. “Ele, tudo em todos; nós, nada em nada”.

Extraído do livro Backsliding: Its Disease and Cure (Desviar-se: Sua Condição e Cura), publicado por Reformation Heritage Books.


http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=242

Seu Cristianismo e sua Igreja

Por Mark Dever.

Mark Dever é pastor da Igreja Batista de Capitol Hill, no distrito de Washington; fundador do ministério 9Marcas e um dos organizadores do ministério Juntos Pelo Evangelho; conferencista internacional e autor de vários livros, incluindo os livros “Nove Marcas de Uma Igreja Saudável”,”Refletindo a Glória de Deus” e “Deliberadamente Igreja”, todos publicados em português pela Editora FIEL.


Às vezes, ministérios em campus universitários pedem-me que fale aos seus estudantes. Em diversas ocasiões, tenho começado assim minhas considerações: “Se você confessa ser um cristão e não é membro da igreja que freqüenta com regularidade, preocupa-me o fato de que você pode estar indo para o inferno”.

Certamente, esse é o tipo de afirmação que atrai a atenção deles.

Ora, estou procurando causar uma reação chocante? Acho que não. Estou tentando amedrontá-los para que se tornem membros da igreja? Não, de modo algum. Estou dizendo que unir-se a uma igreja faz de alguém um cristão? Certamente não. Jogue fora e despreze qualquer livro ou pregador que diz isso.

Então, por que começo com esse tipo de advertência? Porque desejo que eles percebam a importância e a necessidade de uma igreja local saudável na vida cristã e comecem a compartilhar a paixão pela igreja que caracteriza tanto a Cristo como os seus seguidores.

No ocidente (e outros lugares?), muitos cristãos tendem hoje a ver seu cristianismo como um relacionamento pessoal com Deus e não mais do que isso. Eles sabem que esse relacionamento pessoal tem implicações na maneira como devem viver. Contudo, inquieta-me o fato de que muitos cristãos não compreendem como esse relacionamento primordial com Deus necessita de inúmeros relacionamentos pessoais secundários — os relacionamentos que Cristo estabeleceu entre nós e seu corpo, a Igreja. Deus não deseja que esses relacionamentos sejam escolhidos de conformidade com nossos caprichos entre os muitos cristãos que estão “lá fora”. Ele quer estabelecer-nos em um relacionamento com um corpo de pessoas de carne e osso, que pisarão nos seus calos.

Por que me preocupo com fato de que, se você confessa ser um cristão, mas não é um membro firme da igreja local que freqüenta, pode estar indo para o inferno? Por um momento, pense comigo no que significa ser um cristão.

O que é um cristão?

Um cristão é alguém que, antes e acima de tudo, foi perdoado de seu pecado e reconciliado com Deus, o Pai, por meio de Jesus Cristo. Isso acontece quando a pessoa se arrepende de seus pecados e coloca sua fé na vida perfeita, na morte substitutiva e na ressurreição de Jesus Cristo, o Filho de Deus.

Em outras palavras, um cristão é alguém que se esgotou a si próprio e todos os seus recursos morais. Reconheceu que, em desafio à lei de Deus, havia dedicado sua vida à adoração e ao amor às coisas e não a Deus — coisas como a profissão, a família, aquilo que o dinheiro pode comprar, a opinião das pessoas, a honra de sua família e da comunidade, o favor dos falsos deuses de outras religiões, os espíritos deste mundo ou mesmo as coisas boas que uma pessoa pode fazer. Também reconheceu que esses ídolos são senhores duplamente condenatórios. Seus apetites nunca são satisfeitos nesta vida. E provocam a ira justa de Deus na vida por vir, uma morte e um julgamento, dos quais o cristão experimenta um pouco nas infelicidades deste mundo.

Portanto, um cristão sabe que, se tivesse de morrer hoje à noite e comparecer diante de Deus, e Ele lhe dissesse: “Por que devo permitir que você entre na minha presença?” O cristão diria: “Senhor, não deves deixar-me entrar. Tenho pecado contra Ti e tenho para contigo uma dívida que sou incapaz de pagar”. No entanto, ele não pararia aí. Continuaria: “Mas, por causa de tuas grandes promessas e misericórdia, confio no sangue de Jesus Cristo que foi derramado como substituto por mim e pagou o meu débito moral, satisfazendo as tuas exigências santas e justas e removendo a tua ira contra o meu pecado!”

Com base na garantia de ser declarado justo em Cristo, o cristão é alguém que descobriu o começo da liberdade da escravidão ao pecado. Os ídolos e outros deuses nunca podiam ser satisfeitos, e seus apetites, plenamente atendidos; mas a satisfação de Deus quanto à obra de Cristo implica que a pessoa comprada da condenação por meio da obra de Cristo agora é livre! Pela primeira vez, o cristão é livre para virar suas costas ao pecado, não para substituí-lo servilmente com outro pecado, e sim com o desejo pelo próprio Cristo e pela norma de Cristo para a sua vida; este desejo é outorgado pelo Espírito. Adão tentou remover Deus do trono e tornar-se divino. O cristão, porém, se regozija no fato de que Cristo está no trono. Medita na vida de perfeita submissão de Jesus à vontade e às palavras do Pai, procurando ser semelhante ao seu Salvador.

O cristão é, primeiramente, alguém que em Cristo foi reconciliado com Deus. Cristo satisfez a ira de Deus, e o cristão é agora declarado justo diante dEle, chamado a uma vida de retidão, e vive na esperança de uma dia estar diante da majestade de Deus, no céu.

E isso não é tudo! Em segundo lugar, o cristão é alguém que, pela virtude de sua reconciliação com Deus, foi reconciliado com o povo de Deus. Você lembra a primeira história narrada na Bíblia depois da queda de Adão e Eva e sua expulsão do jardim? É a história do primeiro ser humano sendo assassinado por outro — Caim matando Abel. Se o ato de tentar remover Deus do trono é, em si mesmo, uma tentativa de colocarmos a nós mesmos ali, então, certamente não deixaremos que outro ser humano ocupe esse lugar. Não lhe daremos nem uma chance. A atitude de Adão em quebrar a comunhão com Deus resultou num rompimento imediato da comunhão entre os seres humanos. Todo homem vive para si mesmo.

Não deve nos surpreender o fato de que Jesus disse: “Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas”: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento e o teu próximo como a ti mesmo (cf. Mt 22.34-40). Os dois mandamentos andam juntos. O primeiro produz o segundo, e este comprova o primeiro.

Ser reconciliado com Deus por meio de Cristo significa ser reconciliado com todos aqueles que estão reconciliados com Deus. Após descrever, na primeira metade de Efésios, a grande salvação que Deus nos deu em Cristo Jesus, Paulo passou a descrever, na segunda metade da epístola, o que essa grande salvação significa nos relacionamentos entre judeus e gentios e, por extensão, entre todos os que estão em Cristo. Ele escreveu:
Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade... para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade (Ef 2.14-16).

Todos os que pertencem a Deus são “concidadãos” e membros da “família de Deus” (v.19). Estamos unidos com Cristo no “santuário dedicado ao Senhor” (v. 21). Essas são apenas algumas das analogias dentre as que podemos escolher.

Talvez o meditar na analogia de uma família nos ajude a perceber que estar reconciliado com Deus também significa estar reconciliado com o seu povo. Se você é um órfão, não adota os pais; antes, são eles que o adotam. Se os seus pais adotivos se chamam Oliveira, agora, o seu jantar é sempre junto dos pais e irmãos da família Oliveira. À noite, você compartilha de uma cama com seus irmãos na família Oliveira. Quando, na escola, o professor faz a chamada, e diz: “Oliveira”, você levanta a mão, como o fazia o seu irmão mais velho e como o fará sua irmã mais nova. E faz isso não porque decidiu cumprir o papel de um Oliveira, e sim porque um dia alguém foi ao orfanato e disse: “Você será um Oliveira”. Naquele dia você se tornou filho de alguém e irmão de outros.

Bem, o seu nome não é Oliveira, e sim Cristão, designado de acordo com o nome dAquele por meio de quem você foi adotado — Cristo (Ef 1.5). Agora você faz parte de toda a família de Deus. “Tanto o que santifica como os que são santificados, todos vêm de um só” (Hb 2.11).

Esta não é uma família disfuncional, cujos membros não conhecem um ao outro. É uma comunhão. Quando Deus o chamou à “comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1Co 1.9), Ele também o chamou à “comunhão” com toda a família (1Co 5.2).

E não é uma comunhão formal e requintada. É um corpo que se mantém unido por meio de nossas decisões individuais, mas também por algo que está muito além da decisão humana — a obra e a pessoa de Cristo. Se você dissesse: “Não faço parte da família”, isso seria tão insensato como se arrancasse a sua própria mão ou nariz. Conforme Paulo disse aos cristãos de Corinto: “Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós” (1Co 12.21).

Em resumo, é impossível respondermos à pergunta “o que é um cristão?”, sem entrarmos numa conversa sobre a igreja. É impossível, pelo menos, de acordo com a Bíblia. E não somente isso; se não acabarmos falando sobre a igreja, é difícil nos mantermos fiéis a qualquer das metáforas referentes a ela, porque o Novo Testamento usa tantas: uma família, uma comunhão, um corpo, uma noiva, um povo, um templo, uma senhora e seus filhos. E o Novo Testamento nunca retrata o cristão como alguém que existe fora da comunhão da igreja por muito tempo. A igreja não é realmente um lugar. É um povo — o povo de Deus em Cristo.

Quando alguém se torna um cristão, ele não se une a uma igreja local tão-somente porque isso é um hábito que contribui à maturidade espiritual. Ele se une a uma igreja local porque isso é a expressão daquilo em que Cristo o tornou — um membro de seu corpo. Estar unido a Cristo implica estar unido a todos os cristãos. Contudo, essa união universal precisa ter uma existência viva e atuante em uma igreja local.

Às vezes, os teólogos se referem à distinção entre a igreja universal (todos os cristãos, de todos os lugares, em toda a história) e a igreja local (as pessoas que se reúnem em um lugar específico para ouvir a Palavra sendo pregada, praticar o batismo e celebrar a Ceia do Senhor). À exceção de algumas referências à igreja universal (tal como Mateus 16.18 e grande parte de Efésios), em sua maioria o Novo Testamento apresenta referências à igreja local, como nestas palavras de Paulo: “À igreja de Deus que está em Corinto”; “Às igrejas da Galácia”.

O que afirmamos em seguida é menos intenso, mas importante. O relacionamento entre nossa membresia na igreja universal e nossa membresia na igreja local é um pouco semelhante ao relacionamento entre a justiça que Deus nos outorga mediante a fé e a prática da justiça em nossa vida diária. Quando, pela fé, nos tornamos cristãos, Deus nos declara justos. Mas também somos chamados a praticar a justiça. Uma pessoa que continua a viver alegremente na injustiça faz-nos duvidar se ela realmente possui a justiça de Cristo (cf. Rm 6.1-18; 8.5-14; Tg 2.14-15). Esse princípio também se aplica àqueles que se recusam a comprometer-se com uma igreja local. Comprometer-se com uma igreja local é o resultado natural — confirma aquilo que Cristo fez. Se você não tem qualquer interesse em se comprometer verdadeiramente com um grupo de cristãos que ensinam a Bíblia e crêem no evangelho, deve perguntar a si mesmo se, de fato, pertence ao corpo de Cristo! Ouça com atenção o escritor da Epístola aos Hebreus:
“Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel. Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima. Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários” (Hb 10.23-27).

Se a nossa condição diante de Deus é de fato autêntica, isto se transportará às nossas decisões diárias, ainda que o processo seja lento e cheio de passos errados. Deus realmente muda o seu povo. Isso não é maravilhoso? Portanto, amigo, não seja complacente com uma idéia vaga de que você possui a justiça de Cristo, se não está seguindo uma vida de retidão. De modo semelhante, por favor, não se deixe enganar por um conceito vago sobre a igreja universal, se você não está buscando esse tipo de vida em uma igreja local.

Exceto em raras circunstâncias, um verdadeiro cristão edifica sua vida na vida de outros por meio da comunhão de uma igreja local. Ele sabe que ainda não “chegou lá”. Ainda é um ser caído e necessita da responsabilidade e da instrução daquele corpo de pessoas chamado igreja. E essas pessoas necessitam dele.

Quando nos reunimos para adorar a Deus, exercitar o amor e praticar boas obras uns para com os outros, demonstramos na vida real, podemos assim dizer, o fato de que Deus nos reconciliou consigo mesmo e uns com os outros. Demonstramos ao mundo que fomos mudados, não primariamente porque memorizamos versículos bíblicos, oramos antes das refeições, damos o dízimo de nosso salário e ouvimos estações de rádio evangélicas, e sim porque mostramos de maneira crescente uma disposição de suportar, perdoar e amar um grupo de pecadores semelhantes a nós.

Você e eu não podemos demonstrar amor, alegria, paz, paciência ou bondade vivendo isoladamente. Ora, demonstramos essas virtudes quando as pessoas com as quais nos comprometemos dão boas razões para que não as amemos e, apesar disso, nós as amamos.

Você entende? É exatamente ali — no meio de um grupo de pecadores que se comprometeram a amar uns aos outros — que o evangelho é demonstrado. A igreja dá uma apresentação visual do evangelho quando perdoamos uns aos outros como Cristo nos perdoou; quando nos comprometemos uns com os outros como Cristo se comprometeu conosco e quando entregamos nossas vidas uns pelos outros como Cristo entregou sua vida por nós.

Juntos podemos demonstrar o evangelho de um modo que não podemos fazê-lo sozinhos.

Muitas vezes ouço cristãos falando a respeito de seus diferentes dons espirituais. Mas pergunto-me com que frequência eles consideram o fato de que Deus lhes deu tantos dons exatamente para serem usados em reações ao pecado de outros cristãos na igreja. O meu pecado dá-lhe oportunidade de exercer seus dons.

Portanto, una um grupo de homens e de mulheres, jovens e idosos, negros e brancos, asiáticos e africanos, ricos e pobres, iletrados e instruídos, com todos os seus diversos talentos, dons e capacidades. Assegure-se de que todos eles reconhecem que são pecadores, fracos e salvos tão-somente pela graça. O que são essas coisas? Os ingredientes essenciais para formar uma igreja!

Se o seu alvo é amar todos os cristãos, permita-me sugerir que você trabalhe para atingi-lo primeiramente por comprometer-se com um grupo concreto de verdadeiros cristãos, com todas as suas tolices e fraquezas. Comprometa-se com eles por oitenta anos, apesar de todas as dificuldades. Depois, procure-me, e conversaremos sobre o seu progresso no amar todos os cristãos, em todos os lugares.

Então, quem é responsável por pensar sobre o que deveria ser aquele ajuntamento de pessoas chamado igreja? Os pastores e líderes da igreja? Com toda a certeza. Todos os outros cristãos? Sem dúvida alguma. Ser um verdadeiro cristão significa preocupar-se com a vida e saúde do corpo de Cristo, a igreja. Significa preocupar-se com o que a igreja é o que ela deveria ser, porque você, cristão, pertence à igreja.

De fato, nos interessamos pela igreja porque ela é o próprio corpo de nosso Salvador. Você já notou as palavras que Jesus usou para dirigir-se a Saulo (que em breve seria chamado Paulo), o perseguidor dos cristãos, quando o confrontou na estrada de Damasco? “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9.4). Jesus se identifica tão intimamente com sua igreja, que se refere a ela como a Si mesmo! Você se identifica com aqueles com os quais o Salvador se identifica? Seu coração compartilha das afeições do coração do Salvador?

Há pouco tempo recebi uma carta de um pastor que expressou seu desejo de que os membros de sua igreja soubessem o que deve ser uma igreja. Esse homem humilde deseja uma igreja que o ajude a sentir-se responsável por ela, enquanto a lidera em direção à graça e à piedade. Esse pastor entende o padrão do Novo Testamento. Compreende que um dia Deus o chamará a prestar contas da maneira como pastoreou sua igreja. E, como um pastor fiel, ele deseja que todos os membros de seu rebanho saibam que, um dia, também serão chamados a prestar contas da maneira como amaram uns aos outros, bem como a ele.

Deus perguntará a cada membro do corpo: “Você se alegrava com os outros membros do corpo, quando eles estavam alegres? Chorou com os que choravam? Tratou os fracos como membros indispensáveis e, com honra especial, aqueles que muitos achavam menos dignos de honra? Prestou honra dobrada àqueles que o lideravam e ensinavam?” (cf. 1Co 12.22-26; 1Tm 5.17.)

Cristão, você está preparado para o dia em que Deus o chamará a prestar contas da maneira como amou e serviu a família da igreja, incluindo os seus líderes? Sabe o que Deus afirma a respeito da natureza da igreja?

E pastor, você tem preparado o seu rebanho para a prestação de contas, ensinando-lhes o que a igreja deve ser? Você lhes tem ensinado que serão responsabilizados por afirmarem ou não o ensino do evangelho?


Retirado do livro: O que é uma Igreja Saudável – Cap. 1, 1ª Edição – São José dos Campos. Editora Fiel, 2009.



fonte: www.editorafiel.com.br

sábado, 12 de dezembro de 2009

Dia da Bíblia: "É POSSÍVEL LEVAR A BÍBLIA A SÉRIO?

Por: Pr Isaltino Gomes Coelho Filho

Um crítico ignorante do assunto alegou não poder levar a Bíblia a sério por não se poder provar a autenticidade dos seus manuscritos que deram origem aos livros bíblicos que temos. Ao longo dos tempos, segundo ele, os cristãos os modificaram, para impor suas doutrinas. A Bíblia teria sido mudada, segundo eles.

Tucídides, historiador aceito pelos estudiosos, viveu entre 460-400 a.C. Sua obra nos chegou com oito manuscritos de 900 a. D. (1.300 anos depois de sua vida). Os manuscritos de outro historiador, Heródoto, são mais raros, mas também aceitos, como os de Tucídides.

Chegaram-nos em poucas cópias, bem depois da sua vida. As obras de Aristóteles, filósofo grego, foram produzidas em cerca de 330 a.C. O manuscrito mais antigo é de 1.110 d.C. (1.400 anos após sua vida). Nenhum filósofo impugnou Aristóteles por isso. As guerras gaulesas foram narradas por César entre 58 e 50 a. C., mas o manuscrito mais recente data de 1.000 anos depois de sua morte. No entanto, todos eles são aceitos pelos historiadores como dignos de confiança.

Ninguém negará o valor de A Ilíada, de Homero, que tem 643 manuscritos. Pois bem, do Novo Testamento temos cerca de 2.000 manuscritos, cópias de escritos dos anos 46 a 90 de nossa era, bem perto dos eventos, narrados por testemunhas oculares. Quanto ao Antigo Testamento, em 1947, nas cavernas de Qumram, descobriram-se centenas de seus manuscritos, alguns datando de 150 a.C. Até onde se pôde traduzir (e há lingüistas cristãos bem preparados) o texto bate, palavra a palavra, com o que temos traduzido. Não manuseamos uma invenção humana, mas uma revelação verbalizada e cristalizada em escrita há séculos.

Do ponto de vista bibliográfico, a Bíblia possui mais base manuscrítica que qualquer outra peça literária da antigüidade. Só a má fé dirá que o texto foi modificado. Não aceitá-la alegando modificação do texto é ignorância ou má fé.

A questão é que a Bíblia incomoda as pessoas com suas exigências morais e espirituais, pedindo-lhes definição. Ela é, ao mesmo tempo, uma carta de amor e um ultimato da parte de Deus. Uma declaração de que ele nos ama, mas que nos chama a mudar a vida.

Promessas as pessoas querem. Compromisso, não. Seu ceticismo e sua incredulidade não são intelectuais, mas morais. Como disse Mark Twain: "O que me incomoda na Bíblia não são as passagens que eu não entendo, mas sim as que eu entendo".

Não cremos em algo feito por espertalhões, mas numa verdade que Deus revelou e preservou através dos séculos. "Para sempre, ó Senhor, a tua palavra está firmada nos céus" (Salmos 119.89). "


(escrito, originalmente, como pastoral do boletim da PIB de Manaus)

A alma Católica dos Evangélicos no Brasil

Por Augustus Nicodemus

Os evangélicos no Brasil nunca conseguiram se livrar totalmente da influência do Catolicismo Romano. Por séculos, o Catolicismo formou a mentalidade brasileira, a sua maneira de ver o mundo (“cosmovisão”). O crescimento do número de evangélicos no Brasil é cada vez maior – segundo o IBGE, seremos 40 milhões neste ano de 2006 – mas há várias evidências de que boa parte dos evangélicos não tem conseguido se livrar da herança católica.

É um fato que a conversão verdadeira (arrependimento e fé) implica uma mudança espiritual e moral, mas não significa necessariamente uma mudança na maneira como a pessoa vê o mundo. Alguém pode ter sido regenerado pelo Espírito e ainda continuar, por um tempo, a enxergar as coisas com os pressupostos antigos. É o caso dos crentes de Corinto por exemplo. Alguns deles haviam sido impuros, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados, maldizentes e roubadores. Todavia, haviam sido lavados, santificados e justificados “em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1 Co 6.9-11), sem que isso significasse que uma mudança completa de mentalidade houvesse ocorrido com eles. Na primeira carta que lhes escreve, Paulo revela duas áreas em que eles continuavam a agir como pagãos: na maneira grega dicotômica de ver o mundo dividido em matéria e espírito (que dificultava a aceitação entre eles das relações sexuais no casamento e a ressurreição física dos mortos – capítulos 7 e 15) e o culto à personalidade mantido para com os filósofos gregos (que logo os levou a formar partidos na igreja em torno de Paulo, Pedro, Apolo e mesmo o próprio Cristo – capítulos 1 a 4). Eles eram cristãos, mas com a alma grega pagã. Da mesma forma, creio que grande parte dos evangélicos no Brasil tem a alma católica. Antes de passar às argumentações, preciso esclarecer um ponto. Todas as tendências que eu identifico entre os evangélicos como sendo herança católica, no fundo, antes de serem católicas, são realmente tendências da nossa natureza humana decaída, corrompida e manchada pelo pecado, que se manifestam em todos os lugares, em todos os sistemas e não somente no Catolicismo. Como disse o reformado R. Hooykas, famoso historiador da ciência, “no fundo, somos todos romanos” (Philosophia Liberta, 1957). Todavia, alguns sistemas são mais vulneráveis a essas tendências e as absorveram mais que outros, como penso que é o caso com o Catolicismo no Brasil. E que tendências são essas?

1) O gosto por bispos e apóstolos – Na Igreja Católica, o sistema papal impõe a autoridade de um único homem sobre todo o povo. A distinção entre clérigos (padres, bispos, cardeais e o papa) e leigos (o povo comum) coloca os sacerdotes católicos em um nível acima das pessoas normais, como se fossem revestidos de uma autoridade, um carisma, uma espiritualidade inacessível, que provoca a admiração e o espanto da gente comum, infundindo respeito e veneração. Há um gosto na alma brasileira por bispos, catedrais, pompas, rituais.
Só assim consigo entender a aceitação generalizada por parte dos próprios evangélicos de bispos e apóstolos autonomeados, mesmo após Lutero ter rasgado a bula papal que o excomungava e queimá-la na fogueira. A doutrina reformada do sacerdócio universal dos crentes e a abolição da distinção entre clérigos e leigos ainda não permearam a cosmovisão dos evangélicos no Brasil, com poucas exceções.

2) A idéia de que pastores são mediadores entre Deus e os homens – No Catolicismo, a Igreja é mediadora entre Deus e os homens e transmite a graça divina mediante os sacramentos, as indulgências, as orações. Os sacerdotes católicos são vistos como aqueles através de quem essa graça é concedida, pois são eles que, com as suas palavras, transformam, na Missa, o pão e o vinho no corpo e no sangue de Cristo; que aplicam a água benta no batismo para remissão de pecados; que ouvem a confissão do povo e pronunciam o perdão de pecados. Essa mentalidade de mediação humana passou para os evangélicos, com poucas mudanças.
Até nas igrejas chamadas históricas, os crentes brasileiros agem como se a oração do pastor fosse mais poderosa do que a deles e como se os pastores funcionassem como mediadores entre eles e os favores divinos. Esse ranço do Catolicismo vem sendo cada vez mais explorado por setores neopentecostais do evangelicalismo, a julgar por práticas já assimiladas como “a oração dos 318 homens de Deus”, “a prece poderosa do bispo tal”, “a oração da irmã fulana, que é profetisa”, etc.

3) O misticismo supersticioso no apego a objetos sagrados – O Catolicismo no Brasil, por sua vez influenciado pelas religiões afro-brasileiras, semeou misticismo e superstição durante séculos na alma brasileira: milagres de santos, uso de relíquias, aparições de Cristo e de Maria, objetos ungidos e santificados, água benta, entre outros.
Hoje, há um crescimento espantoso, entre setores evangélicos, do uso de copo d’água, rosa ungida, sal grosso, pulseiras abençoadas, pentes santos do kit de beleza da rainha Ester, peças de roupa de entes queridos, oração no monte, no vale; óleos de oliveiras de Jerusalém, água do Jordão, sal do Vale do Sal, trombetas de Gideão (distribuídas em profusão), o cajado de Moisés... é infindável e sem limites a imaginação dos líderes e a credulidade do povo. Esse fenômeno só pode ser explicado, ao meu ver, por um gosto intrínseco pelo misticismo impresso na alma católica dos evangélicos.

4) A separação entre sagrado e profano – No centro do pensamento católico existe a distinção entre natureza e graça, idealizada e defendida por Tomás de Aquino, um dos mais importantes teólogos da Igreja Católica. Na prática, isso significou a aceitação de duas realidades coexistentes, antagônicas e freqüentemente irreconciliáveis: o sagrado, substanciado na Santa Igreja, e o profano, que é tudo o mais no mundo lá fora.
Os brasileiros aprenderam durante séculos a não misturar as coisas: sagrado é aquilo que a gente vai fazer na Igreja: assistir Missa e se confessar. O profano – meu trabalho, meus estudos, as ciências – permanece intocado pelos pressupostos cristãos, separado de forma estanque. É a mesma atitude dos evangélicos. Faltanos uma mentalidade que integre a fé às demais áreas da vida, conforme a visão bíblica de que tudo é sagrado. Por exemplo, na área da educação, temos por séculos deixado que a mentalidade humanista secularizada, permeada de pressupostos anticristãos, eduque os nossos filhos, do ensino fundamental até o superior, com algumas exceções.
Em outros países, os evangélicos têm tido mais sucesso em manter instituições de ensino que, além de serem tão competentes como as outras, oferecem uma visão de mundo, de ciência, de tecnologia e da história oriunda de pressupostos cristãos. Numa cultura permeada pela idéia de que o sagrado e o profano, a religião e o mundo, são dois reinos distintos e freqüentemente antagônicos, não há como uma visão integral surgir e prevalecer, a não ser por uma profunda reforma de mentalidade entre os evangélicos.

5) Somente pecados sexuais são realmente graves – A distinção entre pecados mortais e veniais feita pelo catolicismo romano vem permeando a ética brasileira há séculos. Segundo essa distinção, pecados considerados mortais privam a alma da graça salvadora e a condenam ao inferno, enquanto que os veniais, como o nome já indica, são mais leves e merecem somente castigos temporais. A nossa cultura se encarregou de preencher as listas dos mortais e dos veniais. Dessa forma, enquanto se pode aceitar a “mentirinha”, o jeitinho, o tirar vantagem, a maledicência, etc., o adultério se tornou imperdoável. Lula foi reeleito cercado de acusações de corrupção. Mas, se tivesse ocorrido uma denúncia de escândalo sexual, tenho dúvidas de que teria sido reeleito ou de que teria sido reeleito por uma margem tão grande.
Nas igrejas evangélicas – onde se sabe pela Bíblia que todo pecado é odioso e que quem guarda toda a lei de Deus e quebra um só mandamento é culpado de todos – é raro que alguém seja disciplinado, corrigido, admoestado, destituído ou despojado por pecados como mentira, preguiça, orgulho, vaidade, maledicência, entre outros.
As disciplinas eclesiásticas acontecem via de regra por pecados de natureza sexual, como adultério, prostituição, fornicação, adição à pornografia, homossexualismo, etc., embora até mesmo esses estão sendo cada vez mais aceitáveis aos olhos evangélicos. Mais um resquício de catolicismo na alma dos evangélicos? O que é mais surpreendente é que os evangélicos no Brasil estão entre os mais anticatólicos do mundo. Só para ilustrar (e sem entrar no mérito dessa polêmica), o Brasil é um dos países onde convertidos do catolicismo são rebatizados nas igrejas evangélicas.
O anticatolicismo brasileiro, todavia, se concentrou apenas na questão das imagens e de Maria e em questões éticas como não fumar, não beber e não dançar. Não foi e não é profundo o suficiente para fazer uma crítica mais completa de outros pontos que, por anos, vêm moldando a mentalidade do brasileiro, como mencionei acima. Além de uma conversão dos ídolos e de Maria a Cristo, os brasileiros evangélicos precisam de conversão na mentalidade, na maneira de ver o mundo. Temos de trazer cativo a Cristo todo pensamento, e não somente os nossos pecados. Nossa cosmovisão precisa também de conversão (2 Co 10.4-5).

Quando vejo o retorno de grandes massas ditas evangélicas às práticas medievais católicas de usar no culto a Deus objetos ungidos e consagrados, procurando para si bispos e apóstolos, imersas em práticas supersticiosas, me pergunto se, ao final das contas, o neopentecostalismo brasileiro não é, na verdade, um filho da Igreja Católica medieval, uma forma de neocatolicismo tardio que surge e cresce em nosso país, onde até os evangélicos têm alma católica.

Fonte: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=208

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Catolicamente Universal

Para os amantes da boa leitura e pesquisa, segue um excelente trabalho:


Da igreja católica à igreja universal
Um estudo sobre os sentidos construídos por católicos que se converteram à igreja universal do reino de Deus

Dissertação de Mestrado em Psicologia defendida por Clauberson Sales do Nascimento Rios na Universidade de Fortaleza

Esta dissertação teve como objetivo maior apreender os sentidos que foram construídos por católicos ao longo de seu processo de conversão para a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). De um modo específico, procurou-se investigar como a Religião Católica servia de suporte aos fiéis para a resolução do mal-estar e do desamparo antes da conversão; identificar porque os fiéis se afastaram de sua tradição religiosa; apontar os aspectos subjetivos que motivaram a escolha da IURD como nova opção religiosa; e analisar as repercussões da conversão na vida destes sujeitos, em especial nas dimensões de significação do mal-estar e do desamparo. Partindo de um esquema geral acerca das Etapas da Conversão propostas por Valle (2002), estas etapas foram repensadas com base no referencial teórico que sustentou esta pesquisa, qual seja, a psicanálise, saber este que serviu tanto para a construção das categorias teóricas deste estudo (Mal-estar, Desamparo, Investimento de Objeto e Weltanschauung), como para a análise dos dados.

Muito boa esta discertação.
Recomendo
Leia o restante do texto em http://www.unifor.br/tede//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=746181

Fonte: http://pavablog.blogspot.com/2009/11/catolicamente-universal.html

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Agora é a vez do Trízimo?

Agora é a vez do Trízimo?
Apóstolo Valdomiro Santiago agora quer 30% (trinta por cento) no mês de dezembro.

Hoje pela manhã, me levantei ás 5 da madruga e resolvi ligar a Tv para ver o que estava passando na telinha gospel; depois de escutar por trinta minutos o Valdomiro Santiago falando sobre um tal saquitel abençoado e lançando um DESAFIO, e põe desafio nisso, é assim:

“No mês de dezembro os fiéis devem fazer um pacto de fé e dar trinta por cento para a obra de Deus”, a Igreja Mundial é claro, isso porque em todo o tempo estava aparecendo o número da conta da igreja.

Até aí a gente até engole (não vou dar mesmo) , mas derrepente ele pede que o pessoal mande suas cartas com seus projetos (isso porque ele quer ter a certeza de quantos irão doar) e ele Valdomiro vai subir 3 noites no monte com as cartas, 3 noites para representar a trindade, e os 30% é exatamente para representar a trindade, aí foi o cúmulo do absurdo.

Na Rede TV enquanto eu alternava os canais, lá estava o Silão em competição acirrada com o Valdomiro, só que estava vendendo livros a `doidado`, era promoção em cima de promoção; livros de auto ajuda igual os do Paulo Coelho. Parece que o Silão anda lendo os livros do Paulo Coelho, isso é revelado nos títulos de suas mensagens.

Agora tem a Bíblia da esposa do Silão, é isso mesmo, hummmmm! Fabricação própria? Bíblia da mulher vitoriosa em 3x no cartão, com a garantia das Organizações Tabajara.

Já na Rede Record estava os bispos Universais bezendo o copo com água para dar força para os ` bebuns de água benta`, isso porque ele apresentava a CORRENTE DOS 70 COM O MANTO SAGRADO DE ISRAEL, caramba, eles tem uma imaginação muito fértil.

Ainda tinha os testemunhos da Fogueira Santa de Israel.

É, e tinha também a Noite da Força Interior, com o convite a todos os espíritas, muçulmanos, romanos, macumbeiro etc, todos convidados a buscarem a força interior, até parece que assistiram o Guerra nas Estrelas, “Que a força esteja com você”.

Perguntas? Sim, mas não do tipo a bíblia responde, mas a Ex-sensitiva responde, no final é tudo mal de encosto, encoxto? E a pessoa precisa Tomar o Banho das Sete Águas na sexta feira e é descrito assim:
- A água do Mar: É salgada e traz o sabor e a conservação.
- A água do Lago: é calma e neutraliza as ações do mal.
- A água do Rio: Está sempre correndo, para que sua vida avance.
- A água da Torneira: é tratada e saudável, você receberá um tratamento que pela fé vai trazer a saúde para sua vida.
- A água da Fonte: representa purificação, a sua vida será purificada.
- A água da Chuva: não depende do homem, para que você dependa somente de Deus.
- A água da Cachoeira: tem o poder de derrubar os obstáculos em sua vida.

A água destes 7 locais tem uma influência específica e definitiva! Assim em um ato de fé faremos o Banho das 7 Águas para a limpeza espiritual daqueles que se sentem vítimas de uma atuação do mal. IURD na Rede Record.

Será isso Boacumba?

Quanto lixo!

O que está acontecendo com o Evangelho do Senhor Jesus?

Bom volto a Rede TV e lá está o Silão com as palavras: A consciência é o chicote da alma, e lá vem mais banca de livros e DVDs e pedidos de parceiros.

Silão & Cia ainda apresenta um Congresso de Avivamento Despertai em Jerusalém.

Volto ao Valdomiro, lá está o homem batendo da tecla do trízimo?

Calma, ele explica, por causa da trindade, é 10% para o Pai, 10% para o Filho e 10% por cento para o Espírito Santo e ele, Valdomiro vai para o monte 3 dias representando a trindade com os sacos de cartas nas costas, isso é ele quem disse, é o fim ou não é?

Comecei a digitar essas letras para a postagem aqui no Blog e mostrar minha indignação a essa miséria que nada acrescenta a alma perdida no pecado.

Sou bereiano, e assim disse Jesus: “Acautelai-vos que ninguém vos engane”.

No final você me pergunta indignado: E os testemunhos de cura do Valdomiro? Você não diz nada?

"Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando- se em apóstolos de Cristo.

E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz.
Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras." 2Co 11.13-15

Só me resta orar ao Senhor que me ajude a não abandonar a Palavra por ouro.

Bereiano.
http://bereiano. blogspot. com/ Pr. Norberto Carlos Marquardt

E seremos a geração que...


Por: Pr. Jeff / Geração Benjamim

E seremos a geração que...

morreu sem realizar o que queimava no coração dela.


“E seremos a geração que dança. E seremos a geração que canta.” E daí? Grande coisa. Vamos ser honestos, quem sonhava com isso. Eu não. Sei lá, mas eu sonhava com algo tipo missões, ganhar almas, marcar minha geração, morrer pelo evangelho. Pode me chamar de José se quiser, o sonhador, não me importo, pois não coloco muito valor na palavra, ou melhor, critica de alguém que depois de muitos anos ainda está tentando pular como um coelho nas conferências realizando seu sonho de ser a geração que canta e dança. Deus me livre!


Eu acho que a coisa que mais me irrita hoje, além do lixo sendo pregado nos púlpitos, é que foi isso que nós vendemos para uma geração; uma geração que está agora casada, barriguda, e que nem dança mais, pois tem medo de enfartar. Caraca, o que aconteceu? Onde nós erramos? Era tanto potencial e disposição e agora é “comunhão na casa de Fulano”.


Quando era para nós enviarmos eles, nós seguramos, pois queríamos o grupo maior da cidade.
Eles queriam ser missionários, então ensinávamos umas peças, pintaram seus rostos e os levaram para a praça mais perto para que pudessem ser completamente humilhados e nunca falar de missões de novo. Só pra saber, “Aquilo era missões?”.


E agora tem entrado uma nova geração e nós estamos cometendo os mesmos erros e pecados. Quando olhamos para os jovens da igreja, é obvio que temos falhado em capturar seus corações e imaginações. Nós temos falhado em dar a eles uma razão de viver, uma causa pelo que dar as suas vidas. Nós temos falhado em mostrar algo a eles tão importante que vale a pena morrer por ele.


Quando você olha nos seus olhos não há fogo, não há vida. Vida para eles é quatro horas na frente do computador batendo papo com seus amigos virtuais. Mas eles não têm nada que queima no coração deles, que faz eles sair da cama na manha, que possuí eles. Eles não têm nada pra que viver e bem menos nada pelo que morrer.


Nós falávamos para eles que Deus queria os usar e depois os fechamos em prédios com bandas, pizza e luzes coloridas para gastar a noite dançando e cantando enquanto o mundo lá fora está passando fome, morrendo e indo para inferno. Será que é isso que estávamos referindo quando falávamos que “Deus quer os usar”? Será que não tem mais? E se eles mostram uma preocupação com aqueles fora da “terra protegida”, nós falamos que não são preparados, que sua hora vai chegar. Por enquanto, é festa e alegria. Pegue mais um pedaço de pizza.


Nós falávamos para eles que podiam mudar o mundo enquanto eles nem sabem como mudar as suas próprias vidas. E em vez de confrontar eles na maneira que vive e seus valores, nós mudamos a estrutura da igreja para acomodar eles. Nós criamos “namoro santo” e colocamos “play stations” na sala de oração. Mas, não muito tempo depois, a nossa estrutura não os satisfazia mais. Em vez de treinar eles, nós temos entretido eles. Em vez de desafiar eles, acomodávamos e acabávamos frustrando e perdendo eles, pois a verdade é que não era isso que eles queriam.


Cada geração precisa de uma bandeira pra levantar, uma causa pra abraçar, algo para dar as suas vidas, mas em algum lugar no caminho somente Jesus e salvação não passaram de ser suficientes. Somente alcançando os perdidos parecia de ser algo comum demais. Então, nós começamos falar em milagres e mortos ressuscitando. Nós tentamos criar coisas melhores mais barulhentas, mais animadas, projetos que iam no fim fazer nada mais do que ocupar seu tempo e os fazer pensar que estavam fazendo algo enquanto não estavam realizando nada. Nós críamos uma geração que canta e dança, mas não faz nada mais do que isso, e eles sabem disso. Ninguém foi enganado e eles ainda estão tentando se descobrir e achar seu propósito, sua razão de viver, e morrer.


Preguiçoso, desinteressado, não produtivo: termos que muito bem podem ser usados para descrever essa geração que uma vez tinha esperança em ser usada e marcar o mundo. Mas, por quê? Por que nós não demos nada pra eles fazerem de verdade. E vamos ser honestos, esperando é ruim. É agora ou nunca. Nós os desafiamos agora, nós os treinamos agora, nós investimos neles agora, ou nós os perdemos para sempre.


• 75% dessa geração estão deixando a igreja para não voltar mais.


Considere isso uma carta de um velho que chora para a juventude, que lamenta tanto potencial perdido, que quer pedir seu perdão.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

OS DEZ “NUNCA” DE UM PASTOR SEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS

1. NUNCA “PESQUE EM AQUÁRIO” DOS OUTROS
Tenho visto muitos pastores “pescando em aquários”, convidando membros de outras comunidades para se tornarem membros de sua igreja. Eticamente isso é um grande erro, pois além de causar problemas de relacionamentos com seus colegas pastores, produzirá questões de relacionamento também entre as igrejas.

Por outro lado, a Palavra de Deus nos adverte a não abandonar nossa congregação (Hebreus 10:25), e quando você convida alguém para fazer isso e se filiar á sua igreja, estará indo contra a bíblia.

Cuidado! Será que não há outras pessoas mais necessitadas do que os irmãos de outras igrejas para você convidar?

2. NUNCA TOME PARTIDO NUMA QUESTÃO SEM OUVIR OS DOIS LADOS
Esse é um problema delicado, lamentavelmente tenho visto pastores se enredando em questões ministeriais, porque, ao ouvirem uma facção da igreja que apresente uma causa, já tomam logo partido em defesa deste lado, sem ouvir o outro. Isso infelizmente pode trazer injustiças e problemas de relacionamento. Entretanto, julgue a luz da Bíblia, ouça os dois lados, ore e dependa do Espírito santo, para direcionar a questão.

3. NUNCA DEIXE DE PREGAR A PALAVRA DE DEUS COM MEDO DE OFENDER AS PESSOAS
Alguns companheiros não falam sobre determinados assuntos com medo de ofender as pessoas. Isso é pecado! Há pastores que não falam sobre dízimo e ofertas, com medo de o povo sair da igreja. Pessoalmente, eu prefiro que os avarentos saiam da igreja, por eles não terem parte no reino de Deus. (Efésios 5.5.).

Lembre-se, sempre pergunte-se: “Devo agradar á deus ou aos Homens?”

4. NUNCA USE O PÚLPITO PARA ATACAR PESSOAS OU DESCARREGAR SUAS ANSIEDADES E PREOCUPAÇÕES PESSOAIS
O púlpito da igreja é um lugar especial e reservado para a pregação e ensino da Palavra de Deus. O uso do púlpito para “indiretinhas e piadinhas” para uso pessoal também é pecado. Quantos saem da igreja frustrados e magoados por conversar uma coisa com o pastor ou alguém do corpo ministerial e isso vira o tema do sermão da Noite de domingo, principalmente o imaturo, novo convertido.

5. NUNCA PEÇA DINHEIRO EMPRESTADO
“O que toma emprestado é servo do que empresta” (Pv. 22.7)
O pastor precisa estar com sua mente livre de preocupações. É terrível pregar com ansiedade, sabendo que naquela semana há uma conta para pagar. Alguns pegam dinheiro da igreja com a idéia de que depois vão repor.

Pastor, nunca faça tal coisa! Isso abre uma brecha para os ataques do inimigo, que poderá usar uma situação como essa para destruir seu ministério. O diabo é expert nisso, ele pode usar uma situação de envolvimento financeiro para acusar o pastor e deixa-lo sem autoridade espiritual.

Cuidado! Lembre-se disso: “nunca dê o passo maior do que as pernas”

6. NUNCA SUBSTIME O MINISTÉRIO ANTERIOR AO SEU
Existem alguns pastores que, ao assumirem a liderança de uma igreja, tem a tendência de mudar tudo. Desrespeitam a histeria e o ministério anterior da igreja. Sempre jogam a culpa nos antecessores, falando mal da administração, da visão, do jeito de trabalhar do outro, etc. Lembre-se de que um dia também poderá ser substituído e que o que está fazendo agora, poderá ser melhorado pelo seus sucessores.

Perfeição, só no céu!

7. NUNCA MANUSEIE FINANÇAS DA IGREJA
O pastor nunca deve tocar nas finanças da igreja. Deixe que o tesoureiro cuide disso e que a comissão de exame de contas sempre apresente o relatório. Nesse delicado assunto, o pastor nunca deve legislar em causa própria. Você poderá compartilhar com a diretoria da igreja suas necessidades ou dificuldades financeiras, mas deixe que eles tomem as decisões sobre seu salário e benefícios.

8. NUNCA FAÇA CAMPANHAS PARA ARRUMAR CASAMENTO
Há muitas pessoas que não respeitam a situação do solteiro e ficam pressionando para que ele arrume um casamento. Já ouvi de alguns casamentos frustrados, “arranjados” por pastores. O pastor deve saber que Deus o cobrará se isso acontecer. Saiba que Deus tem a pessoa certa, na hora certa, se esta for a vontade Dele, e não a sua.

9. NUNCA ESQUEÇA DE SUA FAMÍLIA
A primeira prioridade do ministro é a sua própria família, que inclui esposa e filhos. O apóstolo Paulo diz que o pastor, “deve governar a sua casa criando seus filhos sob disciplina, com todo respeito” (I Tm. 3.4).

No versículo seguinte, inclusive, o escritor diz que aquele que não governar sua casa está desqualificado para o ministério. Quantos infelizmente querem ensinar e pregar
para a igreja e não podem, até fazem, mas será que dá certo? Alguém o obedece?

Como isso pode acontecer se os de sua casa não estão nem aí? E vice e versa.

10. NUNCA SE ISOLE NO MINISTÉRIO
É muito importante ter amigos para compartilhar as lutas e tribulações. Tenho visto líderes caírem em pecado por serem muitos independentes. A bíblia diz “Levai as cargas uns dos outros” (Gl. 6.2)

Como pastores e líderes, precisamos de companheiros com que possamos abrir nossos corações, orarmos juntos, exortarmo-nos e edificarmo-nos mutuamente.

Pastor busque alguém que você sabe que leva Deus á Sério e o convide para ser seu companheiro!

Fonte: pr Diego/http://www.batistascuritiba.org.br/os-dez-nunca-de-um-pastor-segundo-o-coracao-de-deus/

Isto é Amor

Enviado pela nossa colega Monica.



"Quando eu era criança, meu pai comprou um dos primeiros telefones da vizinhança. Lembro-me bem daquele velho aparelho preto, em forma de caixa, bem polido, afixado à parede. O receptor brilhante pendia ao lado da caixa. Eu ainda era muito pequeno para alcançar o telefone, mas costumava ouvir e ver minha mãe enquanto ela o usava, e ficava fascinado com a cena!

Então, descobri que em algum lugar dentro daquele maravilhoso aparelho existia uma pessoa maravilhosa - o nome dela era "informação, por favor" e não havia coisa alguma que ela não soubesse. "Informação, por favor" poderia fornecer o número de qualquer pessoa e até a hora certa.

Minha primeira experiência pessoal com esse "gênio da lâmpada" aconteceu num dia em que minha mãe foi na casa de um vizinho. Divertindo-me bastante mexendo nas coisas da caixa de ferramentas no porão, machuquei meu polegar com um martelo.

A dor foi horrível, mas não parecia haver qualquer razão para chorar, porque eu estava sozinho em casa e não tinha ninguém para me consolar. Eu comecei a andar pelo porão, chupando meu dedão que pulsava de dor, chegando finalmente à escada e subindo-a.

Então, lembrei-me: o telefone! Rapidamente peguei uma cadeira na sala de visitas e usei-a para alcançar o telefone. Desenganchei o receptor, segurei-o próximo ao ouvido como via minha mãe fazer e disse:

"Informação, por favor!", com o bocal na altura de minha cabeça.

Alguns segundos depois, uma voz suave e bem clara falou ao meu ouvido:

"Informação."

Então, choramingando, eu disse:

"Eu machuquei o meu dedo..."

Agora que eu tinha platéia: as lágrimas começaram a rolar sobre o meu rosto.

"Sua mãe não está em casa?", veio a pergunta.

"Ninguém está em casa a não ser eu", falei chorando.

"Você está sangrando?" Ela perguntou.

"Não." Eu respondi. "Eu machuquei o meu dedão com o martelo e está doendo muito!"

Então a voz suave, do outro lado falou:

"Você pode ir até a geladeira?"

Eu disse que sim. Ela continuou, com muita calma:

"Então, pegue uma pedra de gelo e fique segurando firme sobre o dedo."

E a coisa funcionou! Depois do ocorrido, eu chamava "Informação, por favor" para qualquer coisa. Pedia ajuda nas tarefas de geografia da escola e ela me dizia onde Filadélfia se localizava no mapa. Ajudava-me nas tarefas de matemática. Ela me orientou sobre qual tipo de comida eu poderia dar ao filhote de esquilo que peguei no parque para criar como bichinho de estimação.

Houve também o dia em que Petey, nosso canário de estimação, morreu. Eu chamei "Informação, por favor" e contei-lhe a triste estória. Ela ouviu atentamente, então falou-me palavras de conforto que os adultos costumam dizer para consolar uma criança.

Mas eu estava inconsolável naquele dia e perguntei-lhe:

"Por que é que os passarinhos cantam de maneira tão bela, dão tanta alegria com sua beleza para tantas famílias e terminam suas vidas como um monte de penas numa gaiola?"

Ela deve ter sentido minha profunda tristeza e preocupação pelo fato de haver dito calmamente:

"Paul, lembre-se sempre de que existem outros mundos onde se pode cantar!" Não sei porquê, mas me senti bem melhor.

Numa outra ocasião, eu estava ao telefone: "Informação, por favor".

"Informação," disse a já familiar e suave voz.

"Como se soletra a palavra consertar?" Perguntei.

Tudo isso aconteceu numa pequena cidade da costa oeste dos Estados Unidos. Quando eu estava com nove anos, nos mudamos para Boston, na costa leste. Eu senti muitas saudades de minha voz amiga!

"Informação, por favor" pertencia àquela caixa de madeira preta afixada na parede de nossa outra casa; e eu nunca pensei em tentar a mesma experiência com o novo telefone diferente que ficava sobre a mesa, na sala de nossa nova casa. Mesmo já na adolescência, as lembranças daquelas conversas de infância com aquela suave e atenciosa voz nunca saíram de minha cabeça.

Com certa freqüência, em momentos de dúvidas e perplexidade, eu me lembrava daquele sentimento sereno de segurança que me era transmitido pela voz amiga que gastou tanto tempo com um simples menininho.

Alguns anos mais tarde, quando eu viajava para a costa oeste a fim de iniciar meus estudos universitários, o avião pousou em Seattle, região onde eu morava quando criança, para que eu pegasse um outro e seguisse viagem. Eu tinha cerca de meia hora até que o outro avião decolasse. Passei então uns 15 minutos ao telefone, conversando com minha irmã que na época estava morando lá. Então, sem pensar no que estava exatamente fazendo, eu disquei para a telefonista e disse:

"Informação, por favor".

De um modo milagroso, eu ouvi a suave e clara voz que eu tão bem conhecia!

"Informação."

Eu não havia planejado isso, mas ouvi a mim mesmo dizendo: "Você poderia me dizer como se soletra a palavra consertar?"

Houve uma longa pausa. Então ouvi a tão suave e atenciosa voz responder:

"Espero que seu dedo já esteja bem sarado agora!"

Eu ri satisfeito e disse:

"Então, ainda é realmente você? Eu fico pensando se você tem a mínima idéia do quanto você significou para mim durante todo aquele tempo de minha infância!"

Ela disse:

"E eu fico imaginando se você sabe o quanto foram importantes para mim as suas ligações!"

E continuou:

"Eu nunca tive filhos e ficava aguardando ansiosamente por suas ligações."

Então, eu disse para ela que muito freqüentemente eu pensava nela durante todos esses anos e perguntei-lhe se poderia telefonar para ela novamente quando eu fosse visitar minha irmã. "Por favor, telefone sim! É só chamar por Sally".

Três meses depois voltei a Seattle. Uma voz diferente atendeu:

"Informação".

Eu perguntei por Sally.

"Você é um amigo?" Ela perguntou.

"Sim, um velho amigo". Respondi.

Ela disse:

"Sinto muito em dizer-lhe isto, mas Sally esteve trabalhando só meio período nos últimos anos porque estava adoentada. Ela morreu há um mês."

Antes que eu desligasse ela disse:

"Espere um pouco. Seu nome é Paul?"

"Sim" Respondi.

"Bem, Sally deixou uma mensagem para você. Ela deixou escrita caso você ligasse. Deixe-me ler para você."

A mensagem dizia:

"Diga para ele que eu ainda continuo dizendo que existem outros mundos onde podemos cantar. Ele vai entender o que eu quero dizer".

Eu agradeci emocionado e muito tristemente desliguei o telefone. Sim, eu sabia muito bem o que Sally queria dizer.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Você está satisfeito?

Foi o nosso grande Guimarães Rosa, quem escreveu “O animal satisfeito, dorme”. O autor percebeu tão bem que a condição humana perde substância e energia vital, toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas já estão. Rende-se assim à sedução do repouso e imobiliza-se na perigosa acomodação.
O pensador Mario Sérgio Cortella, que aborda o tema, diz que a satisfação não deixa margem para a continuidade, para prosseguimento, para a persistência, para desdobramento. A satisfação acalma, limita, amortece. Diz ainda, que, quando alguém nos fala: Fiquei muito satisfeito com você ou Estou muito satisfeito com seu trabalho, é algo assustador.

Explica ele que tal expressão pode ser entendida como uma barreira ao crescimento, dizendo que nada mais de nós desejam, ou que aquele é nosso limite, nossa possibilidade. O está bom como está pode ser um grande cerceador da evolução, pois pode nos acomodar à situação atual. Segundo ele, seria muito melhor ouvir a seguinte expressão: Seu trabalho é bom mas fiquei insatisfeito, e portanto, quero conhecer outras coisas.

Percebamos que ele se utiliza da expressão insatisfeito, não para criticar ou depreciar o trabalho, mas para incentivar seu autor à continuidade. Um bom filme, por exemplo, não é aquele que, quando termina, ficamos insatisfeitos, parados, olhando quietos para a tela, enquanto passam os créditos, desejando que não acabe? Um bom livro não é aquele que, quando encerramos a leitura, o deixamos no colo, absortos e distantes, pensando que poderia não terminar? Um bom passeio, uma boa viagem, não é aquela que desejamos se prolongue, que nunca acabe? É desta forma que, segundo Cortella, a vida de cada um também deve ser, afinal de contas, não nascemos prontos e acabados.

Ainda bem, pois estar plenamente satisfeito consigo mesmo é considerar-se terminado e constrangido ao possível da condição do momento. Termina ele dizendo que somos seres de insatisfação, e precisamos alguma dose de ambição em nossas existências. O animal satisfeito dorme, pois não tem objetivos de vida, não tem razão para sair do lugar.

Trazendo para nós crentes em Cristo Jesus. Será que também estamos dormindo, satisfeitos e confortáveis com nossa atual condição espiritual. Pergunto a você que é crente a muito tempo: Você está satisfeito com a vida cristã que tem levado? Está contente com o tipo de comunhão que está tendo com Deus e com seu povo? Está feliz com a quantidade e qualidade de tempo que tem dedicado a oração e leitura da Palavra de Deus? Está confortável com os frutos que tem dado a Deus pelo testemunho de sua vida? Quantas almas você já levou a Cristo? Está álacre vendo milhares de pessoas todos os dias morrendo e indo para o inferno? Está contente com a atual situação de corrupção, imoralidade, violência, cegueira espiritual, idolatria em que vive nossa sociedade? Está feliz vendo cada vez mais pessoas indo as igrejas na busca de benção materiais e curas milagrosas, enchendo o bolso de falsos profetas, ao invés de salvação de suas almas? Está satisfeito vendo bancos vazios em nossas igrejas, enquanto milhares estão afundadas em miséria espiritual? Enquanto você está lendo este artigo, neste exato momento, milhares de vidas ao nosso redor estão afundadas e arruinadas pelo pecado que certamente as condenará eternamente se não ouvirem as boas novas do evangelho de Jesus Cristo.

Porque está parado aí, vendo as horas, os dias, semanas e anos passarem enquanto o inimigo de nossas almas, que não dorme, nem descansa, trabalhando para roubar, matar e destruir vidas e mais vidas. “O crente satisfeito, dorme”. Meu coração arde como o de Jesus vendo tamanha incredulidade: “Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?” (Mt. 17.17). Podemos acrescentar: Até quando dormireis? Até quando ficaremos aqui parados? “É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar.” (Jo. 9.4) “E digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos”. (Rm. 13.11) “Pelo que diz: Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará.” (Ef.5.14).

Voltemos a Cortella, quando ele diz que “satisfeito” é aquele que parou no tempo, parou de cresce, de produzir, e que não há continuidade. Vemos assim a vida de muitos crentes com o passar do tempo perderam substancialmente sua energia espiritual, a alegria e o vigor daquele primeiro amor do momento da conversão, se foi..., “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras” (Ap. 2.4,5).

Diante de tudo isto, se ainda estiver “satisfeito”. Sugiro que reflita bem se seu cristianismo é autentico. Mas se há em você uma inquietude interior, e um desejo intenso de crescer, melhorar espiritualmente e fazer algo. Então, ponha-se nas afetuosas mãos do nosso Deus, para que ele o use na obra do reino. Não há mais tempo a perder. O evangelho tem pressa. É necessário “desembaraçar-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, e corrermos, com perseverança, a carreira que nos está proposta” (Hb.12.1). Deus nos faça seres de “insatisfação” espiritual.

Pr Nelmo Monteiro Pinto

nelmomonteiro.blogspot.com

Sociedade do Excesso sem exeção

Filhos assassinam pais, professores alertam alunos para a nota zero da prova e recebe um ‘e daí’ como resposta, pulamos normalmente por sobre mendigos nas ruas, receamos nos casar, ficamos ao invés de namorar, assistimos o horror na mídia e não nos assustamos, a expressão da sexualidade é múltipla, convivemos pacificamente com a violência, ser ator não é mais coisa de gay, médico, engenheiro e advogado não são mais as únicas profissões, queimam-se prostitutas, oficiais da sociedade abusam do poder, adoecemos psicologicamente sem saber o porquê e etc.


Estamos numa sociedade ímpar. Sociedade do excesso onde a diversidade não permite exceção. O diverso trouxe uma nova normalidade. O normal não é mais versão do único, mas a expressão do multiverso. Logo, nada é exceção, nem mesmo o excesso.


Sociedade do excesso porque o desejo não tem lei. A autoridade não mais orienta, regula ou limita. A autoridade se cala, pois não tem mais legitimidade para apontar para todos o caminho verdadeiro, pois o saber científico diz não existir. O saber científico é uma autoridade que desregula a autoridade do senso comum e da moral na sociedade. O saber científico se põe perante a autoridade dos pais e educadores apontando-lhes a autoridade que aponta a direção como um sinônimo de autoritarismo e abuso de poder. Daí se explica, por exemplo, os filhos sem limites, violentos contra pais e educadores e filhos que assassinam pais.


Sociedade sem exceção porque não há normalidade única, não há a versão correta a se seguir e nem quem esteja fora da versão, então não há quem esteja fora do normal. Assistimos a morte da moralidade. Não há o ideal, o correto, a verdade única. Dessa forma, ninguém está em exceção, já que não existe uma única versão, mas sim o multiverso, a diversidade de opções possíveis e de maneiras de ser e existir. Daí se explica, por exemplo, a expressão da sexualidade nessa sociedade, onde não há mais homens e mulheres e heterossexuais, há o multiverso de opções sexuais sem quem oriente qual seguir. Não há na sociedade a orientação para uma verdade única como a heterossexualidade.


Sociedade onde tudo é corriqueiro, diverso e em excesso. Onde não ha anormal e nem normalidade, pois tudo é diverso. Então não há exceção ao normal, não há estado de exceção, não há o estranho que assusta, já que tudo é diverso e excessivo. O excesso entre o diverso faz tudo parecer normal-sem-exceção. Nesse contexto se percebe a dessensibilização moral e ética em parcelas da sociedade.


Não há quem hoje se espante ante o excesso de violência, de erotismo e de horror expostos na mídia através de reality shows que se propõem a retirar as fronteiras entre a dimensão pública e privada da existência humana. A retirada dessa fronteira delimitadora entre público e privado proporciona a sensação do excesso na atualidade. Antes o que a moral barrava, hoje o desejo anseia sem limites. O desejo deleita-se com pessoas aprisionadas em condições de vida excessivamente aterrorizantes, erotizadas e violentas.


É o excesso do e no desejo do outro. A hipermodernidade de que fala Lipovetsky. Perante o multiverso o desejo sem lei fica desnorteado e por vezes colapsa. Proibir é proibido. Assim estimula-se a produção do diverso e do excesso. Quem se diverte é o gozo que flui desregradamente livre e temporariamente ou colapsa diante do impasse das escolhas. Isso explica o ‘ficar’ e a dificuldade de arrumar casamentos na sociedade onde ninguém quer compromisso conjugal duradouro.


Assim, o mendigo, o menino rua, a prostituição, as drogas, a violência, a corrupção, a degradação do outro não mobilizam como antes mobilizam a movimentação social. Entretanto, há parcelas da população assustadas com essa normalidade do anormal e assim fundam instituições de promoção do anormal dentro dessa normalidade patológica. Eles vêm dizer, por exemplo, que meninos de rua não é tão normal assim, vêm dizer que pessoas sem educação básica é anormal e que fogem do normal da cidadania.


Portanto, as ONGs, de certa forma, representam o resgate ideológico da normalidade através do apontamento do anormal e do excluído dos direitos de cidadania. Sua função é a de ressensibilizar os dessensibilizados ao advogar que algumas condições de vida são anormais perante uma rede de dispositivos legais que garantem a normalidade perdida da cidadania.


Na modernidade havia o instituto psicológico da Identificação. Em família havia a existência do discurso do Outro que nos apontava o caminho ideal e com essa forma de caminhar nos identificávamos barrando o excesso de desejo pueril com o qual nos sobejávamos na infância. A relação entre família e os papéis de seus membros se modificaram. Novas funções são observadas. Não há mais quem diga sobre o certo ou errado e barre o excesso de desejo em família. Só há quem na sociedade profetize o excesso de desejo como ativadores de males vindouros.


Percebemos na atualidade a queda do outro que regula o excesso de desejo em família, pois barrar agora é crime inadequado. A lei familiar não mais proíbe o desejo, pois ela não existe. A proibição pela lei se fora e presenciamos o excesso e o desrespeito pela existência do próximo. A alteridade só existe enquanto servir de objeto do desejo. Daí a efemeridade dos encontros. Portanto, desejo excessivo sem lei nos fala de egoísmo a partir de um ponto de vista. O que importa é exceder o desejo, mesmo que o outro, que não aprendemos a vê-lo em seus direitos básicos, exista.


Assim caminhamos, em excesso e em nova normalidade. Rumo a uma nova sociedade. A sociedade do excesso. Sociedade sem noção de privado. A sociedade do diverso. A sociedade sem lei para o desejo. Uma sociedade sem exceção e egoísta, portanto.


A partir dessa reflexão, qual seria o papel do cristão nessa sociedade? Qual tem sido a influência dessa sociedade (que está apontada em II Tm 4:3) sobre a Eclésia? Muitas por certo. É só observar os tentáculos tentadores do neopentecostalismo que se harmoniza perfeitamente com essa proposta de sociedade do excesso sem exceção.


Uma sociedade que apregoa o anarquismo do desejo humano é uma sociedade que pode ser mais interessante para dar vazão à voz do pecado que habita o ser humano.


Uma sociedade onde ser cristão é continuar dando vazão aos desejos humanos em excesso e sem exceção até mesmo dentro da igreja que possui Jesus hereticamente vestindo a indumentária de garçom e não de Redentor.


Um dos efeitos dessa sociedade dentro da igreja é que aqui funciona como restaurante de desejos. Fala-se de santificação, de Jesus, de obediência e disso tudo que está na bíblia e pregado há mais de 500 anos a partir da reforma protestante.


Só que nesses tempos de hipermodernidade há uma diferença na pregação. Tudo isso – cristo, santificação, obediência à Palavra, etc., virou um meio para se conseguir um fim: a realização do próprio desejo. Busca-se santidade para se conseguir realizar mais desejos, como fichas que se acumulam: quanto mais santo e mais obediente mais bênçãos se recebe.


Portanto, um dos desafios da igreja está em manter-se biblicamente embasada e teologicamente atualizada para esta época que nos lança desafios constantes ante a educação dos filhos e do discipulado cristão. Reverter essa situação de Cristo como intermediário entre a santidade e o desejo humano compulsivo (que não deixa de ser um pecado).


Deus deve reassumir o seu papel: O Eu Sou O Que Sou definido em essência e sem pragmatismo e nem relativismo algum em sua definição. Deus não é filosofia de vida. É Senhor e deve ser adorado pelo que É e não pelo que poderia dar se quisesse.

Marcelo Quirino
Psicólogo Clínico (UFRJ)
Fone (021) 8260.6966
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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Os Benefícios Psicológicos da Oração

Por Marcelo Quirino

Membro da PIB Guarani – São João de Meriti
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Além da óbvia conseqüência espiritual, a oração proporciona alguns benefícios psicológicos ao cristão. Há vários tipos de oração e cada um deles possibilita ao cristão experimentar algumas vivências psicológicas específicas que se relacionam com a dimensão espiritual.
A oração possui resultados de dissipar emoções negativas e pesadas, acalmar, oferecer direção para decisões, esclarecer o cristão sobre suas crenças irracionais e preconceitos, iluminar sobre comportamentos errôneos, oferecer motivação para a luta, elucidar o cristão sobre as suas impulsões, além de outros benefícios.
No ato de orar não só falamos, mas escutamos Deus também. É no ato de utilizar a linguagem e expor nossa psicodinâmica para Deus a fim de que o Espírito Santo analise nossos anseios, conflitos psicológicos e nossa estrutura de personalidade. Portanto, a oração traz também maturidade psicológica.
Os Tipos e os Benefícios Psicológicos da Oração
Um sistema classificatório de orações se justifica com objetivos didáticos, uma vez que durante o ato de orar elas podem se alternar. Cada um pode ter vários benefícios, mas destacamos apenas alguns de acordo com a parte da estrutura psicológica utilizada em cada um dos tipos de oração.
Segundo os objetivos de cada oração, poderíamos didaticamente separá-las em oração de clamor, a confessional, a dialógica, a de consagração, a de louvor, a de intercessão e a oração de meditação.
A primeira oração é a confessional. É pela oração confessional que admitimos a existência de um conflito, pecado ou problema. Nessa oração é com a ajuda do Espírito Santo que geramos o desconforto psicológico necessário para a mudança através da sensação de culpa positiva.
Por isso a oração confessional permite a assunção da parcela de responsabilidade ante o próprio comportamento e motiva para resolução do conflito fazendo com que o cristão seja responsável pelo seu processo de santificação. Beneficia a responsabilidade pela santificação e proporciona autoconhecimento.
A oração de clamor permite ao cristão reconhecer-se como servo e não permite que o ego atinja altos níveis de individualismo que gerariam a sensação de independência plena de Deus. Essa oração tem por característica um pedido de resolução sobre um conflito ou problema.
No ato de clamar abrandamos os receios impostos pelo ego, as culpas negativas e também entregamos a Deus nossos desejos impulsivos. Beneficia a dependência de Deus e proporciona maior controle do ego sobre a realidade psicológica.
A oração de diálogo é a oração com Deus descompromissada com qualquer temática. Ela nos permite esclarecer nossas crenças irracionais, nossos preconceitos, nossa ignorância e nos ilumina ante um conflito psicológico. A oração dialógica permite análise dos desejos humanos e uma análise da nossa forma de relação interpessoal no grupo, família ou igreja.
A oração dialógica é um bate-papo onde podem aparecer ideias e aflorar criatividade para um projeto no ministério, por exemplo. Nesse tipo de oração não há muita manifestação de culpas, já que não há compromisso com algum conflito psicológico. Beneficia a criatividade e promove capacidade de análise ao ego.
A oração de consagração é aquela onde fazemos pactos com Deus e com nossos irmãos. Consagramos desejos e comportamentos. Como a oração de posse no ministério pastoral, por exemplo. É nessa oração que enfatizamos que apesar da existência de qualquer conflito psicológico, problema ou desejo, precisaremos nos manter no pactuado.
Na oração de consagração o ego analisa que precisará manter-se firme diante conflitos psicológicos. Beneficia a confiança em Deus.
A oração de adoração e louvor é a oração que engrandece a Deus pelos seus feitos, pelo seu ato no Calvário e pela sua onipotência. É nessa oração que o cristão reconhece-se como dependente de Deus e evita a desobediência. Beneficia a aliança com Deus.
A oração de intercessão é a oração que pedimos a Deus pelos nossos irmãos e suas causas. É nessa oração que pomos nosso tempo e nossa oração à serviço da igreja, dos familiares e dos não crentes. É uma oração que beneficia a comunhão com o corpo de Cristo e proporciona misericórdia e compaixão, ou o senso de empatia.
Na oração de meditação nós refletimos na palavra divina, em nossa própria vida, em nossa estrutura psicológica e nas relações interpessoais. Pela oração de meditação nós nos santificamos pela Palavra e iluminamos decisões a serem tomadas e promovemos um processo de autoconhecimento direcionado pelo Espírito Santo. Nessa oração beneficiamos o crescimento espiritual.
Esses cinco tipos obedeceram ao critério do objetivo da comunicação. Outras divisões poderiam ser feitas de acordo com outros critérios. Essa forma de divisão nos é importante e útil, pois evidencia quais as partes da personalidade estão postas em ação para alcançar o objetivo predeterminado da oração e consequentemente constata-se alguns benefícios adjacentes.
Portanto, percebemos que cada tipo de oração difere na parte da personalidade que é utilizada para se comunicar com Deus e consequentemente seus benefícios são diferentes.
Apesar dessa análise, cada tipo de oração é um momento único de falar com Deus e não podemos compreender todos os seus benefícios com uma breve análise psicológica. Deus pode ainda quebrar essas regras e oferecer os benefícios que quiser, afinal Ele é o soberano.
A Oração Como Expressão de Fé
Assim sendo, buscar benefícios psicológicos em uma oração não é o nosso desafio. Nosso desafio supremo nesses tempos de crise de identidade doutrinária bíblica e batista é fazer da oração uma expressão genuína de fé e não colocá-la à serviço da confissão positiva.
A confissão positiva é o desespero humano posto em palavras para controlar o próprio futuro ao invés de conceder o seu controle para Deus. É a falta de fé, expressa num impulso de onipotência, que motiva tal necessidade de controle.
A confissão positiva não é expressão do espiritual. Pode ser fruto da ausência de fé e tem a ver com conflitos e desejos psicológicos não submetidos a Deus.
Ter fé é conseguir suportar o desconforto psicológico como medos e receios sabendo de antemão que Deus proverá naquilo que Ele prometeu em sua Palavra, apesar do contexto visto dizer o contrário. Ter fé é saber esperar com certeza o agir de Deus.
Firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não vêem, a fé não tem a ver com ordenar, mas tem a ver com depender confiantemente de Deus.
Ter fé tem a ver com conter a si mesmo e não com dominar o mundo externo pela palavra declarada. Fé tem a ver com equilíbrio emocional e é a firme crença psicológica inabalável na providência divina