sexta-feira, 24 de junho de 2011

BATISTAS E O RACHA 50 ANOS DEPOIS

Irmãos,

Estamos no momento dos 100 anos da Assembléia de Deus.
A revista "Igreja" do grupo Berzin vem lançando fascículos sobre o pentecostalismo no Brasil.
Aliás a revista parece que mudou de nome para "Ética Cristã", com uma excelente roupagem.
No fascículo 3 o personagem principal é Enéas Tognini.
No começo deste mês Enéas Tognini foi convidado para ser um dos principais preletores
do Congresso de meio de ano da OPBB em Porto Seguro-BA: http://opbb.org.br/

Estamos próximos dos 50 anos da divisão...

O que fazer?

Vital


O lamentável racha

Depois de muita discussão e brigas internas na denominação, a Convenção Batista Brasileira designa uma comissão de treze dos seus mais influentes pastores para estudar e apresentar um trabalho analisando o pentecostalismo à luz das Escrituras, para que assim a denominação pudesse tomar uma decisão final sobre as igrejas que vinham aderindo a Renovação Espiritual. Esta comissão, conhecida como Comissão dos 13, deveria trabalhar com o seguinte critério: três defenderiam Renovação Espiritual; José Rego do Nascimento, Aquiles Barbosa e Enéas Tognini; três contra Renovação Espiritual; Harald Schaly, Delcyr de Souza Lima e Reinaldo Purim; e sete para julgar; João Filson Soren, David Mein, Werner Kaschel, José dos Reis Pereira, David Gomes e Thurman Bryant, presididos por Rubens Lopes. Enéas Tognini, em seu livro “História dos batistas nacionais” alega que o critério acima estabelecido não foi seguido, no final todos os que não estavam a favor de Renovação acabaram julgando. Ademais, nem Enéas Tognini, nem José do Rego puderam levar adiante seus trabalhos devido a outras atividades. Segue a seguir alguns parágrafos, na íntegra, da “Declaração Final da Comissão dos Treze”.

1. “A crença no batismo no Espírito Santo como uma segunda bênção, ou seja, como uma segunda etapa na vida cristã, ou seja, ainda, como uma nova experiência posterior à conversão, não encontra base nas Escrituras.”.

*TOGNINI, Enéas – História dos batistas nacionais. 2ª ed. 1993, Convenção Batista Nacional, Brasília – D. F. (p. 21).
2. “Plenitude do Espírito Santo” não é o mesmo que “Batismo no Espírito Santo. E, antes, um estado espiritual ao deve e pode chegar o crente, estado este que se caracteriza por inteira dependência e obediência à vontade do Espírito Santo de Deus e pela capacitação para a realização de Sua obra.”.
6. “A ênfase dada à doutrina do batismo no Espírito Santo como sendo uma segunda bênção tem originado os seguintes abusos, que, sinceramente, deploramos: 1) A realizações de reuniões que se notam os mesmos erros próprios que de reuniões pentecostais, isto é, a confusão no ambiente, a gritaria, os descontroles físicos, o falar línguas e outros excessos de emocionalismo. 2) Uma atitude de orgulho espiritual, que não quer admitir opiniões opostas e que classifica de carnais e mundanos os que não participam das mesmas emoções e experiências. 3) Tentativas ostensivas ou veladas de proselitismo entre outras igrejas.”

A referida comissão deu três recomendações, transcreveremos a terceira.

3. “Que as igrejas e pastores que se tenham afastados das doutrinas batistas e se aproximado das doutrinas pentecostais sejam convidados com todo o amor a um reestudo de sua posição à luz do parecer ora apresentado. Caso persistam em manter pontos de vista contrários à posição doutrinária sustentada pela Convenção Batista Brasileira, sintam-se à vontade para uma retirada pacífica e honrosa, em benefício da paz da causa de Deus. Tam recomendação se limitam àqueles que fazem de suas convicções divergentes motivo de atividade ostensiva, provocando inquietação, confusão e divisão.”
São Paulo, 10 de Outubro de 1963
a) Rubens Lopes, Presidente
Werner Kaschel, secretário
Achilles Barbosa, com restrições
David Gomes
David Mein
Delcyr de Souza Lima
Harald Schaly
José dos Reis Pereira
Reinaldo Purim
João Filson Soren

http://teologiaevida.blogspot.com/2011/01/historia-dos-batistas-nacionais.html



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INTRODUÇÃO
O MOVIMENTO RENOVAÇÃO ESPIRITUAL ENTRE OS EVANGÉLICOS BRASILEIROS.
A história da igreja registra o surgimento de movimentos de reavivamento espiritual entre os cristãos dos mais diversos grupos. No final do Século XIX movimento reavivalista atingiu várias denominações nos Estados Unidos e na Inglaterra, chegando os seus efeitos a outros paises como o Brasil onde, no inicio do Século XX, um destes movimentos floresceu no seio da Primeira Igreja Batista do Pará, dali surgindo os fundadores do movimento pentecostal, que deu origem à Igreja Assembléia de Deus. O pentecostalismo ao tempo que surge como novo grupo evangélico, também se divide em inúmeros grupos, mantendo uma linha de comportamento teológico-fundamentalista.

A crise da pós-modernidade social e econômica gera uma nova revolução social, onde são questionados os valores e os padrões tradicionais, inclusive os ícones religiosos e padrões ético-comportamentais das várias igrejas, buscando um novo padrão, uma nova forma de liturgia e de expressão religiosa. Nesta situação é que os movimentos reavivalistas ressurgem em meados do Século XX no meio das várias denominações (protestante-evangélicas) tradicionais, e até no seio da Igreja Católica Apostólica Romana (com a Renovação Carismática Católica), verão surgir grupos buscando uma nova visão espiritual, um busca de uma vida mais dedicada aos aspectos da espiritualidade cristã, semelhante aos grupos pentecostais.

O surgimento destes novos grupos, no cenário nacional, que darão origem às igrejas neopentecostais, é precedido de um movimento reavivalista que veio a ser denominado de Renovação Espiritual, com características similares aos destas igrejas pentecostais, que atingiu as denominações históricas existentes no país. Esse Movimento Renovação Espiritual vem dar origem a novas denominações, as quais passam a ser identificadas com os nomes daquelas que lhes deram origem, habitualmente acrescidas da expressão renovada.

O Movimento Renovação Espiritual foi, de início, um fenômeno de avivamento que atingiu vários grupos evangélicos tradicionais como os Batistas, os Presbiterianos e os Metodistas, entre outros. Esse movimento, cuja finalidade era um reavivamento, com dedicação à espiritualidade, em determinado ponto do percurso recebeu a influência e inserção de práticas pentecostais, o que gerou divergências nas deno-minações tradicionais e causou rupturas. O resultado foi o surgimento de igrejas com o nome de renovadas: Igrejas Batistas Renovadas, Igrejas Presbiterianas Renovadas, Igrejas Metodistas Wesleyanas, entre outras, com características pentecostais.

A evolução do Movimento Renovação Espiritual entre os cristãos batistas teve momentos e situações diversos: o surgimento do Movimento dentro das Igrejas e seus reflexos na Convenção Batista Brasileira e nas várias Convenções Batistas Estaduais; a tomada de posição quanto ao movimento no âmbito da Convenção Batista Brasileira e posteriormente nas Convenções Estaduais, com uma definição de posição por parte das igrejas, saindo da Convenção Batista Brasileira e das Convenções Estaduais as “igrejas da Renovação Espiritual”, com a suspensão de relações fraternais e a criação da Convenção Batista Nacional; finalmente, estamos chegando a um terceiro momento, quando os dois grupos - batistas da Convenção Batista Brasileira e batistas da Convenção Batista Nacional -, participam de atividades em organismos de cooperação comuns – a União Bautista Latinoamericana (UBLA) e The World Baptist Aliance (WBA)[1], com a aproximação, ainda tímida, entre as duas convenções de âmbito nacional.


[1] World Batist Aliance – Aliança Batista Mundial, congrega os batistas em todo o mundo.

CAPITULO I
Francisco Bonato Pereira

O MOVIMENTO RENOVAÇÃO ESPIRITUAL ENTRE OS BATISTAS.


O Movimento Renovação Espiritual no seio da denominação batista no Brasil se manifestou a partir da influencia de Rosalee Mills Appleby, escritora e poetisa de grande aceitação entre os batistas brasileiros. Missionária norte-americana, Rosalee Mills Appleby veio para o Brasil em 1924, tendo sido nomeada juntamente com o marido David Appleby. Estando grávida do primeiro filho faleceu o seu marido, tendo ela resolvido permanecer no país, criando o filho e cumprindo a sua missão, em vez de retornar à retornar a sua pátria.

A sua literatura era sempre lida com avidez e recebida com simpatia e aprovação pelos batistas brasileiros. Passou a escrever produzindo livros “Vida Vitoriosa”, “Ouro, Incenso e Mirra”, e a fazer palestras nas igrejas do Estado de Minas Gerais, onde residia, bem como nos Estados vizinhos. Colocou em seu coração a necessidade de um avivamento no Brasil e a esta missão passou a dedicar a sua produção literária, iniciando uma serie de textos, de sua autoria ou traduzidos e outras atividades. Iniciou um programa de pregação através do rádio, denominado “Renovação Espiritual”, onde a temática das mensagens era sempre a mesma: uma vida dedicada às coisas espirituais, a segunda benção e o batismo no Espírito Santo. Embora passe a declarar que o seu objetivo era evangelizar, a tônica das suas palestras e pregações era a necessidade prévia, da submissão integral à orientação do Espírito Santo, isto é, era necessário a submissão plena ao Espírito Santo para se ter uma vida vitoriosa e possuir capacidade para evangelizar e ensinar a palavra[1].

Nessa cruzada pessoal Rosallee Mills Appleby passou a visitar igrejas e instituições onde pudesse divulgar sua mensagem. Assim, no ano de 1954, ela visitou a cidade de Carolina, no Maranhão, onde fez uma série de pregações na Igreja Batista, a convite do Pastor Jonas Barreira de Macedo, e no Instituto Teológico Batista de Carolina, a convite do diretor, Pastor Helcias Raposo Câmara, tendo como tema “O Poder do Espírito Santo na Vida do Crente”. Alguns alunos do Instituto ficaram muito impressionados, passaram a realizar reuniões de oração, onde o elemento emocional era predominante. Outros desejaram logos abandonar os estudos e iniciar logo trabalhos de evangelização. Uma das tônicas dominantes das pessoas envolvidas com esse movimento foi passaram a ter maior dedicação à oração e à uma vida voltada para às coisas espirituais, procurando se afastar do que consideravam coisas mundanas (não espiritual) e a exortar aos demais crentes a observarem uma vida voltada para a espiritualidade. Daí vieram os conflitos decorrentes das censuras feitas aos “não-espirituais”, porque se exortava por todo e a qualquer pretexto. Esses fatos se repetiram noutras cidades.[2]

Rosallee Appleby, adoecendo gravemente, necessitou de fazer tratamento de saúde nos Estados Unidos. Na ocasião entregou a direção do programa Renovação Espiritual ao pastor José Rego do Nascimento, que por essa época dirigia a Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte, Minas Gerais.[3] Este adicionou novos ingredientes ao assunto Renovação Espiritual: práticas de caráter nitidamente pentecostais, como a segunda benção e o batismo no Espírito Santo. Estes eram elementos estranhos às práticas e doutrinas batistas.

O pastor José do Rego Nascimento concluiu o seu curso em 1951 no Seminário Batista do Sul (Rio de Janeiro), sendo eleito orador da turma. Consagrado ao Ministério pastoreou a Igreja de Olinda (Rio de Janeiro) e posteriormente pediu demissão do banco onde trabalhava e foi pastorear uma pequena igreja no interior da Bahia, sua terra natal. Dali foi convidado para pastorear a Igreja Batista de Vitória da Conquista, em cujo pastorado teve uma experiência espiritual, que mais tarde denominou de “batismo no Espírito Santo”. Passou a publicar n‘O Jornal Batista artigos sobre o assunto e a pregar em igrejas sobre a experiência, além de adotar uma linha de pregação contra os hábitos sociais externos da igreja.

Bom pregador, dotado de excelente voz e de boa apresentação, além de bom vocabulário e maneira peculiar de expressão, enfatizava a necessidade de abandonar o que ele denominava de “mundanismo dos crentes”. Em razão disso as suas mensagens tinham sempre tinha uma boa aceitação nas igrejas por onde passava.Acrescente-se que, tendo experiência no mundo financeiro, administrou as finanças da igreja, de modo a gerar lucro para a igreja, e tendo passado a comprar bezerros e vende-los depois de crescidos amealhou recursos para a construção de um grande templo para a sua Igreja em Vitória da Conquista. Mas o campo estava se tornando pequeno para sua aspiração de influenciar os evangélicos a partir de um grande centro, de onde pudesse espalhar a sua mensagem de experiência com o Espírito Santo.

A divulgação de suas mensagens levou os alunos do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil a convidarem-no para falar-lhes e, de tal modo ele os impressionou, que o convidaram para ser o paraninfo da turma. Pouco tempo depois quatro leigos batistas de Belo Horizonte conceberam o projeto de fundar uma igreja que fosse o exemplo de pureza evangélica, além de dedicada à evangelização. Fizeram o convite ao pastor José Rego do Nascimento para que fosse o seu líder do empreendimento. Ele já sonhava com a cidade de Belo Horizonte (MG) como um centro para expandir suas atividades, deixou a Igreja de Vitória da Conquista (BA) e aceitou o pastorado da recém formada Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte (MG), em 17 de maio de 1958. Aproximando-se de Rosalee Appleby, dela recebeu o programa de rádio do qual tirou o nome para o movimento. Continuou a escrevendo no Jornal Batista e fazendo conferencias e publicando o livro “Calvário e Pentecoste”. A sua igreja tornou-se o centro das atenções, com o afluxo de membros de outras igrejas, desejosas dessa nova experiência.

Novo convite dos alunos do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, em outubro de 1958, para falar numa semana de despertamento espiritual. No último dia dessas reuniões, uma sexta-feira, foi realizada uma noite de vigília na Biblioteca do Seminário, sob a direção do Pastor José Rego, com a presença de cinqüenta seminaristas e quatro visitantes. O grupo passou a noite orando e cantando e fazendo tal barulho que se podia ouvir á distancia. O resultado da noite de vigília e oração foi que muitos dos presentes declararam ter passado pela grande experiência espiritual. Era a repetição da experiência ocorrida em outros lugares, como no Instituto Teológico em Carolina (MA), em 1954. O fato provocou a reação da direção do Seminário, por haver comprometido o nome da instituição com reunião de características pentecostais, tendo o Corpo Docente se reunido, publicado nota no Jornal Batista, em 27 de novembro de 1958, seguida pela Junta Administrativa, em 1º de janeiro de 1959, que desautorizou a reunião e preveniu as igrejas contra o desvirtuamento da doutrina do Espírito Santo e os excessos decorrentes.[4]

O retorno do pastor Jose do Rego Nascimento a Belo Horizonte foi triunfal, declarando na IB Lagoinha que o avivamento no Brasil começara. Todavia, para muitos pastores e igrejas estava começando o desassossego e o tumulto em suas igrejas. Logo outros líderes batistas, como o Pastor Enéas Tognini, da IB Perdizes (SP), diretor do Colégio Batista de São Paulo, foram influenciados pelo Movimento, passando divulgar as suas idéias.[5]


[1] REIS PEREIRA, José dos, HISTÓRIA DOS BATISTAS NO BRASIL 1882-2001, p. 252
[2] SOUZA, João Luiz de, RENOVAÇÃO ESPIRITUAL. Trabalho de Pesquisa para a Disciplina HISTÓRIA DOS BATISTAS (1967) ministrada pelo Professor David Mein, no STBNB, p. 44.
[3] REIS PEREIRA, José dos, obra citada, p. 254
[4] REIS PEREIRA, José dos, obra citada, p. 254
[5] REIS PEREIRA, José dos, obra citada, p. 254

CAPITULO II

O MOVIMENTO RENOVAÇÃO ESPIRITUAL E A CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA (CBB).
A Convenção Batista Brasileira (CBB), reunida em sua Assembléia em Janeiro de 1962, na cidade de Curitiba (PR), por deliberação do plenário, acolheu proposição do Pastor Murilo Cassete, de Minas Gerais, e nomeou uma Comissão para estudar a doutrina do Espírito Santo à luz do que entendemos por doutrina Batista, para emitir o seu parecer na próxima Assembléia Convencional[1]. O plenário deliberou que o seu presidente, Pastor Rubens Lopes, da Igreja Batista em Vila Mariana (SP), integrasse a comissão. O presidente, ao nomear essa comissão, adotou o seguinte critério: três membros que defendiam as idéias da Renovação Espiritual: José do Rego Nascimento, Enéas Tognini e Achilles Barbosa; três membros que haviam se manifestado contra essas idéias: Delcyr de Souza Lima, Harald Schaly, e Reinaldo Purim; e cinco que não haviam se manifestado sobre o assunto: João Filson Soren, David Mein, Werner Kaschel, José dos Reis Pereira e David Gomes. Como o pastor Reinaldo Purim renunciasse à sua participação na comissão, foi eleito para substituí-lo Thurmon Bryant. Reinaldo Purim porém, ante a insistência do plenário, reconsiderou a decisão e foi mantido eleito, tendo o plenário decidido que o Presidente da Assembléia integraria o Grupo de Trabalho (GT), que passou a ser conhecida como Comissão dos Treze.
A Comissão reuniu-se em catorze oportunidades, em São Paulo (Vila Mariana), no Rio de Janeiro (STBSB) e em Vitória (ES) e, por fim, concordou, de forma unânime, num parecer, que apresentado à Assembléia Convencional da CBB em Vitória (ES). No parecer a Comissão declarou que deixava de definir o significado de “batismo no Espírito Santo”, nunca definido em declaração de fé batista, mas asseverava que a crença numa “segunda benção” e a “existência atual de dons de línguas e curas não eram posições adotadas pelos batistas brasileiros através dos anos”; e “que a atuação do Espírito Santo, na vida do crente, se faz através de um processo chamado santificação progressiva”. E que manifestações emotivas, por mais sinceras que sejam, não podem ser apresentadas como padrão a ser seguido por todos e a ênfase dada à doutrina do batismo no Espírito Santo tem causado reuniões barulhentas, cheias de emocionalismo, próprias do pentecostalismo, provocando manifestações de orgulho e de proselitismo entre crentes que não adotam tais idéias.”

PARECER:
A COMISSÃO NOMEADA PELA 44ª ASSEMBLÉIA DA CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA (CBB), para estudar a Doutrina do Espírito Santo à Luz do que se deve entender por Doutrina Batista , reunida numa das dependências do templo da Igreja Batista de Vila Mariana, nos dias 27 e 28 de setembro e 18 e 19 de outubro de , e no Seminário do Sul, no Rio, no dia 18 de dezembro de 1962, e 23, 24 e 25 de Janeiro de 1963, em Vitória (ES), depois de considerar exaustivamente a matéria em pauta, conforme poderá ver-se pelas atas das reuniões, e num ambiente que se caracterizou pelo mais elevado espírito de franqueza e compreensão, decidiu submeter o seguinte considerando ao esclarecido plenário da 45ª Assembléia o parecer que se segue:
CONSIDERANDO:
que se torna impraticável firmar-se unanimidade na maneira de entender a doutrina do Espirito Santo no capitulo referente ao batismo do Espírito Santo;
que freqüentemente a ênfase dada a esse capítulo da doutrina tem levado igrejas e irmãos a exageros que não obedecem à norma neo-testamentária da decência e da ordem nos cultos;
que, quaisquer debates polêmicos neste campo doutrinário – tendo o assunto muito a ver com foro intimo de cada crente – acarretam o grave perigo de comprometer a unidade da denominação Batista no Brasil, unidade hoje, mais que nunca, necessária em face das responsabilidade comuns que o atual momento impõe;
que, por outro lado, a ninguém é dado contestar a necessidade de uma campanha enérgica de despertamento espiritual para atalhar os males com que o pecado ameaça crentes e igrejas,
a COMISSÃO recomenda:
1. que se encerre a discussão sobre a doutrina do Espírito Santo, mantendo-se a Convenção Batista Brasileira fiel à sua tradicional linha teológica nesse assunto;
2. que se respeitem as reuniões porventura divergentes quer se baseiem elas em conceitos, quer em experiências religiosas de cunho pessoal, desde que tais opiniões não assumam caráter polêmico;
3. que os batistas brasileiros manifestem sua desaprovação a excessos de emocionalismo, sejam ou não atribuídos à ação do Espírito Santo;
4. que seja lançado, sob os auspícios da Convenção Batista Brasileira, um amplo e permanente movimento de intensificação de vida espiritual, sendo para isso constituída anualmente uma comissão de dez membros, apontados pela comissão de indicações da Convenção, e que exprimam não só a opinião dominante, mas outras previstas no parágrafo anterior.
Campo Mineiro: Recomendar às duas convenções que mantenham coexistência pacifica e fraternal, esquecidos passados agravos pessoais.
CONCLUSÕES
1. Pelo motivo de estar constituído de elementos doutrinariamente divergentes, tendo alguns já tornado público o seu ponto de vista e permanecendo nele, esta comissão, cedo, no seu trabalho, percebeu que não poderá chegar a formular um relatório e parecer unânime no tocante à doutrina do Espírito Santo, o que, aliás, não causou estranheza aos seus membros, dada a liberdade de pensamento que os caracteriza.
2. A Comissão, no entanto, com ao menos os signatários deste crêem que o ensino público sobre o Espírito Santo, principalmente nos pontos que mais diretamente se relacionem com o chamado movimento avivalista, que motivou a criação desta comissão, pode ser sintetizada como segue:
(a) que o Espírito Santo passa a habitar no homem quando este se converte ou, em outras palavras, quando ele tem a experiência cristã e que esta presença do Espírito Santo nele vem pela iniciativa e atuação do Cristo e de Deus Pai;
(b) que a atuação do Espírito Santo que habita com o crente é essencialmente espiritual e que a mesma se verifica na personalidade total do convertido. O Espírito Santos é quem ensina e guia o crente no tocante a Cristo e à vida do convertido em todas suas atitudes e relações.
(c) que a operação do Espírito Santo no crente está condicionada à cooperação voluntária do próprio crente, cooperação esta que consiste no exame da Bíblia, na oração e na submissão a Deus e obediência à sua vontade, à luz da verdade revelada nas Escrituras.
(d) que a atuação do Espírito Santo no crente, na sua modalidade ideal e permanente, não se caracteriza por agitações ou crises emotivas, ou manifestações externas e sensíveis, como alguns a interpretam e, portanto, a buscam como uma nova experiência, posterior à conversão, que eles chamam de “segunda benção” ou “batismo com o Espírito Santo”. Tais manifestações externas nunca foram ensinadas ou prometidas por Jesus Cristo, nem constituíram objetivos a serem buscados pelos seus apóstolos no tocante a atuação do Espírito Santo neles.
(e) que qualquer experiência emotiva ou sensível de cunho pessoal que alguns crentes ou grupos de crentes tenha tido e que eles atribuam ao Espírito Santo, por mais genuína que seja para o individuo ou para o grupo, de modo algum pode constituir um exemplo ou padrão para ser imitado por outros ou para campanhas de avivamento.
3. A Comissão verificou que movimento que defende a “segunda benção” ou “batismo com o Espírito Santo” tem causado perturbações, escândalos, divisão de igrejas e de uma Convenção. A Comissão, certamente, não apreciou esses casos particulares e nem se pronunciou sobres eles. Ela apenas constatou os fatos pelo que declara que o referido movimento tem sido prejudicial.
SUGESTÕES:
Baseada nestas conclusões, a Comissão sugere:
1. que haja, por parte de pastores, e dos crentes em geral, um estudo dos mais objetivos da obra e, principalmente, do método de atuar do Espírito Santo, conforme se encontra interpretado no ensino de Jesus Cristo e exemplificado no ministério dos seus apóstolos.
2. que os crentes e igrejas se abstenham de atitudes precipitadas e hostis, mesmo quando estejam separados uns dos outros, por divergências doutrinárias, no tocante à obra do Espírito Santo.
3. que qualquer definição ou pronunciamento com referência a qualquer rompimento eventual de relações eclesiásticas entre os que porventura estejam divergindo na interpretação da obra do Espírito Santo, fique a cargo das igrejas, pois só a elas cabe pronunciar-se sobre matéria de conduta e de disciplina.
4. que esta Convenção recomende às instituições a ela subordinadas, como sejam Seminários, Juntas de Missões e outras, que, no mais breve prazo possível definam e tornem publica a sua opinião doutrinária com referência ao Espírito Santo, para orientação do seu próprio trabalho.
5. que esta Convenção recomende à redação do Jornal Batista sobre a doutrina do Espírito Santo, dando acolhida igual até mesmo em pontos de vista divergentes e que também o próprio Jornal Batista, como órgão denominacional, defina e torne conhecida sua posição sobre o assunto para conhecimento dos seus leitores e para base de orientação editorial.
6. que esta Convenção providencie a inclusão, na Declaração de Fé dos Batistas Brasileiros, de um artigo sobre a obra do Espírito Santo.
7. Sugerimos, finalmente, que aprovado este parecer a Comissão continue sua reuniões e observações, apresentando no próximo ano parecer final de que constem os resultados práticos da decisão ora tomada.
Vitória (ES), 25 de Janeiro de 1965. A Comissão: (aa) Rubens Lopes – Presidente; Werner Kaschel – Secretário; José dos Reis Pereira – Relator; Achilles Barbosa, Harald Shaly, David Gomes, José do Rego Nascimento, David Mein, João Filson Soren, Delcyr de Souza Lima, Reinaldo Purim, Enéas Tognini e Thurmon Bryant.[2]

A Convenção Batista Brasileira (CBB), em conseqüência do parecer, aprovado por unanimidade, na 47ª Assembléia:

(1) desligar do seu rol de igrejas cooperantes todas as que foram excluídas das Convenções Estaduais por motivo de “identificação com o movimento doutrinário prático-renovacionista pentecostal ora em curso no Brasil e que doravante passe a considerar para desligamento todos os casos em que venham a ser solicitados por Convenções Estaduais”;
(2) entendeu a Comissão que, nessa condições, a Igreja Batista do Fonseca, excluída pela Convenção Batista Fluminense, segundo comunicação feita, está desligada do rol cooperativo desta Convenção. Entende também que as igrejas que foram excluídas da Convenção Batista Mineira por se terem identificado com o Movimento de Renovação Espiritual estarão excluídas logo que comunicação oficial do fato seja encaminhado à Junta Executiva.
(3) quanto às igrejas que se organizarem após aquele desligamento ou que venham a ser organizar e que se unirem ou que venham a se unir a alguma convenção oriundo do Movimento de Renovação Espiritual, a Comissão é de parecer que sejam convidadas, pela Junta Executiva, a uma definição de termos. Em caso de se identificarem com o movimento sejam desligadas oportunamente.
(4) em referencia às igrejas que não estão arroladas em qualquer Convenção Estadual e cuja situação irregular venha a ser comunicada a esta Convenção que os seus casos sejam estudados na mesma base que é estabelecida pela proposição aprovada pela Convenção na sessão de ontem.
(5) somos ainda de parecer que se dê a Junta Executiva da Convenção Batista Brasileira (CBB), a atribuição de receber solicitações de eliminação, estuda-las e apresentar às Assembléias Convencionais.
(6) que se declare às igrejas atingidas pela medida que a Convenção está pronta a reestudar qualquer caso de igreja que, reconsidere sua atitude, venha a desligar-se do Movimento de Renovação Espiritual e a solicitar seu reingresso no rol cooperativo desta Convenção. Niterói, 29 de Janeiro de 1965[3].
O Movimento de Renovação Espiritual (MRE) a esta altura atingia, de forma direta, os Estados de: (a) Minas Gerais - quarenta (40) igrejas; (b) Bahia – dez (10) igrejas; (c) Rio de Janeiro – Convenção Fluminense - cinco (5) igrejas e Conven-ção Carioca - doze (12) igrejas; (4) Pernambuco - Convenção Evangelizadora - seis (6) igrejas e - Convenção Pernambucana -, uma (1) igreja; (5) Goiás - cinco (5) igrejas; (6) Espírito Santo - três (3) igrejas; Paraíba - duas (2) igrejas; (7) Rio Grande do Norte - duas (2) igrejas (em Natal); e (8) Sergipe - duas (2) igrejas (em Aracaju). A CBB reunida em Assembléia janeiro de 1965, em Niterói (RJ), desligou do rol cooperativo trinta e duas (32) igrejas e, no ano seguinte mais cinqüenta e duas (52) igrejas foram desligadas da CBB.
O Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil (STBNB), escola preparatória de obreiros, situado no Recife, seguindo recomendação da CBB sobre essa matéria enviou, em 28 de julho de 1965, carta circular aos seus alunos (seminaristas) acompanhada de declaração e compromisso.
A Direção do Seminário aprovou o texto da Declaração anexa e, nela baseada, aprovou os documentos abaixo registrados, que foram encaminhados aos alunos, devendo um deles ser devolvido assinado à direção. Os documentos encerravam uma definição coerente da posição pessoal em face de uma realidade atuante, posto que o Movimento Renovação Espiritual, envolvia, segundo o entendimento da CBB, crenças e práticas consideradas estranhas à Denominação.
O primeiro documento era uma declaração formal da aceitação por parte do signatário da linha bíblica de crença e prática tradicionalmente seguida pela Instituição, com referencia ao Espírito Santo.

DECLARAÇÃO

1. Reconheço o acerto da posição assumida pela Convenção Batista Brasileira em relação ao Movimento Renovação Espiritual.
2. Aceito a afirmação de que o citado Movimento abraça e difunde crenças e práticas que desfiguram a posição bíblica tradicional da Denominação Batista no Brasil.
3. Concordo igualmente, que este Seminário participa da responsabilidade na formação das bases teológicas do Ministério Batista Brasileiro.
4. Reconheço finalmente que o Seminário tem o dever de exigir dos seus alunos, respeito às crenças e praticas da denominação batista.
E por isto, assino esta Declaração.
O segundo era um compromisso a ser firmado por aquele que, adepto do MRE, de forma teórica ou pratica, atuante ou apenas simpatizante. Este compromisso visava à fixação clara das condições em que pode ser conseguida e conservada a matrícula de aluno que se identificava com a corrente de ação e doutrina diferente daquela adotada pela Denominação e pela Instituição. Neste compromisso, que não era o único assinado pelos seminaristas, não havia animosidade contra pessoas em razão de diferenças de fé e prática.

COMPROMISSO
Em consonância com os termos supra, assumo o seguinte compromisso: 1. Abster-me da promoção de qualquer atividade do sentido de propagar as minhas convicções e práticas relacionadas com referido movimento acima referido, nos recintos do Seminário ou entres pessoas a ele relacionadas.
2. Omitir-me da participação de encontros e debates no Seminário tendentes a alistar adeptos para o Movimento.
3. Recusar-me a promoção ou participação no Seminário de qualquer entidade ou movimento com o fim de realizar os objetivos da Renovação, bem como o uso dos órgãos estudantis para a mesma finalidade.
O Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil fez publicar n´O Jornal Batista a seguinte declaração:

DECLARAÇÃO
A Faculdade do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil resolveu dar ao conhecimento da Denominação, através d´O Jornal Batista e dos órgãos de publicidade das Convenções Batistas Estaduais, a seguinte Declaração:
1. Esta Faculdade reconhece o acerto da posição da Convenção Batista Brasileira ao confirmar sua lealdade à doutrina novo-testamentária do Espírito Santo, mantida fielmente pelas igrejas que autorizaram a organização da citada Convenção, e pela quase totalidade das igrejas constantes do seu rol ao tempo da decisão em apreço.
2. Igualmente, esta Faculdade reconhece que o chamado Movimento Renovação Espiritual abraça e difunde crenças e práticas que desfiguram a posição bíblica e tradicional da Denominação Batista do Brasil, pelo que foi constrangida a Convenção a decidir o afastamento do seu rol de igrejas apoiantes do citado movimento..
3. Finalmente, esta Faculdade declara e divulga para o conhecimento, de todos que aceitam o principio da liberdade intelectual de cada individuo e o seu direito de orar conforme os ditames da sua consciência, mas afirma solenemente que a sua responsabilidade na formação das bases teológicas e do espírito de coerência e lealdade dos jovens estudantes, futuros ministros e lideres do povo batista no Brasil, exige a reafirmação de sua crença em face da atuação heterodoxa e divisionista que vai tomando corpo entre nós; e requer respeito e acatamento por parte dos educandos. Um Seminário Batista prepara Ministros Batistas. Ninguém deve tornar-se e permanecer batista contra sua consciência; e a ninguém é licito usar o nome e as instituições batistas e opor-se às suas crenças. Recife, 28 de julho de 1965. A Faculdade
Aluno do Seminário Teológico do Recife (STBNB, Teologia) entre 1972 e 1976, ainda alcancei a exigência da declaração ou compromisso, feita a alunos de igrejas filiadas à CBB ou a igrejas vinculadas ao MRE, conforme a situação, todavia isto não interferia no relacionamento entre alunos e a instituição, nem entre alunos de grupos diferentes. Entre os colegas de turma vinculados a igrejas batistas renovadas, tivemos o Pastor Eclésio Menezes (da IB Jardim São Paulo), figura humana simpática, com palavra afável e se não fizéssemos pergunta especifica não desconfiaríamos de estar vinculado à Renovação Espiritual.

Os membros de igrejas simpatizantes e as igrejas batistas afastadas que adotaram o MRE se agruparam com pessoas e igrejas que oriundos das igrejas presbiterianas e metodistas e organizaram a Associação Missionária Evangélica (AME), em 1966, tendo como dirigente o Pastor Enéas Tognini.

Os princípios da formação eclesiológica batista, como governo da assembléia, a liberdade de consciência, inclusive quanto a interpretação das Escrituras, entre outros, trouxe dificuldades para a unidade do grupo, com formação e princípios diferentes. A AME, em julho de 1967, reformou os Estatutos e dela sairam as igrejas oriundas de denominações não batistas. A AME, em 16 de setembro de 1967, mudou o o nome para Convenção Batista Nacional[4], mantido até hoje.

A partir da restruturação da AME, os demais grupos denominacionais sairam e se organizaram segundo a sua origem e característica histórica formando as Igrejas Batistas Renovadas, as Igrejas Presbiterianas Renovadas e as Igrejas Metodistas Wesleyanas.

O pastor Enéas Tognini se tornou o líder nacional, exercendo a presidência da CBN por quase duas décadas e hoje ainda é líder de grande expressão entre os batistas nacionais. A CBN abrange todo o território brasileiro, estruturada em 24 Convenções Estaduais, congregando 5.561 igrejas e 1208 congregações, com 291.000 membros (Censo CBN, 2003). Os estados como maior contingente são: Minas Gerais (465 igrejas e 70.000 membros), São Paulo (162 igrejas e 49.700 membros), Rio de Janeiro (180 igrejas e 40.000 membros), Pernambuco (116 igrejas e 25.000 membros) e Bahia (107 igrejas e 30.000 membros)[5].


[1] CBB, ATAS E RELATÓRIOS DA 44ª ASSEMBLÉIA ANUAL, realizada em Curitiba (PR), em Janeiro de 1964, p. 25.
[2] CBB, Livro do Mensageiro, Atas da 46ª Assembléia Anual, realizada em Vitória (ES), em Janeiro de 1964, p. 180.
[3] CBB, Livro do Mensageiro, Atas da 47ª Assembléia, realizada em Niteroi (RJ), em Janeiro de 1965, p. 351.
[4] Raízes de Nossa Fé, Revista de EBD Aleluia 69, 2004, Convenção Batista Nacional.
[5] CBN – Convenção Batista Nacional, site da internet – www2.cbn.org.br

CAPÍTULO IV

A SITUAÇÃO ATUAL.

Os contatos entre os batistas membros de igrejas filiados à Convenção Batista Brasileira e os batistas de igrejas filiadas à Convenção Batista Nacional, depois de alguns anos, começaram a ser feitos de forma tímida e pontual. Todavia, passado mais algum tempo foram evoluindo e se ampliando, havendo os primeiros contatos dentro das reuniões da UBLA – União Batista Latino Americana e da WBA – World Baptist Aliance (Aliança Batista Mundial).
Em 19 de julho de 2001 a Convenção Batista Nacional endereçou à Convenção Batista Brasileira a correspondência com o seguinte teor:
São Paulo, 19 de julho de 2001.[1]

Exmo. Sr.
Rev. Dr Fausto A. Vasconcelos
DD Presidente da CBB

Amado irmão no Senhor
Saudações Cordiais

Após a reunião promovida pela UBLA em Abril de 2000, na PIB de Niterói passamos a sentir que CBB e CBN entraram num novo patamar de amizade e amor.
Estivemos em abril deste ano em Brasília, com nossa liderança reunida para formação de um novo pacto.
Na discussão, num clima de harmonia e de paz, recordamos que há quarenta anos Batistas das duas convenções entraram numa guerra fratricida. Ofendemos e fomos ofendidos. Era guerra e houve muitos feridos. Tudo passou e estamos numa nova primavera. Vocês da CBB são Batistas, nós da CBN somos Batistas, e nos amamos. Embora em setores diferentes, servimos ao Senhor e trabalhamos para o avanço do mesmo Reino. Logo estaremos face a face com Aquele que morreu para que Nele fossemos um.
Pelo que, na guerra deflagrada, pelos ferimentos que causamos aos irmãos, estamos diante de Cruz do Salvador, pedindo que nos perdoem e orando para que o sangue de Jesus nos purifique de todo pecado. Aceitem nosso arrependimento por todo o mal que lhes causamos. Perdoem-nos. Somos irmãos amados e temos a mão no mesmo arado do Senhor da Seara.
Aceitem o nosso coração amigo e fraterno. Pela Convenção Batista Nacional, com amor e admiração, subscreve-se em Cristo,
Enéas Tognini
O Conselho de Planejamento e Coordenação (CPC) da Convenção Batista Brasileira (CBB), após o oração e reflexão, respondeu à correspondência nos seguintes termos:
Rio, 8 de novembro de 2001.[2]

Amado Irmão Pr. Enéas Tognini;

Saudações Cordiais em Jesus Cristo.

Em resposta à carta dirigida ao pr. Fausto Aguiar Vasconcelos, presidente da Convenção Batista Brasileira e do Conselho de Planejamento e Coordenação, desejamos informar que após um período de oração e reflexão, decidimos:

No amor de Cristo, aceitamos o arrependimento dos irmãos conforme os termos de sua carta e estendemos a mão do perdão e da fraternidade em Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. De igual modo, pedimos aos queridos irmãos que perdoem as ofensas que certamente cometemos, enquanto reafirmamos nossos princípios e identidade bíblicos.

Pedimos que o irmãos transmita à Convenção Batista Nacional os termos desta carta e o desejo que manifestamos de que Deus abençoe os amados irmãos.

Pelo Conselho de Planejamento e Coordenação da CBB,

Pr Fausto Aguiar Vasconcelos
Presidente
O Pr Linaldo de Souza Guerra, nordestino, 1º Secretário da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil, obreiro da IB Pilar (PB), em correspondência a‘O Jornal Batista’, expressou sua alegria pelo fato:

Perdão e Restauração. “O quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união”. Louvamos a Deus pela vida dos pastores Enéas, Fausto, Fanini, dentre outros, pela superação de diferenças havidas no passado de nossa denominação e pela forma cristã que o assunto foi resolvido (OJB nº 47, edição de 19 a 25/11/201 – Brasil Batista, pagina 4). Louvado seja Deus.

Linaldo de Souza Guerra, Pastor
1º Secretário da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil[3]

Semelhantemente, o veterano obreiro gaúcho, pastor Helmuth Matschulat, no mesmo periódico, expressou a mesma satisfação:

Perdão e Restauração

Gostei! Como alguém dos poucos mensageiros que votou contra a exclusão das então chamadas “Igrejas da Renovação Espiritual”, louvo a Deus agora pelo perdão e restauração. Gostei das duas cartas agora publicadas em O JORNAL BATISTA nº 47 (edição de 19 a 25/11/201) Deus seja louvado e engrandecido.

Ao mesmo tempo precisamos estar alertas, porque Satanás arqui-inimigo do perdão entre irmãos, não cessará de ainda jogar seus dardos inflamados. Fortaleçamo-nos no Senhor e tão somente no Senhor.

Vai aqui o meu abraço muito fraternal ao pastor Enéas Tognini, que conheci, quando orador oficial da Assembléia da Convenção Batista Brasileira, realizada em Porto Alegre, no ano de 1953, e ao pastor Fausto de Aguiar Vasconcelos, que tive como seminarista, em trabalho de férias, quando estava no pastorado da Igreja Batista da Floresta em Porto Alegre. “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fp 4.4).

Helmuth Matschulat
Pastor da Igreja Batista da Guaratuba, PR.[4]
Hoje passados quarenta anos do Movimento no Estado, a situação serenou, estando as igrejas que compõe a Convenção Batista Nacional filiadas à Aliança Batista Mundial[5] como estiveram, desde a sua fundação as igrejas da Convenção Batista Brasileira.


[1] Lição para os nossos dias. Perdão e Restauração. O Jornal Batista, CI, n.47, 25/11/2001, p.4.
[1] Lição para os nossos dias. Perdão e Restauração. O Jornal Batista, CI, n.47, 25/11/2001, p.4.
[1] Perdão e Restauração. O Jornal Batista, CI, n.48, 02/12/2001, p.3.
[1] Perdão e Restauração. O Jornal Batista, CI, n.50, 16/12/2001, p.3.
[1] CBN – Convenção Batista Nacional, site da internet – www2.cbn.org.br

[2] Lição para os nossos dias. Perdão e Restauração. O Jornal Batista, CI, n.47, 25/11/2001, p.4.
[3] Perdão e Restauração. O Jornal Batista, CI, n.48, 02/12/2001, p.3.
[4] Perdão e Restauração. O Jornal Batista, CI, n.50, 16/12/2001, p.3.
[5] CBN – Convenção Batista Nacional, site da internet – www2.cbn.org.br

FONTE: http://vigiai.net/news.php?readmore=9263

 

Preciso pensar o protestantismo pau-brasil!

Luiz Sayão

Preciso pensar o protestantismo pau-brasil!

Protestantismo do país pentacampeão, pentasecular, pós-pentecostal, perigosamente problemático, praticamente pós-moderno!

Para pensar, em prolegômenos, o protestantismo principiante do principal país português, precisamos proferir palavras propriamente planejadas, previamente preparadas, pesquisando os períodos do protestantismo pau-brasil: partindo-se do pioneiro e principiante, e prosseguindo até o presente e pós-moderno.

Possivelmente poderemos prosseguir pincelando o painel polimorfo protestante!

Podemos prosseguir? Perfeitamente!

O primeiro protestantismo é o principiante, o primogênito.

Primaveril!

Parece-me plácido, progressista, platônico e promissor.

Produziu profusamente pastores, presbíteros, pregadores e professores.

Padeceu perigosamente pelo poder dos padres, pois era protestantismo de persuasão!

Porém, prosseguiu, proclamando a Palavra.

Para os pesquisadores, pendia para a perspectiva pró-saxônica.

Por isso, pasmem!

Perdeu a possibilidade de preconizar uma perspectiva protestante pau-brasil.

Praticou a perigosa polarização, protelando um protestantismo palpavelmente pentacampeão, um protestantismo perfeitamente pau-brasil.

Podemos permanecer perplexos!

Pouco passou para o protestantismo preguiçoso projetar-se.

Perfeito protetor do passado, o protestantismo preguiçoso priorizou a preservação do pretérito!

Progressista e paleozóico, pôs em prisão a profecia!

Pôs-se a prosseguir paulatinamente pelo pavimento pachorrento da postergação.

“Podemos praticar posteriormente”, pensavam.

Para que pressa?

Pianissimamente, premiou os prelúdios e os poslúdios.

Preconizou as prerrogativas de uma prepotência possivelmente putrefata!

Pouco pôde prevalecer, pois permitiu a pluralização parcimoniosa do protestantismo principiante!

Era pouco popular, porém pertencia ao “pequeno povo”.

Ponderado, premeditado, predeterminado, parou!

Praticamente parou!

Parou por que?

Petrificou!

Petrificou para propalar o paternalismo, preservando o personalismo profundamente presente no povo pau-brasil.

Pareceu-me parcialmente paranóico, permeado pelo pavor: pavor de prosseguir, pavor de permutar, pavor de prejudicar o passado!

Puxa!

O protestantismo posterior é o protestantismo pró-pentecostes!

Pôs os preteristas em polvorosa!

Passou a possuir o perfil de protestantismo propagador!

Pareceu prejudicar os plácidos e praticar a preteritoclastia!

Passou a pender para uma perspectiva possivelmente pau-brasil.

Porém, perseguiu o prazer e profetizou a proibição!

Prosseguiu proclamando um protestantismo de Parusia.

Passou a pregar pomposamente!

Porém, passou a possuir a preferência dos pobres.

Pôde pregar e profetizar propriamente para os pobres, os paupérrimos, os piores pervertidos e os pretos preteridos pelos poderosos perversos.

Precipitadamente, preferiu o profeta e preteriu perigosamente o professor!

Possivelmente por isso, passou a pulverizar.

Pulverizou em partículas pequeninas, precipitando-se num perfil pavorosamente perturbador!

Pôs-se a projetar pontífices próprios.

Passou a prognosticar, promover prodígios, perseguir principados e potestades.

Proporcionou e potencializou plenamente o perfil polimorfo do protestantismo presente.

Paralelamente, projetou-se o protestantismo possivelmente pró-proletariado.

Propulsionado por perspectivas políticas, pendeu para um posicionamento predominante em parte do planeta que preconizava a polarização “proletariado-poderosos”.

Posicionamente que pulula!

Pareceu-me prioritariamente político.

Passou a preterir o púlpito, e permutou-o pelo palanque.

O pastor-pregador preferiu passar-se por político-prometedor.

Perderam-se os papéis!

Passaram a praticar a parcialidade, pixando os pecados perversos dos povos poderosos, pisoteando os principais da pirâmide do poder.

Porém, politicamente predeterminados, passaram a prender a Palavra para poupar os perversos que possivelmente protegiam o proletariado e praticavam os próprios pecados dos poderosos.

Pode?

Perdidos, passaram a piscar passionalmente para o pensamento pós-cristão, para os profetas das psicologias prevenidas para com a Palavra e para uma pulverização pós-moderna e perdida do próprio pensamento.

Perderam a perspectiva!

Preteriram o porto da partida.

Procuram o porto promissor, possivelmente perdidos em perspectivas e prazeres passageiros.

Papelão!

Que Papelão!

Prometendo progredir, pretendo pensar no perfil do protestantismo posterior, o protestantismo pós-pentecostal.

Plenamente pós-moderno, é prenhe de problemas perigosíssimos.

É perfeitamente paliativo.

Passou a proporcionar aos pobres a perspectiva dos poderosos: a prata pode preencher e é prioridade.

É o protestantismo do poder, da prosperidade e da psicose. O pastor-profeta passou a possuir o perfil papagueador-promotor.

Passa-se por psicólogo, e péssimo psicólogo!

Pulverizados na perscrutação da Palavra, porém perversamente projetados pela pragmática da prata, preferem preterir e pisar as palavras dos principais pensadores do próprio protestantismo.

Os pós-pentecostais prescrevem práticas parvas e pueris! Proclamam perspectivas perdidas, pisoteando a precisão do pensar!

Preconizam pensamentos paliativos!

Parecem predeterminados a promover o perecimento pleno dos próprios pobres.

Para os pesquisadores, é pretenso protestantismo!

Prostituiu-se!

Perdeu-se em promiscuidade!

Pobre protestantismo!

Pobre protestantismo!

É preciso praticar o pranto!

Paremos com o pessimismo, pois o protestantismo é promissor, pujante e prevalecente.

Precisamos pensar e praticar passionalmente o protestantismo parelhado com a Palavra.

Para podermos prevalecer, precisamos ponderar e prosseguir.

A primeira ponderação é a prioridade da Palavra.

Pressuposto primordial!

Precisamos pesquisar, perquirir e pescrutar a Palavra.

Propulsionados pelo perscrutar persistente da Palavra do Pai poderemos perfeitamente prosseguir.

Os preceitos da Palavra perfazem o próximo passo.

Precisamos praticar os preceitos do Príncipe da Paz.

Palavra e Prática prosseguem em par!

Por fim, penso que precisamos priorizar a prece.

Perscrutar e praticar a palavra prepara o profeta, o pregador, o pastor a proferir palavras para o Pai Perene.

Praticar a prece profetiza o prevalecer perpétuo pelo poder do Pai.


Palavra, Preceito e Prece.

Perfil perpétuo para o povo do Pai Perene e do Príncipe da Paz.

Para sempre permanece a Palavra … (Psalmus 119.89)

Fonte: Revista Enfoque
http://www.batistascuritiba.org.br/precisamos-praticar-o-pranto/

terça-feira, 21 de junho de 2011

NUNCA GANHAREMOS O BRASIL À CRISTO

Li o artigo e achei muito coerente e aberto. Se houvesse pelo ao menos uma pequena parcela de crentes assim nosso país seria muito melhor!



Nelmo.


Jornalista Maurício Zagari expõe seus pontos de vista e tese

NUNCA GANHAREMOS O BRASIL PARA CRISTO

Ouço frequentemente uma conclamação feita nos mais variados recônditos do universo evangélico: Vamos ganhar o Brasil para Cristo!!! Bem, lamento informar, mas nós nunca vamos ganhar o Brasil para Cristo. E antes que você, espantadíssimo com minha falta de fé, me acuse de derrotismo ou mesmo de estar a serviço do mal, deixe-me explicar.
Como não acredito na doutrina da confissão positiva (o hábito antibíblico de “decretar a vitória”, “profetizar a bênção” e “tomar posse pela fé” que, se você não sabe, foi incorporado ao cristianismo a partir de práticas de religiões pagãs da Nova Era – mas essa é outra conversa) nao vejo dolo em fazer essa afirmação, que é fruto de uma observação bíblica, histórica e contextual. E justifico minha posição, apresentando aqui as razões pelas quais não creio que o Brasil será ganho para Cristo:

1. Aspectos biblicos:
A Bíblia nunca promete que nações inteiras se converteriam ao Senhor em nossos dias. Ela fala: “E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (Mt 24.14) mas em momento algum promete que isso resultaria em conversões em nível nacional. Anunciar o Evangelho é uma coisa. Ele resultar em conversões é algo bem diferente. Pelo contrário. Como já abordei no post Louvados e glorificados sejam os números, a Palavra de Deus é clara ao afirmar que a minoria herdaria o Reino dos Céus:

–> “Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram” (Mt 7.13,14).
–> “Alguém lhe perguntou: ‘Senhor, serão poucos os salvos?’. Ele lhes disse: ‘Esforcem-se para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Quando o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês ficarão do lado de fora, batendo e pedindo: ‘Senhor, abre-nos a porta’. ‘Ele, porém, responderá: ‘Não os conheço, nem sei de onde são vocês’. “Então vocês dirão: ‘Comemos e bebemos contigo, e ensinaste em nossas ruas’. “Mas ele responderá: ‘Não os conheço, nem sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês, que praticam o mal!’.”. (Lucas 13.23-27).
–> “Não tenham medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-lhes o Reino” (Lucas 12.32).
–> “Pois muitos são chamados, mas poucos são escolhidos” (Mt 22.14).

Ou seja: não há na Bíblia nenhuma promessa ou sugestão de que haverá multidões de salvos entrando em nível nacional pelos portões do Céu. Não: a salvação é para poucos. Repare que na parábola do semeador (Mt 13) a maioria das sementes não frutifica, apenas uma pequena parte delas germina e dá frutos.
Gostaria eu que fosse diferente. E temos sempre que fazer de tudo e empreender todos os nossos esforços para que o máximo de pessoas receba a mensagem da Salvação. Temos que pregar o Evangelho a toda criatura. Mas no que tange à Biblia não posso afirmar o que ela não afirma só porque me faria sentir melhor. A verdade é o que é.


2. Aspectos históricos.

Fala-se muito de avivamento, de pátrias que foram sacudidas pelo poder do Espírito e que se transformaram em nações cristãs de fato, com milhares de conversões e manifestações inefáveis do poder de Deus. Isso é verdade. Moveres sobrenaturais de Deus levaram alguns países, em períodos determinados da História, a buscar coletivamente uma aproximação maior de Cristo e uma vida de santidade. Foi assim no Primeiro e no Segundo Grande Despertamentos dos séculos 18 e 19, por exemplo. Mas minha pergunta é: como estão essas nações hoje?
A verdade nua e crua? Espiritualmente falidas.
Os Estados Unidos, avivados pela pregação de bastiões como Jonathan Edwards e George Whitefield, são hoje um país cristão não-praticante, pérfido, devasso e sem nenhum tônus espiritual, que fez o que fez no Oriente Médio sob a direção de um presidente supostamente evangélico. Um país onde a Igreja tem aceito a ordenação de bispos cuja orientação sexual em outras épocas jamais seria aceita e que inventou a Teologia da Prosperidade. Um país espiritualmemte e moralmente em bancarrota, que exporta para o mundo filmes, programas de TV e músicas abomináveis pela moral bíblica.
Já a Inglaterra, país que na época de John Wesley se viu renovado espiritualmemte, hoje mal se lembra que há um Cristo. No restante da Europa, encontramos países como Espanha e Portugal, com menos de 1% de cristãos reformados. Nos berços da Reforma Protestante, Alemanha e Suíça, a Igreja evangélica tornou-se uma entidade fantasma, com igrejas vazias e nenhuma influência sobre a vida da sociedade.
E isso falando de nações que estão debaixo de nossos olhos. Se voltarmos alguns séculos no passado encontraremos os países do Oriente Médio com quase toda a população cristã. Você talvez não saiba disso, mas até o século VI d.C. regiões que hoje compõem países como Turquia, Irã, Iraque, Marrocos e Arábia Saudita, atualmente considerados não-alcançados pelo Evangelho, tinham suas populações quase que totalmente cristãs. Até que veio o islamismo e tomou esses países,  transformando-os em nações muçulmanas.
O resumo da ópera é que para se “ganhar uma nação para Cristo” é preciso um milagre. Não só um milagre de  conquista, mas um milagre de preservação. Ou seja: reconquista diária. E milagres são a exceção, não a regra.


3. Aspectos contextuais (atuais)

Este é o ponto principal desta reflexão. Para que se pregue o Evangelho a uma pessoa pecadora, mais do que proclamar a Verdade é preciso viver a Verdade. Se eu sou um homem notoriamente devasso, mentiroso, pérfido e sem caráter, de nada adiantará eu chegar para alguém e pregar o Evangelho. Pois ele dirá “ser cristão é isso aí? Tou fora, fala sério!”. E essa mesma realidade se aplica a uma nação. Para que a Igreja de Jesus evangelize uma nação e a “ganhe para Cristo”, ela tem que dar o exemplo. Isso é imperativo. Mais do que pregar a Verdade, tem que viver a Verdade. E é com muita dor no coração que constato que nós não temos feito isso. Não temos sido exemplo. Compartilho alguns sintomas que me mostram que a Igreja brasileira não está capacitada para ganhar a nação para Cristo:

●  A maior parte da Igreja visível no Brasil de hoje é espiritualmemte flácida e complacente com o pecado: o comportamento visível dos cristãos diante da sociedade não tem sido muito diferente do comportamento dos não-cristãos. Em geral, somos agressivos, arrogantes, vingativos, mentirosos e egocêntricos. Fraudamos impostos, passamos cheques sem fundos, não honramos nossa palavra. Nossos seminaristas colam nas provas. Não cedemos lugar no ônibus para o idoso, fingimos que não vemos o mendigo, jamais emprestamos o ombro a um órfão sequer e muito menos a uma viúva. Articulamos dentro das igrejas para conseguir ocupar cargos de destaque. Usamos a sexualidade de modo tão mundano como qualquer personagem da novela das oito. Nossas conversas são torpes, falamos mal dos outros pelas costas, jogamos irmãos contra irmãos, contamos anedotas pesadas e fazemos piada com a manifestação dos dons do Espírito Santo. E por aí vai. Uma Igreja assim não tem a menor moral de pregar o arrependimento de pecados para o mundo: primeiro ela própria tem de se arrepender.

● O modelo de igreja predominante no Brasil não forma cristãos sólidos. Como afirmou este ano em uma de suas palestras na Conferência da Sepal o Bispo Primaz da Igreja Cristã Nova Vida, Walter McAlister, o modelo de igreja-show não forma discípulos de Cristo. Enquanto formos aos cultos apenas para assistir a algo que se passa num palco e não para participar; enquanto não nos submetermos a um discipulado radical; enquanto não resgatarmos o papel de família de fé das nossas igrejas, nunca conseguiremos formar cristãos minimamente capazes de viver e compartilhar com eficiência sua fé com uma pessoa, que dirá com uma nação.

● O evangélico brasileiro não gosta de ler. Lidos sob o poder e a iluminação de Deus, livros são o alicerce da transformação. Mas nossos jovens preferem videogames, televisão, internet e no máximo inutilidades como a série “Crepúsculo” do que livros essenciais para a formação de um caráter cristão. E sem uma mente bem formada nos tornamos incapazes de pensar uma nação. Quanto mais transformá-la. O poder de Deus age, mas age por intermédio de seres humanos – que precisam ter bagagem intelectual para explicar e transmitir. E ainda lemos muito menos do que deveríamos. E a qualidade do que lemos, em geral, deixa muito a desejar.

● Somos analfabetos bíblicos. Uma pesquisa recente feita entre os líderes de jovens de certa denominação mostrou que menos de 30% deles tinham lido a Bíblia toda. Repare: estamos falando de líderes! Aqueles que deveriam ensinar os outros! Se não lemos, não conhecemos, e se não conhecemos… o que vamos pregar? Nossa teologia é formada a partir daquilo que ouvimos em corinhos, assistimos em péssimos programas evangélicos de TV, lemos em frasezinhas soltas no twitter e em adesivos de automóveis. Mas são poucos os que realmente se dedicam ao estudo sistemático e aprofundado das Escrituras. Então vamos ganhar o Brasil pra Cristo, mas… que Cristo? Se não conhecemos o Cristo segundo as Escrituras o apresentam, que Cristo é esse que estamos pregando? Se não entendemos a Palavra por não conhecê-la, que Palavra é essa que estamos pregando? Sem conhecer a Bíblia não temos absolutamente nada a oferecer em termos espirituais à nação.

● Grande parte da Igreja evangélica brasileira é egocêntrica. Ora por si e pelos seus. Pede bens materiais, emprego, carro e casa própria em suas orações. Quer a cura de suas enfermidades. Mas não se dedica muito a interceder pelo próximo, orar pelo arrependimento dos pecados e buscar sanar os males da sociedade. Não ora pelos pobres. Não estende a mão ao faminto. Não olha para o próximo. Não se devota. Não considera o outro superior a si em honra. E ganhar uma nação para Cristo exige olhar, antes de tudo e antes de si mesmo… para a nação.

● A Igreja está hedonista. Quer prazer. Quer alegria. Quer ser feliz da vida. Quer emoção. Que louvores vazios mas emocionantes. Quer cantores carismáticos, mesmo que pouco espirituais. Quer shows e não momentos de intimidade com Deus. Quer se sentir bem. Quer cultos que atendam às suas necessidades. Quer pregações que a faça sorrir. Quer enriquecer e ter uma vida abastada. Só que antes de ganhar uma nação para Cristo temos que chorar muito, nos humilhar, esquecer o que nos faz bem e buscar o que faz bem à nação. E orar. Orar! A Igreja hoje celebra muito, canta muito… mas ora de forma mirrada, esquelética. Só que pouca oração e muita celebração não farão nação alguma se converter. Se ganharmos o país para esse modelo de cristianismo o que faremos é transformar o Brasil numa grande rave gospel, com festa atrás de festa, celebração após celebração e pouca ou quase nenhuma vida íntima com Cristo.

● Grande parte da Igreja tem pregado um evangelho mentiroso.  O que se tem divulgado é um Jesus fictício, complacente, eternamente alegre e exultante, que nos garante “plenitude de alegria, todo dia”. Mas o Cristo de verdade quer que tomemos nossa cruz para segui-lo. Que morramos para nós mesmos. Que deixemos pai e mãe para ir após Ele. Mas a nação não quer fazer nada disso. E para ganhar a nação para Cristo ela tem que saber que terá de abrir mão de muita coisa, de esvaziar-se de suas vontades e desejos e seguir um caminho de renúncia e muitas vezes de sofrimento. Ganhar a nação para Cristo significa propor a ela: tome sua Cruz e siga-me. Arrependa-se de seus pecados, abra mão de seu eu e mude de vida. Honestamente: é isso que temos pregado?

● A Igreja está dividida. A Palavra nos diz que “Se um reino estiver dividido contra si mesmo, não poderá subsistir” (Mc 3.24). Mas deixamos nossas paixões denominacionais suplantarem a unidade. Nós, pentecostais, fazemos piada com os tradicionais. Os tradicionais ridicularizam os pentecostais.  Todos menosprezamos os neopentecostais. Nos tornamos “anti” qualquer coisa que não sejamos nós mesmos. Nas tentativas de unir a Igreja perde-se tempo com discussões inócuas e vaidosas. Esquartejamos o Corpo de Cristo. E ainda assim queremos acrescentar uma nação inteira a esse Corpo? Como? Se não depusermos as hostilidades e buscarmos a unidade – verdadeira e sincera – uma nação ganha para Cristo sob esses moldes de igreja desunida seria um grande frankenstein.

● Nossas motivações são equivocadas. Queremos ganhar o Brasil pra Cristo não por amor às almas perdidas, mas sim para garantir nosso galardão no céu ou para finalmente fazermos parte do clube que representa a maioria e não a minoria. Queremos é estar por cima. Falta-nos, mais do que amor pelo Brasil, amor por cada brasileiro.

● Estamos tentando avançar na sociedade utilizando cargos políticos e legislações. Queremos ganhar o Brasil não para Cristo, mas para projetos de poder mascarados de cristianismo. E isso elegendo políticos supostamente comprometido com o Evangelho, fazendo marchas e protestos, usando de politicagens e chantagens políticas e organizando lobby no Planalto. E nada disso são armas espirituais. Nada disso nunca vai, de modo algum, glorificar o Senhor. Apenas cumprirá uma agenda política e nada mais.
Haveria muitos outros problemas que poderíamos desenvolver aqui, mas não quero me alongar mais. Não quero parecer um profeta do apocalipse, pintando um cenário pessimista. Minha intenção não é essa. Mas me atreveria a perguntar: será que os problemas que apontei acima são fruto da minha imaginação ou você consegue enxergá-los ao seu redor? Alguns poderiam dizer que o que escrevi não é nada edificante, mas… Há algo mais edificante que reconhecer nossos pecados para que possamos refletir sobre eles, arrepender-nos e consertar os erros? Não é isso que significa edificar? Construir? E, se preciso for, reconstruir? Parar de varrer a sujeira para baixo do tapete e acertar as coisas?

Há focos de resistência. Pequenos grupos que buscam viver uma espiritualidade real, profunda, desinteressada. Mas são grupos desconhecidos, pequenas igrejas escondidas, pastores que pregam para poucos e que proclamam o Evangelho como ele é, sem o desejo de agradar mais ao homem que a Deus. Cristãos que se abraçam e se amam de modo entregue e que se devotam à causa de Cristo e ao próximo. Esses são o remanescente fiel. São o último alento. Mas estão longe das câmeras de TV, das grandes gravadoras, dos eventos faraônicos, reunidos em silêncio, buscando a face de Deus sem fazer balbúrdia, sob as sombras do bem-aventurado anonimato. Eles são a semente da minha esperança.
Acredite: eu gostaria de que o Brasil fosse ganho para Cristo. Gostaria imensamente. Gostaria de viver numa pátria onde o Evangelho ditasse o procedimento das pessoas. Gostaria de poder afirmar: “Feliz é a minha nação, pois seu Deus é o Senhor”. Mas o que vejo ao meu redor não me permite fingir que está tudo bem. Não está. A Igreja de Cristo precisa se repensar e se acertar antes de empreender projetos de conquista. E isso urgentemente. Um exército desorganizado, desunido e despreparado não conquistaria nem um vilarejo, quanto mais uma nação.

Precisamos de um milagre. É caso de vida ou morte. E morte eterna. Precisamos nos arrepender dos caminhos pop e egoístas que estamos trilhando. Precisamos voltar a orar com um coração generoso. Precisamos nos humilhar. Precisamos clamar por misericórdia. Precisamos parar de tentar vencer o mundo no peito e na raça e tentar vencer, antes de qualquer outra coisa, nossas próprias concupiscências com o rosto no pó e os joelhos calejados. Essa luta não se vence com gritos, protestos, marchas, lobbies políticos e partidarismos, mas com lágrimas. Até caírem as escamas de nossos olhos e enxergarmos a dimensão espiritual que existe por trás da cortina da matéria continuaremos agindo como o servo de Eliseu, que não via o exército celestial do lado de fora de sua casa e desejava agir segundo os métodos do mundo e não os do Espírito.
Até lá, antes de pensarmos em ganhar o Brasil para Cristo, deveríamos nos preocupar em ganhar a nós mesmos para Ele. E isso diariamente. Pois é mediante a  transformação pessoal, de um a um, alma a alma, no campo do micro, que alcançaremos o macro. Caráter. Espiritualidade. Intimidade com Deus. Estudo aprofundado das Escrituras. Leitura de autores sérios. Menos exultações e mais contrição. Amor ao próximo de fato, comprovado em atos. Sem atitudes como essas, ganhar a nação para Cristo é um sonho distante. E, honestamente, impossível.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Fonte: http://apenas1.wordpress.com/ 
Via: Creio.com

quinta-feira, 9 de junho de 2011